quinta-feira, 14 de março de 2019

A História de Helô - Parte 23

Continua...


          Helô, depois dessas palavras da Madre, mesmo confirmando com a cabeça que estava preparada, sentiu um pequeno tremor nas mãos quando foi abrir a boca do saco. Estava vacilante, sentiu vontade de recuar, olhou para a Madre e ela apenas sorriu, mas esse sorriso veio acompanhado de uma luz azulada que a envolveu dos pés à cabeça. Imediatamente sentiu plenamente a coragem afastando a covardia.
          A boca do saco estava livre do nó que o apertava, mas a corda ainda o envolvia. Helô acabou de tirá-lo e em seguida abriu a boca do saco. Olhou, mas não conseguiu identificar o que estava dentro. Pegou a vela que tinha colocado em cima da maca e iluminou o interior. O que viu deixou-a com o olhar esbugalhado, a respiração ficou ofegante. Estava completamente assustada,  mas a incredulidade também se juntou ao susto. Foi uma confusão só na sua cabeça. Com uma leve tontura, quase caiu para trás. Colocou a mão na boca para não gritar. Depois teve vontade de sair dali correndo, só que as pernas não obedeceram  pois estavam completamente bambas e as suas forças se esvaíram. A entidade, percebendo o momento crítico, envolveu-a de novo na luz azulada e, com isso, ela conseguiu tomar novamente o controle da situação. Depois que Helô demonstrou serenidade, a Madre falou:
          - Minha filha, eu sei que isso que você está vendo é uma coisa horrível, mas é necessário que você veja. Deus não quer isso, mas muitas pessoas cometem muitos erros. E como temos o livre arbítrio, fazemos coisas muito ruins, entretanto, pode ficar certa, vão pagar por isso. Essas pessoas estão ainda muito atrasadas moralmente. Isso que você está vendo aí são ...
          - Irmã, isso está parecendo cabeça de gente! Meu Deus! É isso mesmo?
          - Fique calma, minha filha. Não olhe mais. Pode fechar o saco.
          De repente Helô conseguiu retirar a cara assustada e vestir-se novamente de pura coragem. Decidida, olhou detalhadamente o que tinha dentro do saco preto. A Madre vendo a determinação de menina, disse:
          - Sabe, minha filha, aí dentro só tem praticamente restos mortais de crianças do sexo masculino. Tem até outras do sexo feminino, mas que nasceram com algum problema físico. Elas simplesmente não tiveram a chance de viver. As pessoas que fizeram isso estão ainda muito duras de sentimentos, mas isso não pode continuar para sempre. Isso tem que parar e você,  até completar dezoito anos, deverá acabar com tudo isso. Se Deus quiser!
          Helô parecia que não estava prestando atenção no que a Madre Maria de Lourdes falava, mas de repente levantou a cabeça e questionou:
          - Madre, por que eu? Com tanta gente adulta aqui e a senhora foi me escolher!
          - Helô, você é especial, minha menina. Eu não lhe escolhi. Se eu disser quem lhe escolheu, você não vai acreditar.
         - Não?
         - Não. Você é muito nova para entender certas coisas, por isso eu vim para ficar do seu lado. Quando você tiver mais idade, aí sim, poderá entender, por enquanto vai continuar do jeito que está.
        - Não pode nem dizer quem me escolheu? Juro que não falo pra ninguém.
       - Não é não. Não posso, minha querida. Vamos continuar.
        Helô fez uma cara feia demonstrando descontentamento. Não tinha mais o que argumentar com a entidade, então voltou ao que estava fazendo. Abriu mais a boca do saco e procurou iluminar mais o seu interior. Em seguida olhou com mais atenção aquela quantidade toda de pequenos crânios. A princípio sentiu náuseas. Teve até vontade de sair dali, mas arranjou forças novamente e pensou em contar aquelas cabecinhas de recém-nascidos. A Madre Maria de Lourdes, lendo o pensamento de Helô, interveio:
           - Não, Helô. Não é preciso fazer isso agora. A quantidade, nesse momento, não tem importância. Feche o saco, recoloque-o no lugar e nem precisa abrir os outros. Eles têm o mesmo conteúdo.
          - Está bem, Madre. Vou fechá-lo e colocá-lo onde estava. Isso tudo está me dando muito enjoo, mas eu vou fazer o que tem que ser feito.
         Ela foi empurrar o saco, mas ele não saiu do lugar. A menina olhou para a entidade e pediu socorro. Ela então, por pensamento, mandou-a repetir tudo que tinha feito antes. E assim, depois de seguir à risca tudo, a luz verde saiu do seu peito e envolveu o saco. Só bastou ela empurrá-lo para que deslizasse até o seu local de origem.  Ao abrir os olhos, ficou surpresa ao ver o saco debaixo da maca. Parecia inacreditável aquilo tudo que aconteceu ali. Deu um sorriso meio sem jeito para a Madre, que retribuiu, mas não deixou de fazer um comentário.
          - Você acha que está sonhando, não é, Helô? Mas não está não! Você é nova agora, mas tem muitas experiências de vidas...  Quando for ficando com mais idade, as suas faculdades vão desenvolver mais. É só estudar, ter paciência e andar sempre no caminho do bem. Com o tempo o véu vai cair... Agora está na hora de irmos embora. Em outra ocasião voltaremos. Nessa volta, vamos entrar em outros cômodos. São mais alguns. E não deixe nunca de rezar todos os dias. Pede sempre a proteção de Deus.
          - E eu rezo! Todo dia eu converso com Deus! Quando a gente volta?
          - Em breve. Logo logo estaremos de volta. Agora, está na hora de irmos embora. Feche os olhos, Helô. Isso!
          Ela obedeceu e, quando foi abrí-los, já estava do lado de fora. Esboçou um sorriso meio sem jeito e perguntou:
          - Madre, como foi isso?  Eu estava lá dentro e num instante estou aqui fora!
          - Minha filha, isso só acontece porque você facilita. Não é qualquer pessoa que pode fazer isso. Mais uma vez vou lhe fazer um lembrete: não comente nada disso com ninguém, nem com a irmã Amélia e nem com a irmã Gertrudes. Segredo tem que ser somente com duas pessoas. E ninguém vai  acreditar mesmo, não é?
          - É, irmã. Vão chamar-me de maluca, não é? Juro que não falo nada.
................Continua semana que vem!

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