terça-feira, 18 de maio de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 26

 


Continuando...

         Esperar pela manhã foi um consenso. Cada um seguiu para a sua barraca. Mas antes, André e Luiza, passaram para ver o amigo Luiz, que estava na barraca de Bordélo. Ele dormia profundamente. Luiza suspeitou de que estivesse com febre, mas sua suspeita não se confirmou. Ele só dormia.

         André não conseguiu pregar olhos. Brigou com o sono por muito tempo. Então, com o corpo moído, resolveu sair da barraca. Pegou sua cadeira de praia e armou em frente a porta.  Dali viu que Luiza ainda estava com o lampião aceso. Com certeza ela também não tinha conseguido dormir. Ele então foi até a entrada da barraca e chamou-a. Imediatamente Luiza mandou-o entrar. Ele entrou e sentou-se ao seu lado, e nada falou. Apenas arriou a cabeça e pregou os seus olhos no chão. A princípio Luiza também mergulhou no silêncio.  Mas isso foi deixando-a nervosa até que, não aguentando mais, cutucou-o e interrogou-o:

          - O que houve André? Você está com uma cara de... Sei lá! Olhou pra mim com uma cara estranha e depois enterrou-a no chão. É essa cara aí que você acabou de me olhar!     

          Ele deu um sorriso chocho e disse:

          - Deve ser cara de paisagem? Nem sei direito o que é isso. Mas eu estou pensando. Já pensei tanto, que nem consegui dormir. Karen não sai da minha cabeça. Temos que traçar alguma estratégia para procura-la.

           - Alguma estratégia... Também acho. Vamos pensar.

            Conversaram, conversaram, mas não conseguiram chegar à conclusão alguma. Entretanto, no meio dessa conversação, uma coisa ficou evidente: os dois queriam, pelo menos, que o dia raiasse o mais rápido possível. Era só clarear e, de qualquer jeito, sairiam logo à procura da amiga desaparecida. Isso, com estratégia ou não.

           Para a alegria geral, o sol chegou abrasador. Nem parecia que o dia anterior tivera aquele dilúvio.  O rio tinha recuado consideravelmente. Muitas pedras que tinham sido engolidas, começaram a se levantar. Agora a esperança poderia dar um alento ao quarteto, mesmo com o rio tendo o seu volume de água ainda acima do normal.

            Os três saltaram para o lado de fora, logo que o sol apareceu. Parecia que tinham marcado hora. Luiz aparentando franca recuperação, saiu logo depois de Bordélo, indo se juntar ao trio. Demonstrando que estava bem de saúde, saiu na frente propondo aos amigos iniciarem as buscas imediatamente. Mas o bom senso de André falou mais alto. Não podiam sair sem se alimentarem. Não comiam nada há bastante tempo.  Serenados os ânimos, se alimentaram o suficiente e depois traçaram a rota que iriam seguir para a procura. Pegaram todos os apetrechos que pudessem precisar.

           A cachoeira estreitara, quase voltando ao normal, mas a correnteza continuava forte. Rio acima, algumas nuvens teimavam em permanecer pesadas. Tudo levava a crer que ainda chovia por aquelas bandas. Talvez já não caísse temporal, mas uma chuva leve permanecia. A água já não vinha tão vermelha quanto antes e nem arrastando árvores como no dia anterior, entretanto algumas tábuas, destroços de algum barraco, deslizavam em direção à cachoeira.

          Os quatro, depois do desjejum, foram a procura de Karen. Em pé, próximo de onde encontraram Luiz, miravam em silêncio aquela quantidade imensa de água, que formava um lago na base da cachoeira. Um ar de desânimo ficou estampado em cada fisionomia. Deviam estar pensando o pior, mas ninguém arriscou qualquer comentário. A tristeza se aliou ao desalento, naquela primeira tentativa de encontrar a amiga. Bordélo, talvez para desatar o nó que estava na garganta, gritou por ela. Gritou várias vezes. Mas só o eco dava algum sinal de vida. 

..............Continua semana que vem!

 

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