terça-feira, 18 de abril de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte - 49

 


Continuando...

          Tinha uma estrela em especial, que não sabia o nome, onde parava por mais tempo os seus olhos. Na verdade, ele não sabia o nome de astro nenhum. Ou melhor, quase nenhum, porque a lua ele sabia. Mas também isso não era vantagem nenhuma, porque todo mundo sabia que o nome do nosso satélite era Lua. Isso deixava-o um pouco abatido. – Tinha outro - lembrou-se – o meteoro. Entretanto não sabia se era um só ou se tinha mais. Como olhava para o céu todas as noites, sempre via um riscando a imensidão. Quando começou a vê-los ele perguntou ao comprador de suas garimpagens. Foi quando ficou sabendo que era um meteoro. Ficou satisfeito, mas queria saber mais. O céu era a sua paixão. Jurou que um dia ia saber o nome de cada estrela que piscava por todo o firmamento.

           De repente voltou à realidade, quando a mão do sargento pousou no seu ombro. Virou-se para saber o que era, quando encontrou um dedo de Téo no meio dos lábios pedindo silêncio. Levantou-se com cuidado, para evitar qualquer tipo de ruído. Pegou a sua arma, que tinha tirado dos bandidos ou terroristas, não sabia mais, e apoiou em cima de um monte de tijolos e pedras, com um pouco mais de um metro de altura. Depois se aproximou da orelha do sargento e perguntou baixinho:

          - Viu alguma coisa, sargento?

          - Ainda não. Eu sei que estão lá, mas não consigo vê-los. Tive a sensação de ouvir movimentos.

          Mohammed olhou para o sargento, torceu a boca e voltou a falar no seu ouvido:

          - Sargento, porque o senhor não usa o binóculo?

          Téo olhou para o menino, coçou a cabeça, disse alguma coisa tão baixa que, pelo jeito, nem ele mesmo ouviu o palavrão que dissera. Mohammed não entendeu, mas deduziu, pela sua expressão, que ele não fazia qualquer tipo de oração. Num esforço sobre humano, engoliu o riso que quase veio à tona. O sargento pegou o binóculo e começou a invadir a escuridão. No primeiro ponto que parou, encontrou um guerrilheiro que engatinhava, carregando uma metralhadora e uma mochila. Pelo volume que apresentava, devia estar cheia de granadas e muita munição para recarregar a arma. Depois mirou o binóculo para o outro lado da rua. Nesse instante viu quando outro terrorista preparava uma bazuca. Não pensou duas vezes, pegou Mohammed pelo braço e saiu em disparada, puxando-o até que não estivessem mais na mira da arma. Quase aos tropeços, ziguezaguearam pelos escombros a procura de um local que pudessem se esconder. Sem conhecer o terreno, ainda mais no escuro, Téo sabia que não seria fácil achar um bom abrigo. Mas pelo menos já tinham conseguido sair da direção da arma. No momento, gerou um grande alívio para os dois. Entretanto isso não era suficiente para livrá-los do perigo. O tiro ainda não tinha sido disparado, logo o movimento deles podia estar sendo monitorado. E Téo sabia disso. Era só calcular a distância entre eles e o terrorista. Então – engoliu em seco - o atirador poderia esperar o momento certo e acabar com eles.

           Quem usava o binóculo noturno, podia estar acompanhando a rota de fuga dos dois, e passar a informação para o companheiro. Mas o sargento queria que essa hipótese não existisse. Numa prece muda, pedia a Deus para livrá-lo desse momento perigoso, que poderia acabar com a sua vida e a do menino.  E pelo jeito Deus ouviu-o mais uma vez, porque naquele momento um clarão atravessou a escuridão e uma bomba explodiu no lugar de onde tinham saído. O tiro foi tão preciso que caiu exatamente em cima do monte de pedras e tijolos, estilhaçando-os e lançando-os para todos os lados. Téo e Mohammed se protegiam do jeito que podiam da chuva de restos das ruínas. O entulho levou alguns segundos para cair, mas para os dois, pareceu uma eternidade.

            O magricela acordou apavorado com a explosão. Não tinha certeza, mas a sensação que tivera foi de que o impacto o tirara do chão, jogando-o para o alto. Não sabe como, mas caiu em pé. Depois do susto, foi olhar o amigo John, que pelo jeito não percebera nada do que estava acontecendo, continuando a roncar num ritmo normal. Já o menino Rachid já estava a postos, próximo à escada, mas na dúvida se deveria ou não subir. 

              Peter depois de olhar o amigo por alguns segundos, colocou a mão na sua testa, para conferir se estava com febre. Ficou contente em constatar que John não estava febril e que apenas dormia profundamente, talvez por causa do cansaço, da prostração depois de uma febre prolongada... Não sabia o porquê, mas concluiu que não era hora para tais indagações. Deixou o amigo onde estava e foi ao encontro do menino. Ao se aproximar é que se lembrou do sargento. Ficou intrigado ao não encontrar Téo. Então procurou saber de Rachid:

          - Ei menino. Você sabe aonde foi o sargento?

          Rachid olhou para o saldado e não falou nada, porque não entendeu o que ele disse . Apenas levantou os ombros, espalmou as mãos e fez um bico com os lábios. Peter perguntou novamente, mas não obteve resposta alguma. Então percebeu que o menino não tinha entendido o que ele tinha falado. Aí foi pela linguagem dos gestos. Com muito esforço conseguiu passar alguma coisa para ser entendido. Mas só teve certeza mesmo quando Rachid balançou a cabeça negando.

   

........Continua Semana que vem!!

 

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