terça-feira, 11 de abril de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 48

 


Continuando...

        O sargento torceu a boca, coçou a cabeça, parecia que não estava acreditando muito naquele papo do menino. Ficou um tempo com os olhos e pensamentos mergulhados na escuridão. Mohammed não tirava os olhos de cima de Téo, esperando o que ele ia questionar. Pelas feições do sargento, sentiu que o seu relatório não era muito convincente, mas estava preparado para acrescentar mais alguma coisa, caso realmente fosse preciso. Não mentira, isso era certo. Apenas omitira uma parte, pois não poderia colocar em risco a vida do amigo.

        O silêncio entre eles continuou abraçado à noite. O tempo não foi longo, mas pareceu uma eternidade. Era visível que o sargento estava incomodado. Ameaçou questionar a justificativa do garoto, mas abortou na primeira palavra: você. Pois nesse momento um som chegava até ao seu ouvido. Imediatamente colocou um dedo cruzando os lábios, pedindo silêncio ao menino. Em seguida colocou a mão na orelha e apontou na direção da rua, ou que sobrara dela. Mohammed olhou para onde o sargento apontava e concentrou-se tentando captar algum som também.

          Sombras deslizavam no meio da escuridão. Téo não via, mas sentia a aproximação de algumas pessoas. - Seria Kalled, com o seu bando? – perguntou-se. Mesmo com a claridade da lua, as chances de identificar a quantidade de homens que deslizavam entre pedras e tijolos era ínfima. Olhou para a sua metralhadora e percebeu que só com aquela arma estava em total desvantagem. Arrependeu-se de não chamar o soldado Peter. Tivera chance, mas jogara pela janela. Naquele momento que abriram a portinhola ele devia ainda estar dormindo, senão, com certeza, ele o chamaria. O magricela seria de grande ajuda. Agora “Inês é morta.”

           Mohammed olhou para o sargento e adivinhou o que ele estava pensando. Não falou nada, apenas se jogou no chão e saiu rastejando na direção de onde estavam os dois bandidos mortos. Ele foi tão rápido que o sargento não teve tempo de fazer nada, apenas deu um sorriso morno. Não podia gritar pelo menino, senão seria descoberto pelos bandidos. O único jeito era esperar. O que ele fora realmente fazer, Téo não sabia. Só tinha palpite: ele ter ido buscar as armas dos homens mortos.

           O tempo se alongava. Téo não tirava os olhos da direção da rua, onde estavam os milicianos. Mohammed estava demorando, então a dúvida bateu na sua cabeça:

          - Será que o traidor era ele? Aproveitou para fugir? Foi se encontrar com os terroristas?

          Enquanto o sargento enchia a cabeça de interrogações, Mohammed voltava, trazendo as armas, munições e granadas dos dois homens mortos. Parecia que tinha engordado alguns quilos, tamanho era o volume do ventre. Mal chegou, já foi metendo a mão dentro da roupa e retirando as granadas e alguns revólveres. Duas metralhadoras, trazia penduradas nos ombros. Téo estava impressionado com tanta destreza do menino. A sua cabeça não parava de questionar o preparo que ele tinha. Deu um sorriso quando pensou que ele pudesse não ser humano. – Humano ele era, só que pode ter sido cria de um treinamento rigoroso. Por quem? Essa era a questão. – mastigava os pensamentos, com um sorriso de canto de boca.

          Mohammed não deixou de perceber aquele sorriso enigmático.

          - Qual a causa do riso, sargento? – perguntou sério – O momento está mais para choro e o senhor deixar escapar um sorriso! Não entendi. Se o senhor se lembrou de alguma piada, conta para mim.

          - Que piada o quê, Mohammed! – respondeu Téo franzindo o cenho.

          O menino preferiu não bater boca e mudou o rumo da prosa.

          - Sargento, o que é que a gente faz agora?

          - Esperar. Esperar. – respondeu secamente - É o que nos resta, além de rezar.

          O menino olhou para Téo com um olhar tristonho. Depois encostou as costas na parede e dirigiu um olhar para o céu. - Lá está a minha paz. – pensou melancólico.

          Toda vez que ficava viajando de uma estrela para outra, sentia uma saudade danada e os seus olhos se enchiam de lágrimas. – Saudade de quê? – se perguntava sempre. Queria descobrir a causa de tanta tristeza, mas não tinha certeza se um dia poderia descobrir. 

........Continua na Semana que vem!

 

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