terça-feira, 19 de julho de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 10

 


Continuando...

        O sargento deu um leve sorriso e continuou andando, mas procurando não pisar nos corpos, ou pedaços deles, espalhados pela rua. Olhava aquela carnificina toda, sem conseguir estimar a quantidade de pessoas que foram barbaramente assassinadas.  No início, ele e seus soldados, calcularam em torno de quinze, mas depois de caminhar por cima de uma infinidade de pedaços de carne humana, já não tinham mais certeza. A afirmativa de assassinato partiu ao constatarem que nenhuma arma tinha sido disparada, mesmo estando bem avariadas. Então a única hipótese plausível seria de homem bomba. Mas pela quantidade de gente morta, deveria ter sido mais de um. Talvez infiltrados na tropa.

         Mohammed andava um pouco à frente do sargento, mas preocupado com a ponta da arma que ainda batia nas suas costas. De vez em quando procurava afastar o cano que o estava deixando nervoso. O sargento então dava uma cutucada nele. O menino então, depois de uma empurrada mais forte, se virou e falou para Téo:

         - Sargento, isso aí vai acabar disparando e vai me matar! Bota o cano para o lado! Não tem necessidade, porque eu não vou fugir!

        - Está bem guri! Não é assim que fala no Brasil?

        - É. Acho que é. Essa palavra fugiu da minha cabeça.

        - Mas você como brasileiro tinha que saber.

        - Só que o senhor se esqueceu, que eu não sei quem eu sou. Então, algumas palavras, como gíria, podem ter sumido da minha cabeça, não é?

        - Você tem resposta para tudo, não é?

         Mohammed não disse nada, apenas mostrou os seus dentes brancos, num sorriso descontraído. Téo sorriu também, mas ficou se perguntando quem era aquele garoto. E o que ele escondia por trás daquele rosto juvenil e simpático. Podia ser um anjo ou um demônio. Ele disse que era brasileiro, e realmente podia ser. Falava muito bem o idioma da terra da sua mãe e da sua. Entretanto ele conversava fluentemente em inglês, podendo até se passar por americano. Só não tinha ainda escutado ele falar, algumas línguas faladas no Afeganistão, em farsi, pashtu e dari. Mas isso ele ainda iria ter oportunidade de ouvir, já que tinha alguns amigos afegãos, do exército regular.

           Enquanto iam caminhando, tentando se desviar dos pedaços de corpos, que naquele momento já começavam a cheirar mal, Mohammed saiu do lado esquerdo do sargento e postou-se do lado direito, quase ficando ombro a ombro. Téo achou estranho e perguntou:

           - O que houve guri? Eu mandei você ir na frente!

           - Eu falei que naqueles escombros pode ter gente de tocaia, não falei? Então se alguém atirar, eu estarei protegido pelo senhor. Como eu conheço tudo por aqui, sinto cheiro de terrorista no ar. Pode ter certeza que tem sempre algum escondido em algum lugar. E eu não vou me expor. Ainda está muito cedo para eu morrer, sargento. 

           - Eu acho que você sabe mais do que está falando. Você vai andando na minha frente. E vamos até lá.

           - Eu acho que não é uma boa ideia. Vamos mudar de direção, sargento. Ainda há tempo. Pode ser que não abram fogo. De repente têm outros interesses.

           - É? Outros interesses? Então é para lá que nós vamos. Peter, John, Apache vamos até aqueles escombros. Desconfio que lá é um ninho de cobras. Mas todo cuidado é pouco. Vamos?

  ..............Continua Semana que vem!

2 comentários: