Helô, depois dessas palavras da
Madre, mesmo confirmando com a cabeça que estava preparada, sentiu um pequeno
tremor nas mãos quando foi abrir a boca do saco. Estava vacilante, sentiu
vontade de recuar, olhou para a Madre e ela apenas sorriu, mas esse sorriso
veio acompanhado de uma luz azulada que a envolveu dos pés à cabeça. Imediatamente
sentiu plenamente a coragem afastando a covardia.
A boca do saco estava livre do nó que
o apertava, mas a corda ainda o envolvia. Helô acabou de tirá-lo e em seguida
abriu a boca do saco. Olhou, mas não conseguiu identificar o que estava dentro.
Pegou a vela que tinha colocado em cima da maca e iluminou o interior. O que
viu deixou-a com o olhar esbugalhado, a respiração ficou ofegante. Estava
completamente assustada, mas a
incredulidade também se juntou ao susto. Foi uma confusão só na sua cabeça. Com
uma leve tontura, quase caiu para trás. Colocou a mão na boca para não gritar. Depois
teve vontade de sair dali correndo, só que as pernas não obedeceram pois estavam completamente bambas e as suas
forças se esvaíram. A entidade, percebendo o momento crítico, envolveu-a de novo
na luz azulada e, com isso, ela conseguiu tomar novamente o controle da
situação. Depois que Helô demonstrou serenidade, a Madre falou:
- Minha filha, eu sei que isso que
você está vendo é uma coisa horrível, mas é necessário que você veja. Deus não
quer isso, mas muitas pessoas cometem muitos erros. E como temos o livre
arbítrio, fazemos coisas muito ruins, entretanto, pode ficar certa, vão pagar
por isso. Essas pessoas estão ainda muito atrasadas moralmente. Isso que você
está vendo aí são ...
- Irmã, isso está parecendo cabeça de
gente! Meu Deus! É isso mesmo?
- Fique calma, minha filha. Não olhe
mais. Pode fechar o saco.
De repente Helô conseguiu retirar a
cara assustada e vestir-se novamente de pura coragem. Decidida, olhou
detalhadamente o que tinha dentro do saco preto. A Madre vendo a determinação
de menina, disse:
- Sabe, minha filha, aí dentro só tem
praticamente restos mortais de crianças do sexo masculino. Tem até outras do
sexo feminino, mas que nasceram com algum problema físico. Elas simplesmente
não tiveram a chance de viver. As pessoas que fizeram isso estão ainda muito
duras de sentimentos, mas isso não pode continuar para sempre. Isso tem que
parar e você, até completar dezoito
anos, deverá acabar com tudo isso. Se Deus quiser!
Helô parecia que não estava prestando
atenção no que a Madre Maria de Lourdes falava, mas de repente levantou a
cabeça e questionou:
- Madre, por que eu? Com tanta gente
adulta aqui e a senhora foi me escolher!
- Helô, você é especial, minha
menina. Eu não lhe escolhi. Se eu disser quem lhe escolheu, você não vai
acreditar.
- Não?
- Não. Você é muito nova para entender
certas coisas, por isso eu vim para ficar do seu lado. Quando você tiver mais
idade, aí sim, poderá entender, por enquanto vai continuar do jeito que está.
- Não pode nem dizer quem me escolheu? Juro
que não falo pra ninguém.
- Não é não. Não posso, minha querida.
Vamos continuar.
Helô fez uma cara feia demonstrando
descontentamento. Não tinha mais o que argumentar com a entidade, então voltou
ao que estava fazendo. Abriu mais a boca do saco e procurou iluminar mais o seu
interior. Em seguida olhou com mais atenção aquela quantidade toda de pequenos
crânios. A princípio sentiu náuseas. Teve até vontade de sair dali, mas
arranjou forças novamente e pensou em contar aquelas cabecinhas de
recém-nascidos. A Madre Maria de Lourdes, lendo o pensamento de Helô, interveio:
- Não, Helô. Não é preciso fazer
isso agora. A quantidade, nesse momento, não tem importância. Feche o saco,
recoloque-o no lugar e nem precisa abrir os outros. Eles têm o mesmo conteúdo.
- Está bem, Madre. Vou fechá-lo e
colocá-lo onde estava. Isso tudo está me dando muito enjoo, mas eu vou fazer o
que tem que ser feito.
Ela foi empurrar o saco, mas ele não
saiu do lugar. A menina olhou para a entidade e pediu socorro. Ela então, por
pensamento, mandou-a repetir tudo que tinha feito antes. E assim, depois de seguir
à risca tudo, a luz verde saiu do seu peito e envolveu o saco. Só bastou ela
empurrá-lo para que deslizasse até o seu local de origem. Ao abrir os olhos, ficou surpresa ao ver o
saco debaixo da maca. Parecia inacreditável aquilo tudo que aconteceu ali. Deu
um sorriso meio sem jeito para a Madre, que retribuiu, mas não deixou de fazer
um comentário.
- Você acha que está sonhando, não é, Helô?
Mas não está não! Você é nova agora, mas tem muitas experiências de
vidas... Quando for ficando com mais
idade, as suas faculdades vão desenvolver mais. É só estudar, ter paciência e
andar sempre no caminho do bem. Com o tempo o véu vai cair... Agora está na
hora de irmos embora. Em outra ocasião voltaremos. Nessa volta, vamos entrar em
outros cômodos. São mais alguns. E não deixe nunca de rezar todos os dias. Pede
sempre a proteção de Deus.
- E eu rezo! Todo dia eu converso com
Deus! Quando a gente volta?
- Em breve. Logo logo estaremos de
volta. Agora, está na hora de irmos embora. Feche os olhos, Helô. Isso!
Ela obedeceu e, quando foi abrí-los, já
estava do lado de fora. Esboçou um sorriso meio sem jeito e perguntou:
- Madre, como foi isso? Eu
estava lá dentro e num instante estou aqui fora!
-
Minha filha, isso só acontece porque você facilita. Não é qualquer pessoa que
pode fazer isso. Mais uma vez vou lhe fazer um lembrete: não comente nada disso
com ninguém, nem com a irmã Amélia e nem com a irmã Gertrudes. Segredo tem que
ser somente com duas pessoas. E ninguém vai acreditar mesmo, não é?
-
É, irmã. Vão chamar-me de maluca, não é? Juro que não falo nada.
................Continua semana que vem!
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