quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Pequena História III - O Socialista Burguês - Um encontro num semáforo - Parte 2

Continuando...
          O meu amigo, o socialista burguês, - ele não sabe que é assim que eu o chamo – se diz, também, conhecedor profundo de Platão. Uma vez ameaçou dizer que jogou bola de gude com o filósofo. Então mudei rapidamente o rumo da conversa.  Ele me olhou sério, mas não fez qualquer objeção à interrupção. Quando voltou a falar, após alguns minutos de reflexão, - acho que era - citou o nome dele, o de Platão e o de Max, como sendo um trio de filósofos do século XXI. Naquele momento, após esticar um olhar enigmático para o céu, concluiu, dizendo, que ele e seus dois amigos, estavam finalizando a teoria da relatividade. Não quis contestar, mas perguntei se Albert Ainstein não fazia parte do grupo. Olhou-me com desdém e disse:
          - Aquele garoto franzino, linguarudo, que estuda num CIEP, em Caxias? Ele é muito distraído! Não tem o mínimo de atenção! O que adiantou ele ter feito um cursinho com Sócrates?
          Por falar algumas coisas desse tipo, muita gente o tem como maluco. Mas não é bem assim. Só é uma pessoa meio confusa.  O meu amigo gosta mesmo é de filosofar. Deve ser por isso que se confunde. E piora um pouco mais quando entra no mundo de Jacques Lacam. Aí nem Freud explica. Segundo ele, nem Fred explica. No meio de todas essas confusões, tenho que parar e tentar analisar os fatos. Aí, vou confessar que também tenho lá as minhas dúvidas sobre a sua sanidade. Principalmente quando discorre sobre algum assunto, misturando os seus pensamentos aos de Max e Platão, e afirmando - melhor dizendo, jurando por Deus - que era de um deles. Estrambótico esse meu amigo! Mesmo assim eu o acho um cara inteligente, apesar das misturas de fatos, gente, filosofias... Uma vez me garantiu que sabia também sobre Sartre. Jean Paul Sartre? – perguntei-lhe. Sorriu, conferiu se Max ainda estava debaixo do sovaco, e me disse:
           - Claro! Você conhece? Se não conhece, eu te apresento! É aquele cara de bigodinho pequenininho! Sabia que ele nasceu em Portugal? Ou morreu lá?! Se não me engano ele fez a guerra civil americana. Ou a revolução francesa?! Tem até uma frase, muito conhecida, sua: - Olho no olho e dente no dente.
          Juro por Deus que muitas das vezes fico meio assustado com essas suas colocações. Mas acabo aceitando-as. Levo em consideração a infinita quantidade de livros, por ele degustados. Isso só podia dar em miscelânea cultural. É ou não é?
          De repente o sinal ficou verde pra mim. Não tive ação de dar partida no carro. Parecia que estava congelado. Imediatamente o semáforo dos pedestres ficou vermelho. Subitamente cruzou entre os carros, impávido! Gesticulava e falava algo! Talvez falasse com Max! Ou - quem sabe? – parabenizava o cara que inventou o semáforo apenas pela sua luzinha vermelha!
          Meu amigo sumiu na primeira esquina. Fiquei parado mais algum tempo, boquiaberto. Liguei o carro e atravessei lentamente, o sinal. Nesse momento estava no amarelo. Fui em frente, mastigando reflexões acerca do porquê do verde e do vermelho no semáforo.
                                                    fim


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