O meu amigo, o socialista burguês, - ele não
sabe que é assim que eu o chamo – se diz, também, conhecedor profundo de
Platão. Uma vez ameaçou dizer que jogou bola de gude com o filósofo. Então
mudei rapidamente o rumo da conversa. Ele
me olhou sério, mas não fez qualquer objeção à interrupção. Quando voltou a
falar, após alguns minutos de reflexão, - acho que era - citou o nome dele, o
de Platão e o de Max, como sendo um trio de filósofos do século XXI. Naquele
momento, após esticar um olhar enigmático para o céu, concluiu, dizendo, que
ele e seus dois amigos, estavam finalizando a teoria da relatividade. Não
quis contestar, mas perguntei se Albert Ainstein não fazia parte do grupo.
Olhou-me com desdém e disse:
- Aquele garoto franzino, linguarudo,
que estuda num CIEP, em Caxias? Ele é muito distraído! Não tem o mínimo de
atenção! O que adiantou ele ter feito um cursinho com Sócrates?
Por falar algumas coisas desse tipo,
muita gente o tem como maluco. Mas não é bem assim. Só é uma pessoa meio
confusa. O meu amigo gosta
mesmo é de filosofar. Deve ser por isso que se confunde. E piora um pouco mais
quando entra no mundo de Jacques Lacam. Aí nem Freud explica. Segundo ele, nem
Fred explica. No meio de todas essas confusões, tenho que parar e tentar
analisar os fatos. Aí, vou confessar que também tenho lá as minhas dúvidas
sobre a sua sanidade. Principalmente quando discorre sobre algum assunto,
misturando os seus pensamentos aos de Max e Platão, e afirmando - melhor
dizendo, jurando por Deus - que era de um deles. Estrambótico esse meu amigo!
Mesmo assim eu o acho um cara inteligente, apesar das misturas de fatos, gente,
filosofias... Uma vez me garantiu que sabia também sobre Sartre. Jean Paul
Sartre? – perguntei-lhe. Sorriu, conferiu se Max ainda estava debaixo do
sovaco, e me disse:
- Claro! Você conhece? Se não conhece,
eu te apresento! É aquele cara de bigodinho pequenininho! Sabia que ele nasceu
em Portugal? Ou morreu lá?! Se não me engano ele fez a guerra civil americana.
Ou a revolução francesa?! Tem até uma frase, muito conhecida, sua: - Olho no olho
e dente no dente.
Juro por Deus que muitas das vezes
fico meio assustado com essas suas colocações. Mas acabo aceitando-as. Levo em
consideração a infinita quantidade de livros, por ele degustados. Isso só podia
dar em miscelânea cultural. É ou não é?
De repente o sinal ficou verde pra
mim. Não tive ação de dar partida no carro. Parecia que estava congelado.
Imediatamente o semáforo dos pedestres ficou vermelho. Subitamente cruzou entre
os carros, impávido! Gesticulava e falava algo! Talvez falasse com Max! Ou -
quem sabe? – parabenizava o cara que inventou o semáforo apenas pela sua
luzinha vermelha!
Meu amigo sumiu na primeira esquina.
Fiquei parado mais algum tempo, boquiaberto. Liguei o carro e atravessei
lentamente, o sinal. Nesse momento estava no amarelo. Fui em frente, mastigando
reflexões acerca do porquê do verde e do vermelho no semáforo.
fim
Nenhum comentário:
Postar um comentário