terça-feira, 13 de setembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 18

 


Continuando...

            A comida começou a entrar com fartura. Minha mãe era uma alegria só, e o meu pai até melhorou, e os irmãos, não precisa nem falar. Só a minha consciência é que não melhorava. Eu me encontrava numa encruzilhada: entregava a bolsa e estava sujeito a ir preso ou não entregava e continuava com a minha consciência pesada. Decidi ficar com a segunda opção. Mas pensando bem, não tinha mais nenhuma alternativa: a bolsa já estava com um déficit enorme. Concluí então que era melhor deixar quieto. O que fazer, se não tinha condição de repor o dinheiro?

            Pouco antes de entrar para o exército, - acho que foi nesse dia que decidi me alistar – levantei cedo, abri a janela, o sol já tinha se levantado primeiro, e o dia me olhou na cara. Ele me via por inteiro, e a sensação que tive, era que me cobrava pelo o que eu tinha feito de errado anos atrás. E o pior é que eu não conseguia encará-lo, só sentia a sua acusação muda, e ele, mais uma vez, não me deu chance de defesa. – Deus, o Senhor continua me ouvindo? O senhor me perdoa? ”

            - John! Você está bem?

            - É Deus? Eu fui perdoado?

            - Perdoado do quê, John? Sou eu, o Sargento!

            - Ih! Sargento! Eu pensei... Deixa pra lá! Estou bem. Estou bem. Pelo menos por enquanto. Mas acho que vai ser difícil a gente ficar bem por muito mais tempo.

            - Ainda tenho esperança. Nós vamos sair dessa. Vamos nos arrastar com cautela até ficarmos mais distante da linha de tiro. Vem para o meu lado.

           - Será que vai dar certo? O Peter está depois de Apache senhor, mas acho que não está ferido. Vou falar com ele. Não sei se ele vai conseguir. Têm muitos cadáveres entre ele e a gente. Acredito se estiver bem, vai conseguir.

          - Ok. E o seu ombro, melhorou?

          - Sim. A dor sossegou. Estou me sentindo um pouco melhor. Parece milagre. Sargento, indo na direção do senhor, não vou precisar forçar o ombro ferido.

          - Ok soldado. Fala com Peter.

         John então falou com o amigo, mas Peter demorou a responder ao seu chamado.

          - Oi John. O que houve?

          - Tá surdo? O sargento falou pra gente se arrastar até onde ele está.

          - Como? Se tentarmos sair daqui, vamos ser fuzilados!

          - Não temos opção. Ou saímos e tentamos sobreviver, ou vamos morrer juntos com esses defuntos. Vamos feder igual a eles. Eu vou tentar. Tenho que tomar remédio para combater a infecção do meu ferimento. Mesmo sentindo dor, vou tentar sair daqui.

           Peter levantou o rosto e olhou para John. Mesmo não estando de acordo com ele e com a ordem do sargento, levantou o seu polegar da mão direita, concordando. Pegou a arma, engatilhou-a e tentou rolar por cima de um cadáver. Mas mal começou a se movimentar, uma chuva de balas veio em sua direção. Uma das balas conseguiu pegá-lo de raspão no braço esquerdo, arrancando um pedaço de tecido da farda e deixando uma linha de sangue. Peter na mesma hora deu uma cusparada na mão e esfregou o cuspe no local ferido.

.........Continua Semana que vem!

 

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