terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 30

 


Continuando...

            O sargento Téo explicou-lhe tintim por tintim o porquê de ele estar ali. Falou da febre alta, ocasionada pela infecção no ombro, e que isso impediu que o levassem para a base, devido à distância dali até lá ser muito longa. Tudo isso por um único motivo: não terem um antitérmico para baixar a febre.

            - Mas sargento – interrompeu-o o soldado – na mochila de Apache não tinha o medicamento?

            - Ele deveria estar lá, John, só que não o encontramos. Deve ter caído.  Então, com a sua febre já ter passado dos quarenta, o socorro tinha que ser rápido. Foi aí que entrou o menino Mohammed: ele ofereceu, com o acordo do seu amigo, o esconderijo deles e o medicamento. Além disso, estávamos correndo risco de vida.

           - Mas como assim? Risco de vida?

           - Sim. Você não sabe nada do que aconteceu, porque você passou a maior parte do tempo delirando. Nós acabamos com o ninho dos bandidos. Matamos até um chefe – esse é que foi o problema – com a ajuda de Mohammed. Se não fosse ele, talvez não estivéssemos aqui agora.

           - Vocês então mataram um chefe dos terroristas? Puxa! E eu nem participei desse evento! Já pensou?  Eu matando um chefe! Ia ter história para contar! Mas o senhor falou que foi um problema. Que problema?

         - É isso. Essa foi mais uma causa de virmos para cá. Eles já devem saber o que aconteceu, então vão vir com tudo para cima da gente. Com certeza avisaram que éramos apenas quatro. Era um chefe da milícia.

         - Milícia? Sargento, mas como conseguimos sair de lá?

         - Temos que agradecer a Mohammed e ao amigo dele, Rachid. Ele principalmente, porque jogou duas bombas de gás lacrimogênio e nos deu chance de sair da linha de fogo inimiga.

         - Sargento, ninguém avisou à nossa base? Eles tinham rádio e nós também.

         - Só que o nosso rádio foi atingido, ficando completamente inutilizado. Não cabia nenhum conserto. Por isso estamos ao Deus dará.

           O soldado grandalhão, com a mão que não doía, coçou a cabeça num gesto claro de que estava pensativo. Procurava naquele vazio da cabeça, algum pedacinho de lembrança.  Mas a única lembrança, que ainda estava viva, era o instante que foi alvejado no ombro. Deve ter sido a dor aguda que sentiu e que ficou registrada. De resto, não se lembrava de mais nada.

          Olhava tudo sem se dar conta em que buraco tinham lhe metido.  Mas já que estava com os amigos, estava bom. E o mais importante é que fora medicado e que naquele momento estava se sentindo bem. Bom, ele sabia que ainda não estava fora de perigo, entretanto confiava na sua força. Sempre teve uma saúde de ferro e não seria aquela bala, mesmo ainda cravada no ombro, que iria derrubá-lo. Já tomara o antitérmico e o antibiótico. Acreditava que eles o manteriam vivo até chegar à base e lá extrair o projétil.  

           Ali era um local que não tinha o mínimo de conforto, mas Mohammed e seus amigos trouxeram alguns utensílios que, pelo menos, fez com que aquele buraco se transformasse num local – no mínimo – habitável.  Era o único lugar que ficara intacto, pois os bombardeios quase transformaram em pó toda a construção. Milagrosamente umas poucas paredes resistiram às bombas e permaneceram em pé.

  ...........Continua Semana que vem!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário