terça-feira, 19 de março de 2019

A História de Helô - Parte 24

Continuando...

Alguns meses já tinham ido embora, precisamente oito meses.  Nesse tempo, Helô foi conhecer o primeiro dos cômodos que a entidade tinha falado. Ficou surpresa quando encontrou um quarto mobiliado ricamente. Os objetos que adornavam o cômodo deixaram-na vermelha de vergonha. Eram quadros com pinturas eróticas e alguns objetos encontrados em motéis. Esses utensílios ela não identificou. O local realmente era para encontros amorosos. Como não tinha entendido os objetos que via, perguntou à Madre. Ela, porém, não quis comentar. Preferiu direcionar a menina para outro compartimento.
          Um quarto, não muito maior que o anterior, apresentou-se com quatro leitos equipados, como se fosse uma UTI. Helô olhava tudo sem fazer qualquer comentário. Foi de cama em cama observando os equipamentos instalados, mas antes que fizesse alguma pergunta, a Madre falou:
         - Está curiosa, não é, Helô? Então, aqui é para atendimento emergencial. Você deve ter observado que algumas meninas somem. Umas voltam e outras somem para sempre. Estas não voltam porque foram atendidas aqui, mas não resistiram e deixaram a carne.  
          - Deixaram a carne? Como?
          - Falando claramente, como se fala aqui: elas morreram.
          - É, irmã? Elas estão mortas?
          - Sim, Helô, mas essas mortes não são anunciadas. Ninguém fica sabendo. A dirigente desta casa informa que a pessoa foi embora, mas o corpo some aqui mesmo. Isso é muito triste.
          - Meu Deus, irmã! Que coisa horrível!
          - Sabe que muitas dessas meninas ainda estão perdidas por aqui? E você tem condição de vê-las, mas eu bloqueei essas visões. Você ia ficar muito chocada. 
O estado em que estão é lamentável.
          - Eu posso ver?
          - Claro! Você não me vê?  Então, você pode ver qualquer um que está - como dizem - do outro lado. Mas... Helô, vamos embora. Tem gente aproximando-se. Feche os olhos.
          Em frações de segundos, Helô já estava do lado de fora da gruta. Ela se olhou sem entender o que tinha acontecido, olhou para a entidade e sorriu. A Madre, antes de sumir das vistas da menina, falou:
          - Helô, minha filha, vamos ficar algum tempo sem nos vermos. Preciso afastar-me durante algum tempo, mas se você precisar é só pensar em mim. Pode ficar certa que estarei nos seus sonhos. Agora estou indo, mas em breve estarei de volta.
         - Madre...
         - Estarei de volta em breve, Helô. Em outra porta, pode estar o segredo da sua vida. Agora, vai ao encontro de suas amigas.
          Antes que falasse alguma coisa, a entidade já tinha sumido e ela já estava entre as suas amigas, que nem perceberam a sua chegada. Parecia que nem tinha sumido dali. Para um adulto, essa situação já era muito complicada, agora imagina para uma criança.  Uma coisa de doido! Não dava nem para ser imaginada. Praticamente a menina se achava dentro de um sonho. Pensando bem, a vida parece mesmo um sonho.
          Muito tempo a Madre Maria de Lourdes levou sumida. Helô até se questionou da veracidade da existência dessa aparição, mas tinha medo de falar sobre o caso com alguém. Até a vontade de ir à gruta tinha desaparecido. Quem vivenciou tantas emoções – verdadeiras ou falsas? – de repente dava sinais de que tinha passado uma borracha na sua cabeça e apagado tudo. Parecia que a curiosidade tinha acabado.
          Nesse período, Helô completou doze anos. Como há muito tempo não acontecia, a Madre Superiora permitiu que a irmã Amélia juntamente com a irmã Gertrudes passassem aquele dia com a menina. Helô transbordava de alegria. Até um bolo de aniversário foi permitido. Ela, com a permissão da Madre, convidou as amiguinhas para compartilharem da sua alegria. Aquele foi um dia único, talvez, da sua vida, mas ela não percebeu que a entidade sorridente, num canto do jardim, acompanhava aquele pingo de felicidade na sua vida. Até cantou o “Parabéns pra você”, entretanto não quis que a menina a ouvisse e nem percebesse a sua presença. Com certeza iria atrapalhar aquele encontro único, mesmo assim envolveu-a num terno abraço. Helô sentiu-se aconchegada, mas não conseguiu perceber a sua causa.
       Depois do aniversário, Helô teve dias mais tranquilos. A perseguição da Madre parecia que tinha chegado ao fim. Diariamente encontrava-se com a irmã Amélia. Agora, mais nada tinha importância.  Isso era tudo que sempre pediu a Deus nas suas orações e parecia que tinha sido atendida. Estava mais atenta nas aulas, mais risonha. Estava realmente muito feliz, entretanto, no dia em que completava um mês do seu aniversário, em plena aula de canto, a entidade sentou-se na cadeira da professora. Helô, mesmo estando acostumada, assustou-se e imediatamente parou de cantar. A professora de canto, irmã Maria das Dores, percebeu, mas esperou até o término da música para interpelá-la. 
....................................Continua semana que vem!

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