terça-feira, 11 de maio de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 25

 


Continuando...

          O som da cachoeira era ensurdecedor. Pela distância que os separava, mesmo se quisessem, não podiam se ouvir. Bordélo sinalizou para os dois e apontou na direção da cachoeira. Logo já estavam os três juntos olhando para aquela queda d’água monstruosa, sem querer acreditar que a amiga pudesse ter sido engolida por aquele mundo d’água. A tristeza abatera-os. Lágrimas desciam dos olhos de cada um, em abundância. Parecia que estavam com os pés enterrados no chão e a esperança arrastada pela água.

           André como sempre fora otimista, balançou a cabeça não aceitando o que estavam pensando. Isso não era do seu feitio, entregar os pontos sem antes lutar. Enxugou os olhos e tentou tirar os amigos daquele abatimento.

          - Ei gente. Vamos trazer a esperança para o nosso lado. Não podemos desistir de jeito nenhum. Nós não achamos Luiz naquela moita de capim? Então, de repente Karen não foi jogada na cachoeira. Vamos procurar. Vamos gente! A esperança já está batendo aqui no meu coração! Ela pode estar em qualquer lugar por aqui!

         Os dois tentaram abrir um sorriso, puxados pelo otimismo do amigo, e concordaram com ele. Voltaram a vasculhar cada cantinho ali em cima, dentro da mata, até onde a água avançou. Depois de mais de uma hora procurando, voltaram para o mesmo lugar, onde estiveram olhando a cachoeira. Agora não tinham mais o que fazer ali em cima; teriam que descer, só que não sabiam como. Como procurar um caminho dentro da noite? Lá pra baixo era um mundo d’água. Para eles, principalmente Bordélo que conhecia aquela região muito bem, a cachoeira quase dobrara de tamanho. Engolira uma grande área de terra de ambas as margens. Então o bom senso dizia que agora, seria loucura qualquer tentativa de descida.  

            A escuridão era o inimigo número um. Ela constrangia qualquer tentativa da esperança. Era um breu só. A escuridão só era aliviada por alguns pontos de luz que passeavam pelo ar. Eram vagalumes que bordavam a mata, fazendo pequenos buracos na noite. Às vezes se arriscavam a atravessar o rio, parecendo barquinhos luminosos suspensos no ar.

          Naquele momento a chuva já tinha ido embora dali. Mas a correnteza continuava assustadora. Parecia que gritava de ódio. Eles tinham que tentar se afastar um pouco daquele medo. Se quisessem realmente partir para a busca, teriam que encarar aquele desafio. Com todas as dificuldades que se apresentavam parecia que os três entregariam as próprias vidas para tentar resgatar uma vida, que talvez já não existisse mais. Karen talvez já estivesse a quilômetros de distancia dali. O seu corpo moído de bater de pedra em pedra talvez nunca mais fosse encontrado. Só mesmo a esperança para trazê-la à vida.

          Enquanto olhavam aquela quantidade fantástica de água se jogando a mais de dez metros de altura, Luiza gritou pela amiga. O seu grito ecoou até se perder rio abaixo. E gritou novamente, mas nada de resposta. Os três então gritaram juntos. Gritaram, gritaram e gritaram em vão. Nenhuma resposta chegou. Com todo aquele barulho da cachoeira, seria impossível escutar-se o chamado de alguém. Os três calaram desanimados. Mas André sugeriu que esperassem o dia amanhecer. Com a manhã não só o dia ficaria claro, mas as ideias também. Com a noite a dor parece que dói mais. E parece que não vai acabar nunca.

....................Continua semana que vem!

 

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