terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 31

 


 Continuando...

            Aquele esconderijo, que chamavam de segundo, fora descoberto por um acaso, como fora o primeiro. Garimpavam como sempre faziam. Rachid encontrou uma peça de alumínio, mas só que estava debaixo de um pedaço de parede. Tentou sozinho erguê-la, só que não conseguiu. Então pediu a ajuda do amigo Mohammed, que prontamente atendeu-o. Ergueram então a parede e, para surpresa deles, encontraram uma tampa feita em madeira, que desconheciam, presa por um cadeado. Conseguiram abri-lo sem muita dificuldade. Então levantaram a tampa cuidadosamente, pois não sabiam o que poderiam encontrar. Mas surgiu apenas um buraco completamente mergulhado na escuridão. Ficaram mirando sem saber o que fazer. Mohammed então abriu a sua mochila e retirou um pequeno lampião, acendeu-o e entregou-o a Rachid, que imediatamente enfiou-o no buraco. Instantaneamente surgiu à frente uma escada feita também com a mesma madeira da tampa, que devia valer uma fortuna. Rachid então se afastou da entrada e indicou a escada para Mohammed, que normalmente era o mais corajoso do grupo, para que descesse. Ele então, sem questionar, pegou o lampião e foi descendo os degraus, seguido do amigo. Lá embaixo era assustador. Com tanta coisa velha e quebrada, parecia que ali tinha havido um confronto entre os talibãs e as forças da OTAN. Ele se sentiu debaixo do próprio escombro. Mas como ele era uma pessoa que não desistia de nada, falou para o amigo:

           - Rachid, vamos ter muito trabalho pela frente, mas vamos limpar isso tudo e expulsar os antigos moradores daqui.

           - Quem está morando aí, Mohammed?

           - Você quer saber mesmo?

           - Claro amigo.

           - Amigo Rachid, é um bando de ratos. Desce mais um pouco para você vê-los passeando aqui embaixo. Eles são os donos da casa.

          - Eu vi e não gostei. Como é que a gente vai se livrar deles?

          - Vamos botar fogo. Ou arranjar um gato e botar ele aqui dentro.

          - Um gato? Coitado, Mohammed! Ele vai ser morto, pelas ratazanas, logo que entrar! Têm que ser uma porção! Vamos arranjar alguns, mas se encontrarmos, porque do jeito que a fome se espalha, come-se todos que são encontrados. Estou brincando. Quem vai comer rato?

          - Então vamos botar fogo.

          - Mas pode chamar a atenção. A segunda opção é a melhor, mesmo que a gente demore um pouco mais. Nós já temos o nosso esconderijo. Aqui só vai ser para mais uma opção.

          Outro amigo, de nome Murt, interviu na conversa. Algum tempo observava Mohammed e Rachid discorrer sobre a solução adequada para eliminar os ratos. Ele estava indócil até que não aquentando falou:

          - Puxa! Vocês estão aí, falando, falando e não chegam a nenhum lugar! Só que a solução é muito simples!

          - E qual é solução, Murt? – perguntou Mohammed.

          - Vocês não passaram o que eu passei. Então não sabem como resolver um probleminha de nada. É só...

          - Probleminha de nada? – interrompeu Rachid.

          - Vou continuar... É uma coisa fácil de resolver. Sabe como? Vou responder: a gente come todos eles.

         - Que nojeira, Murt! Mohammed você não acha isso um nojo só?

         - Eu acho. Mas...

         - Mas o quê?

         - Eu já vi gente...

         - Fala aí, Murt. Que é nojento é. Diz pra ele como se resolve.

         - Tá bom. Mas não vai vomitar, hein Rachid!

         - E eu vomito à toa?

         - Então tá. É simples: a gente pega eles, tira as tripas, faz uma fogueira e assa todos eles.

         - Alá! Isso é nojento e eu... – engoliu em seco – vou vomitar. Estou passando mal, Mohammed. 

.............Continua Semana que vem!!

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