terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 9

 


Continuando...

               Luiza achou que tinha ouvido alguém chamá-la. Levantou a cabeça e ficou atenta esperando que houvesse outro chamado. Mas não conseguiu ouvir mais nada. Pensou que a mãe estivesse ali para socorrê-la. Parecendo desiludida, balançou a cabeça de um lado para o outro e de novo lágrimas desceram pela sua face. Depois falou baixinho:

               - Mãe, por que você foi embora?

               Ela fez a pergunta e, imediatamente, veio à sua mente a figura da mãe, no momento em que lhe beijava o rosto, caminhava até a esquina, se virava e acenava. Essa foi a última vez que vira a mãe. Nessa época contava apenas cinco anos de idade. Mais tarde soubera que a mãe fora sequestrada, tendo havido apenas um pedido de resgate, seguido de um silêncio e nenhum contato a mais. Desapareceu sem deixar rastro. A polícia vasculhou o bairro, a cidade e praticamente todo o estado e nada de encontrá-la. É um mistério que perdura há mais de quinze anos. Tempos depois, Luiza ouviu o seu pai falando para um irmão, que a sua mãe poderia ter abandonado a casa e forjado o próprio sequestro. Essa conversa de vez em quando martelava a sua cabeça.

               Para cada canto que Luiza ia com André, carregava sempre uma esperançazinha à tira colo, Idealizando um encontro com a sua mãe. Já tinha andado praticamente por todo o Estado do Rio e por mais alguns outros estados, mas no final de cada aventura estava presente a decepção. Mas desistir, nunca. Esse era o seu slogan.

               Enquanto tentava encontrar alguma posição mais confortável, as aventuras já vividas com André iam passando na sua cabeça como um filme, uma a uma. De repente fez uma expressão de tristeza e dor profundas, quando se lembrou especialmente de uma das viagens, em que tombou numa ribanceira.   

               NA TOCA DA ONÇA  

               Os gritos de Luiza pedindo ajuda vinham carregados de desespero e dor.

               - André! André! Me salve! – o chamado de socorro vinha do fundo do abismo. Era um som abafado. E ela já estava quase sem voz de tanto gritar pelo amigo, sem, no entanto, receber resposta do seu apelo. André, no momento da sua queda, estava a mais de metro a sua frente e nem percebeu quando aconteceu o acidente. Ele só escutou o barulho, mas quando olhou para trás, Luiza já tinha sumido. Em frações de segundos ela já tinha sido engolida pelo abismo.

              André, quando se virou e não viu mais Luiza, ficou desesperado e começou a gritar como um louco.  O seu grito, chamando por ela, se espalhou pela cadeia de montanhas, até sumir no vale profundo. Depois de algum tempo, a sua voz começou a falhar. O seu grito já não passava mais da garganta. Parecia sufocado. Pensava na possibilidade dela ter morrido. Nisso as lágrimas começaram a descer aos borbotões.

               Depois de chorar muito, dando vazão a sua dor, conseguiu se equilibrar um pouco. Enxugou os olhos, colocou a mochila no chão, sentou em cima, e começou a pensar no que fazer, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no queixo. Em meio a vários pensamentos surgiu à hipótese de Luiza não ter morrido. Quase sorriu com essa possibilidade. –“Mas qual seria o primeiro passo a dar?” – falou baixinho para o seu coração.  Então sabia de antemão que o descontrole só iria atrapalhá-lo. Procurou então fazer uma respiração cadenciada para tentar se acalmar. Os poucos segundos em que se manteve sereno, foi o bastante para ouvir o pedido de socorro da amiga. O som chegou até ele, como se viesse do fundo da Terra. A esperança brilhou nos seus olhos. Rapidamente pegou a corda que trazia pendurada no ombro e procurou um local que pudesse prendê-la. Viu a marca na vegetação deixada pela queda de Luiza. Ali era o único trecho que tinha algumas gramíneas, que iam até a beira do precipício, onde formavam uma grande touceira de capim. 

..................Continua semana que vem!

 

Um comentário:

  1. Me pergunto de onde vem tanta criatividade. Música, poesia, estórias, crônicas... Parabéns. Adoro seu blog.

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