terça-feira, 4 de abril de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 47

 


Continuando...

          Um lampejo de um passado longínquo pousou nas suas lembranças.  Viu-se abrindo os olhos no colo do pai, que o trazia bem apertado ao coração. Lembrou-se que tinha subido numa árvore e que de lá despencara. O tempo que ficou desacordado nunca conseguiu trazer à tona da sua memória. Mas os olhos do pai transbordando de preocupação e amor ele jamais esqueceu. Naquele momento ele sentiu uma emoção como que Mohammed fosse o seu filho. E no momento que ele parou na entrada do porão e pousou seus olhos no rosto do menino, Mohammed também abriu os seus olhos. Sem que percebesse um fio de lágrima desceu pelo seu rosto. Mohammed sorriu e falou:

          - Pode me botar no chão, sargento, soldado não chora.

          - E quem está chorando? – retrucou Téo. E imediatamente colocou-o de pé.

         Em seguida se arriou e puxou o tampo que cobria a entrada do porão. Mas antes que entrasse uma das mãos de Mohammed pousou no seu ombro. Ele olhou para cima e encontrou um rosto tranquilo a fita-lo. Sorriu levemente. Mohammed sorriu de volta, mas com os olhos úmidos, e falou:

          - Sargento, o senhor me salvou. Sou grato para o resto da vida. A minha vida de agora em diante estará sempre atrelada ao seu comando. Mohammed é uma pessoa que cultua a gratidão. Essa é a minha religião.

         - Obrigado, mas não precisa... Você também me salvou antes, esqueceu?

         - Salvei as nossas vidas. É diferente. O senhor salvou a minha.

         - Então estamos quites, Mohammed.

         - Mohammed não pensa assim: gratidão é gratidão. É para sempre.

         Téo não tentou argumentar mais com o menino. Chegou a colocar um pé na escada para descer, mas de repente retrocedeu e chamou pelo garoto, que já tinha descido, para ajudá-lo a arrastar uma pedra e colocar em cima da portinhola. Era uma pedra pesada e com um tamanho suficiente para cobrir toda a entrada. Mohammed não entendeu, mas não fez nenhuma pergunta, saiu e ajudou-o com a empreitada, arrastando a pedra para cima da tampa. Depois o sargento mandou-o segui-lo. Mas naquele momento já o puxava pela mão e se afastava dali.

          Deram uma volta até chegar próximo de onde estavam os corpos dos dois homens. Depois de devidamente escondidos é que o menino questionou o sargento:

          - O que foi que houve, sargento? Não entendi.

          - Ouvi alguma coisa. Não sei bem o que foi. Na dúvida desisti de descer. Alguém soprou no meu ouvido que o perigo está próximo. De alguma forma eles descobriram a gente aqui. Não sei como. Alguém nos traiu.

          - Fomos traídos, sargento? Como, se estávamos todos juntos?

          - Você não sabe de nada, Mohammed?

          - Como eu saberia, se o senhor não se desgrudou de mim nem por um segundo? O que o senhor sabe é o que eu sei.

          Téo olhou para ele com um olhar de quem duvidava da sua justificativa. No fundo achava que ele não era o traidor, mas podia estar protegendo o outro menino. Mas por outro lado, o amigo de Mohammed esteve a todo tempo debaixo dos seus olhos e do dos seus amigos, além de tê-los salvados. Alguma coisa não batia. Como os terroristas vieram no lugar onde estavam escondidos? Os seus amigos, em hipótese alguma, seriam os traidores. Quem então? O sargento estava incomodado com aquilo. Ia ter que dar uma prensa em Mohammed e Rachid. Olhou na cara do menino e interrogou-o:

        - Mohammed, ou foi você ou o seu amigo. Não existe outra opção. Depois que resolvermos aqui em cima, o que eu ainda não sei o que é, vamos descer e conversar seriamente. Você tem certeza que não sabe de nada? Conta logo.

       Por alguns segundos Mohammed ficou pensativo. Estava estudando o que responder para o sargento. O que ele escutou os homens falando ainda estava rodando na sua cabeça. Não queria acreditar que Rachid fosse o traidor. Era um amigo fiel, totalmente confiável. Mas tinha que dizer alguma coisa para o sargento, então colocou a mão no braço de Téo, se aproximou um pouco mais e, procurando falar baixinho, disse:

       - Sargento... – fez uma pausa e depois continuou – eu ia falar com o senhor...

      - Então foi você? – interrompeu-o bruscamente.

      - Não sargento! Não fui eu! Eu ia falar outra coisa! Antes de acabar com o bandido, eu escutei a conversa dos dois.

      - O que é que eles diziam?

      - Um deles disse que o lugar era esse aqui. Que a informação estava precisa. Que iam jogar granadas dentro do porão. E que só estava esperando a chegada de um amigo de nome Kalled. E que a missão só poderia ser concluída com a chegada dele. Só isso que ouvi.

.........Continua Semana que vem!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário