terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 8

 


Continuando...

               A testa sangrava bastante, banhando todo o seu rosto. Com isso a sua visão ficou bem prejudicada, pois o sangue escorria e enchia a cavidade ocular. E isso piorava mais a sua desorientação.

              A pancada na cabeça causou-lhe alguns lapsos de memória, não sabendo, em alguns momentos, onde estava e nem como havia chegado ali. Mas em momento algum esqueceu de Luiza, e isso era um sinal de que poderia voltar ao normal em curto espaço de tempo.

          Luiza também fora muito maltratada. Devido às inúmeras pancadas que dera contra a rocha, o rosto e a cabeça ficaram muito machucados, e encontrava-se também muito atordoada.

           O rosto, na verdade, ficou bem desfigurado. A beleza, se ainda restava alguma, estava afogada pelo sangue que brotava abundante e que naquela altura ensopava toda a sua roupa. Ainda se via um risco vermelho descendo pela pedra, até se perder no meio da água. Do canto da boca escorria uma pasta viscosa, mistura de sangue com alimentos, devido ao vômito causado pelo sangue que engolira. O enjoo não acabara, em intervalos de tempo ainda tinha ânsia de vômito.

           O chamado do amigo, ela nem registrou. Como estava atordoada, não conseguia se situar onde estava e muito menos saber o que estava fazendo ali pendurada naquela montanha. O seu quadro era muito parecido com o de André.  Só não tinha quebrado nenhum membro. Mas devido as pancadas na cabeça, seu estado mental não era muito bom.

          De vez em quando torcia o rosto, devido a dor que sentia. E essas caretas eram repetidas muitas e muitas vezes.

           A chuva continuava a cair sem dar trégua, e a água que batia no seu rosto causava uma ardência quase insuportável. Tentou gritar, mas só saiu gemido. Então virou-se para o lado, procurando se livrar dos grossos pingos de chuva que espetavam seu rosto feito agulha, e com isso conseguiu aliviar um pouco a sua dor.

           Enxergava pessimamente. Com dificuldade conseguiu passar uma das mãos nos olhos, tentando limpá-los. Era chuva e sangue atrapalhando a sua visão.  Pensou estar ficando cega e deu um grito de desespero. Mas o grito fora engolido pelo assobio do vento.

               Luiza tentou gritar novamente, mas o som não saiu. Então encostou a testa na parede e chorou um pouco. Depois procurou olhar em volta, para descobrir que lugar era aquele em que estava. A princípio não atinou o porquê de estar ali pendurada numa corda, naquele paredão. E, já com a visão melhor, não entendeu o que tinha acontecido com todas aquelas árvores derrubadas na base da montanha. Era tudo uma confusão só. E a única coisa que pensou em fazer naquele momento foi colocar as duas mãos no paredão e afastar o seu corpo que estava colado. Ficou assim por algum tempo, enquanto tentava concatenar as ideias. Depois girou o corpo e colocou as suas costas de encontro ao rochedo. Naquela posição foi ficando sem saber o que fazer. Olhava aquilo tudo destruído, mas sem entender o que causara toda aquela devastação.  De repente lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto com tanta intensidade, que pingos grossos iam marcando de vermelho o paredão onde caía. Naquela altura, o choro já tinha lavado quase todo o seu rosto, que fora tingido de sangue, mas ainda se via algumas marcas na face, como se fossem pequenos riachos. 

               De repente Luiza começou a esfregar uma das mãos no rosto, já bem castigado, com muita violência. Depois, com as duas mãos, o cobriu, curvando um pouco para à frente a cabeça, e ficou em silêncio. Voltou a chorar, instantes depois. Soluçando, balbuciou:

               - Mãe, mãe, eu não sei onde estou. Vem me ajudar. Preciso de você. Não me abandone de novo.

               Parou de falar e mergulhou no silêncio, mas com a cabeça ainda jogada para frente. Nesse momento o vento já tinha sossegado um pouco, depois de tê-la maltratado o quanto quis. Mas o importante é que tinha dado uma trégua e era isso o que ela precisava para tentar recuperar as forças e principalmente pôr em ordem os pensamentos.

....................Continua semana que vem!

 

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