terça-feira, 12 de julho de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 09

 


 Continuando...

            Os cinco caminhavam por cima dos corpos mutilados. Ou o que sobrara deles. Várias partes dos corpos se espalhavam pela rua. Não se via uma viva alma, além deles cinco. O menino de repente se abaixou e pegou um braço, sem saber a que corpo pertencia, e retirou um relógio. Imediatamente ele foi chamado à atenção pelo sargento:

           - O que é isso, menino? Deixa isso aí! Isso vai facilitar a identificação do corpo! Você me espanta! Você não tem medo de mortos?

           Tentando não demonstrar ser uma pessoa fria, procurou usar alguma justificativa para o seu ato.

          - Sabe sargento... Claro que eu tenho medo. Mas antes de mexer em qualquer gente morta, eu peço a Alá para recebê-los com muita alegria no Seu reino. E peço desculpas também por me apossar dos seus bens, já que não vai mais ter serventia para eles. Mas para mim, é pura sobrevivência. Cada coisa que eu pego, vira comida.

            Téo ficou tentando analisar aquele garoto com um linguajar não tão comum para meninos da sua idade. – Mas qual seria a sua idade? –   sussurrou para si mesmo. Não era normal uma criança falar cinco idiomas completamente diferentes. Não resistindo a curiosidade, interrogou-o:

            - Mohammed, como você aprendeu a falar essas línguas?  Acho muito estranho uma criança como você falar fluentemente tantos idiomas.

           - Não sei. Eu escuto e aprendo. Quando percebo, estou entendendo tudo que a pessoa está falando. Dizem que tem gente assim espalhada pelo mundo.

           - Não conheço ninguém assim. A não ser você. Eu estou impressionado como você conversa com tanta facilidade. Fala comigo em português e com meus soldados em inglês perfeitamente. Estou realmente impressionado. Você pode dizer para um americano que você nasceu nos Estados Unidos da América e eles não vão duvidar.

           - Verdade?

           - Verdade. Agora vamos acelerar os passos para sairmos daqui. O ar aqui está muito pesado.

           - Eu estou preso?

           - Por enquanto sim.

           - Por enquanto, quanto tempo?

           - O meu comandante vai querer falar com você.

           - Mas eu não fiz nada.

           - Você estava roubando soldados e pegando as suas armas. Isso é crime.

           - Então se eles estão mortos, eu não estou roubando ninguém.

           - Mohammed, você não só estava pilhando os corpos, como estava roubando também os Estados Unidos da América. Você não podia pegar as armas.

           - Mas eu não estou com nada. Não tenho objeto algum dos mortos e nem suas armas. Eu não posso acreditar que um simples peido, possa causar uma fissão nuclear!

          - Como é que é? De onde você tirou isso? Está filosofando? Interessante! Você diz que não está com nada, não é? Não está de posse do roubo, porque nós pegamos tudo que você tinha pilhado.   

          - Aí vocês não têm nenhuma prova que eu sou ladrão. E não sou mesmo! O que eu pego é para sobreviver. Se eu não fizer isso, eu morro de fome. O senhor me ofende ao me acusar de ladrão.

         - Você é a esperteza em pessoa. E ainda se sente ofendido.

         - Vem morar aqui que o senhor vai ter que ser esperto ou senão morre no primeiro dia. E antes que me esqueça, não sou filósofo. Acho que o senhor não entende nada de filosofia, ao dizer que filosofei com aquela frase. Só quis dizer que o senhor está fazendo tempestade em copo d’água. Só isso!

        - Só isso! Eu sei o que você quis dizer. Foi só um modo de falar. Você é estranho, garoto! Vamos andando. Dez anos? Você não tem dez anos nem aqui, nem na China!  

        - E quem disse que eu tenho dez anos? Posso ter vinte, trinta... mil anos! – sorriu enigmaticamente - Eu não sei e nem ninguém sabe... de nada, senhor! 

.......Continua semana que vem!

 

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