terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 7

 


Continuando...

          Mesmo com toda a dor que sentia, conseguiu prender um grampo na fenda. Respirou aliviado. Na posição que estava agora, não conseguia mais ver Luiza. Então teria que recomeçar a sua escalada, para poder voltar a vê-la e então se aproximar.

           Apesar do vento forte, foi em frente. Conseguiu até colocar mais uns poucos grampos. Mas de repente foi engolido por uma neblina densa. Não via nada do seu lado e nem para cima. Só tinha um pouco de visibilidade para baixo. Resolveu gritar pela amiga. Mas ela não deu nenhum sinal que tinha ouvido. Gritou mais algumas vezes, mas tudo continuou na mesma. Os seus nervos estavam à flor da pele. De repente um barulho chamou a sua atenção. Então olhou para baixo e viu o momento em que um imenso cipreste tombava e se chocava de encontro ao paredão. – O que causou isso, meu Deus? – perguntou sem perceber. E imediatamente veio a resposta, com a montanha sacudindo. Ele que pensava estar seguro, foi lançado ao ar. Rodopiou e foi arremessado com violência de encontro a rocha. A primeira impressão era de ter quebrado todos os seus ossos. Uma dor aguda, quase insuportável, deixou-o desorientado. Não tinha noção de como realmente estava. Mas não esqueceu de Luiza. Tentou se equilibrar para poder vê-la, só que não tinha percebido que estava de cabeça para baixo. A sua visão era somente a mata. Assustou-se porque não tinha como visualizar a amiga. Gritou pelo seu nome, mas não conseguiu retorno ao seu chamado. Estava atordoado.

          O vento continuava fortíssimo e lançava-o de um lado para o outro causando com isso várias escoriações em todo o seu corpo. A sua roupa, já em frangalhos, estava empapada de sangue.  O seu estado era lastimável. Não estava morto, mas quem o visse não acreditaria nessa hipótese. Do jeito que a fúria do vento o arremessava de encontro ao paredão, não devia ter mais um osso inteiro.

          O vento finalmente deu uma trégua. Ficou no seu lugar, uma brisa fresca e reconfortante. André continuava pendurado na mesma posição, só vislumbrava a mata, que, como ele, estava muito maltratada. Levou algum tempo com o olhar perdido naquela fatia da floresta, sem atinar o que estava acontecendo. Depois de muito tempo olhando aquele mato retorcido, tentou se mover mas conseguiu apenas urrar de dor. Então procurou se aquietar. Com o tempo a dor foi diminuindo até ficar suportável. Procurou não se movimentar mais.

             Aparentemente ele não havia ainda percebido que estava de cabeça para baixo. Apenas balançava a cabeça de um lado para o outro, com o olhar mergulhado no nada. Era nítido que estava desorientado. Em alguns momentos balbuciava o nome de Luiza. Outras vezes falava coisas desconexas.  Conversava com a montanha, como se ela fosse uma pessoa.  Depois mergulhava no silêncio e fixava o olhar num ponto indeterminado.  Ficou assim por mais de quinze minutos. Mas repentinamente virou o rosto e falou com alguém, como se estivesse ao seu lado. Conversou durante um bom tempo e antes de voltar a emudecer, perguntou se o apocalipse tinha começado. Alternava instantes de lucidez e alienação.   

              O tempo foi passando e André continuava do mesmo jeito. Só depois de mais de meia hora é que voltou a dar algum sinal que pudesse estar voltando ao normal, pois falou baixinho, quase sussurrando, o nome da amiga.

            - Luiza, onde você se meteu?

            Depois de alguns segundos em silêncio, virou a cabeça de um lado para o outro e falou choroso:

            - Meu Deus o que é que estou fazendo aqui em cima, pendurado? Como eu vim parar aqui?

            André sentia-se zonzo.  Além do estado físico precário, a sua cabeça estava embaralhada. Era uma confusão só seus pensamentos. Repentinamente a testa começou a queimar como se estivesse pegando fogo e o corpo arder até os pés. Foi passar uma das mãos na testa e urrou de dor. Nem conseguiu mexer com um dedo sequer da mão direita, pois o braço, que estava pendurado, em estado lastimável, apresentava uma fratura exposta, bem próxima ao pulso. 

 ...............Continua semana que vem!

 

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