terça-feira, 20 de setembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 19

 


Continuando...

            Dessa vez John, com algum sacrifício, e Téo conseguiram responder com uma saraivada de tiros. Atiraram bastante, mas sem saber realmente onde estavam atirando. Eram tiros sem convicção, onde o alvo podia ser ou não atingido. Depois de alguns minutos, Téo mandou suspender os tiros. Então o silêncio voltou a reinar naquele pedaço de rua.

            O menino, que esteve bastante tempo calado, falou para Téo:

            - Sargento.

            - O que foi Mohammed?

            - Olha a sua direita, lá do outro lado da rua.

            - O que tem lá?

            - Olha lá, acho que é a nossa salvação.

            - É um menino.

            - É meu amigo. Avisa aos seus soldados para ficarem atentos. Rachid é muito esperto. Com certeza ele vai arranjar um jeito de tirar a gente daqui.

            - Mas como, Mohammed?

            - Vou sinalizar para ele.  Nós dois nos entendemos muito bem por sinais. Olha só.

            Imediatamente começou a gesticular, mas de uma forma que o sargento não conseguiu decifrar. Percebendo a cara de decepção de Téo, Mohammed sorriu e continuou gesticulando estranhamente. Em poucos segundos o amigo, também com movimentos esquisitos, respondeu. Depois se arriou e meteu as mãos dentro de uma mochila velha e sem cor definida. Mexeu um pouco no seu interior e quando levantou as mãos, já trazia dois objetos, que o sargento não identificou, talvez pela distância. Balançou-os no ar e, em seguida, fez alguns sinais para Mohammed, que sorriu e imediatamente falou para o sargento:

             - Sargento. Fala para o seu pessoal se preparar para correr. Rachid vai jogar nos escombros duas bombas de gás lacrimogêneo. Olha lá. Ele já está chegando próximo de onde estão os homens tocaiados.

             - São Talibãs. Terroristas.

             - Sargento, porque o senhor chama-os de terroristas?

             - E não são?

             - Quem está invadindo o país deles, são vocês. São grupos brigando pelo que acreditam... Mas são todos Afegãos. Também podem ser apenas bandidos. Sem nenhuma ideologia. E vocês não têm nada com isso. 

             - Temos sim. Nos pediram ajuda e aqui estamos. Não esqueça que tem também combatentes da Al-Qaeda.

             - Aí eu não sei, sargento. – deu um sorriso enigmático - Eu só sei que tem gente lá dentro dos escombros para nos pegar. E lutam com as armas que têm. Avisa aos seus amigos.

            Téo então avisou aos seus dois soldados que se preparassem para fugir dali. No momento certo daria o sinal. O tempo seria curto, então era levantar e correr o mais rápido que pudessem. E era só ir nos seus calcanhares. Os dois sinalizaram com o polegar, dando ok, mostrando que tinham entendido o recado.

             Do outro lado da rua, o menino Rachid, depois de deixar a sua mochila encostada em um muro, foi quase rastejando até onde estavam escondidos os guerrilheiros ou bandidos. A atenção dos soldados e de Mohammed era total, nos seus movimentos. Ele então preparou a primeira bomba de gás lacrimogêneo e atirou. Rapidamente uma fumaça branca tomou conta da frente dos escombros. Um falatório foi ouvido imediatamente, pelo menino. Percebeu então que os guerrilheiros estavam desorientados. Sem perda de tempo, lançou outra bomba com mais força, afim de alcançar mais o interior da ruina. Após o segundo lançamento, correu em direção à ruela de onde tinha saído minutos antes, lá já encontrando o amigo Mohammed e os três soldados, que vieram – parecia – voando.

...........Continua Semana que vem!

 

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