terça-feira, 6 de setembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 17

 


Continuando...

             Depois ele correu, disse que ficou arrependido, para ver se o menino ainda estava vivo. Desvirou-o e viu que ele estava abraçado a um saco. Achando que o dinheiro estava ali, pegou-o e abriu-o. E qual não foi a sua surpresa: dentro tinha apenas uma bíblia, que o menino acabara de pegar na gaveta.

            - E a bolsa com dinheiro? – perguntou, demonstrando pura curiosidade, a senhora.

            - Walter disse que não estava em poder do menino. Procurou-a pela igreja, mas não a encontrou em lugar nenhum.

            Deixei o casal conversando e saí dali quase correndo. Não queria ouvir mais nada. Não aguentava mais ficar ali. De repente os meus olhos encheram-se de lágrimas. Acelerei os passos para me afastar o mais rápido possível daquele lugar. Acho que voei, porque quando percebi, já estava na estrada. Foi então que deixei as lágrimas escorregarem pelo meu rosto.

           Estava precisando ficar em algum lugar sossegando o meu coração, mas sem ninguém por perto. Então entrei no mato, no mesmo lugar da vez anterior, e me dirigi até ao riacho. Dessa vez banhei até a minha alma. Mergulhei até encontrar o fundo. Parecia que os peixes já me conheciam de há muito tempo, pois se colocaram do meu lado até eu voltar à tona. Nesse dia fiquei com pena de pescar algum. – Deus, o Senhor ainda está aí?

           Fui para casa depois de ficar bastante tempo na beira do riacho. Sentei-me na margem e coloquei os dois pés dentro d’água. Não demorou muito e chegaram alguns peixinhos pequenos e ficaram roendo os meus pés. Aquilo me deu uma sensação boa de relaxamento.

           No meio do caminho parava e ficava pensando no menino. Puxa! Como essa vida é esquisita! Agora eu sei que ele era ladrão! Mas eu também sou, meu Deus!  Mas o Senhor sabe que eu não sabia que ele ia roubar. O Senhor viu tudo e sabe que sou inocente. Agora, vou fazer um pedido: toma conta do menino. Ele queria estar perto do Senhor. Tanto é que morreu por causa da bíblia. Se ele não tivesse ficado para pegá-la, não teria morrido. Concorda comigo? Acho que o Senhor pode dar um desconto por isso. E comigo? Quando eu morrer, não sei se a morte vai me pegar no colo ou se vai ter alguém me esperando para me dar umas boas palmadas.  

            Os dias foram passando e eu continuei indo até a cidade e comprava sempre alguma coisinha para alimentar os meus pais e meus irmãos. Na volta não deixava de pegar um peixinho. Mas antes conversava com eles e pedia permissão para levar um. A minha mãe também pedia desculpas antes de botá-lo na panela. E agradecia por estar matando a nossa fome. E assim a vida ia andando.

            Eu continuei procurando emprego, mas escutava a mesma resposta: não. Um dia, depois de tanto insistir, descobri a causa da negação: não me davam emprego por que o meu pai quase morreu com tuberculose, isso há muitos anos atrás. Eu nem era nascido. Mas o pessoal da cidade achava que todo mundo lá de casa estava contaminado. Meu pai estava curado fazia é tempo! Mas os moradores da cidade ainda não tinham se curado do preconceito. Pra tuberculose tem medicamento que cura, mas para o preconceito ainda não encontraram nenhum que fosse eficaz. Então eu tive que ir para outra cidade. O engraçado é que no mesmo dia fiquei empregado. 

............Continua Semana que vem!

 

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