quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Menina do Rochedo - Parte 10

Continua...
     - Sei lá. Na verdade são inimigos casuais. Eu acho que não são verdadeiramente meus inimigos. Os caras nem me conhecem. Agora... Me diz aí! Por que os caras estão querendo me pegar?
     - Quer uma resposta. Vai lá: não sei. Eu nem sei por que me mataram. Engraçado. Já que estou morto, deveria saber. Você não acha?
     - Não sei. Não estou morto.
     - Mas está quase. Olha só. Você já deu uma porção de volta em torno do rochedo. Daqui a pouco você bate. Sai logo fora daqui. Xii! Lá vem o helicóptero! Embica essa droga e vamos fugir! Mas cuidado pra não bater numa dessas ilhotas! Se bater em algum lugar, vou desmontar todo! E você, meu caro amigo, morre! Eu já estou do outro lado mesmo! O chato vai ser montar o meu esqueleto! Acerta essa droga. Olha só! Essa porra está rodando! Vamos cair!
     - Que droga! Quer parar de falar? Nunca pilotei uma coisa dessas! Tenho que me concentrar! Por favor, tira essa cara da minha frente. Assim eu vou achar que já morri. Fica em pé aí em cima e chama a atenção dos caras. De repente eles se assustam e deixam a gente em paz.
     - Tá legal! Achei isso uma boa ideia!
     - Mas tira essa cara aí da minha frente! Porra! Omar!
                     E agora? Como eu vou sair dessa? E a menina do rochedo? Ela sumiu. Agora que estava acreditando que realmente queria me ajudar, a sacana evapora. E essa da caveira? Só pode ser minha imaginação. Vou fazer um teste.
     - Omar!
     - Me chamou?
     - Pode tirar a cara daí. Está tudo bem. Era só pra saber se você continuava aí em cima.
     - Estou firme e forte. O helicóptero passou direto. Vou acenar para eles. Cara! Vira para esquerda! A gente vai se chocar com aquela ilhota! Vira logo cara! Assim a gente vai se ferrar!
     - Como é que a gente vira essa droga?
     - E eu sei lá? Faz qualquer coisa ai, senão a gente vai se espatifar naquelas pedras! Ou melhor: você é que vai se estrepar! Eu já fui para o brejo mesmo!  O mais chato é que vão ter que juntar os meus ossinhos! E a pedra está se aproximando! Cara! Ela está pertinho!
     - Fica frio que a gente vai se safar!
     - Não quero nem ver!
     - Consegui! Consegui! Puxa! Essa foi por pouco! E agora o que é que eu faço?
     - Continua assim! E vamos em frente!
                    Até que essa maluquice está gostosa. E o medo de altura, pra onde foi? Mas o meu coração está querendo sair pela boca de qualquer jeito! Puxa! 
      - Ô cara! Você já deu uma porção de voltas nessa ilha! Porra cara! Estou ficando embrulhado! Acho que vou vomitar!
     - Hei! Qual é? Você se esqueceu que é uma caveira? Omar, eu nunca vi caveira vomitar!
     - Sou uma caveira diferente. Cara! Eu tenho sentimentos! Eu me apeguei a você! Acha  que foi fácil eu me erguer e falar? Você meu deu forças para me levantar e me apresentar do jeito que estou! Só consegui isso pelo apoio que você me deu! “Nunca em tempo algum nesse país” uma caveira se levantou do túmulo e saiu para ajudar o seu irmão! É isso que eu te considero: um irmão! Pronto falei!
     - Belo discurso. Me comoveu.  E eu pensei que tivesse criado você. Um simples e complicado fruto da minha imaginação.  E você existe. Aí é que está o problema. Você existe.
     - Por favor. Presta atenção. Você é o piloto. Porra cara! Daqui a pouco a gente vai se chocar com uma dessas ilhotas! Tira a gente daqui! Tira a gente daqui! Pelo amor de Deus! Você já deu uma porção de voltas em torno dessas ilhas! Olha só! Os caras estão lá embaixo esperando a gente cair! A gente vai se ferrar!
    - Deixa comigo. Já estou pegando o jeito da coisa. Quem tinha que estar preocupado em cair, seria eu. Se a gente cair, você não vai morrer de novo. Então relaxa. Mas antes tira essa cara feia da minha frente. Isso. Vamos que estou ficando fera!
    - Meus Deus! Cara, se eu não tivesse morrido, com certeza já estaria todo cagado! Você é muito maluco! Acho que se estivesse vivo, jamais seria seu amigo! Você é um cara cheio de medos, mas em compensação faz coisas que uma pessoa normal jamais faria!
    - Você é cagão demais. Nunca vi uma caveira com tanto medo. Agora eu só quero saber como pousar essa droga. Não me deixa nervoso. Preciso de muita calma.
    - Você não sabe? Agora é que lascou! Quer uma opinião?
    - Vamos lá. Pode dizer. Sou todo ouvido. 
    - Eu acho que podemos nos machucar menos...
    - Machucar? Não quero nem pensar nisso! Eu já estava até mais calmo! Mas agora, estou  tremendo de tanto nervoso!  Fala logo!
    - Tá bom. Não precisa se agitar. Calminha. Tem solução pra tudo. E nós temos uma saída. 
    - Fala logo, cara! Agora estou ficando mais nervoso ainda!
   - Calma. Calminha. É o seguinte: pousa essa droga dentro d’água. 
    - Brilhante. Sabe que altura nós estamos? Não sabe? Então... Acho que estamos há mais de 100 metros da água. E eu não sei como baixar essa droga. Sabe o que pode acontecer? Dar uma porrada na lâmina d’água e a gente se espatifar todo. Só isso. 
    - Você é trágico. Olha como fazem as aves para pousar. É simples. Está vendo aquelas gaivotas? De repente você consegue aprender.
    - Novamente brilhante! Trágico, eu? É simples voar! A sua visão das coisas... Mas você não enxerga nada! Eu duvido se você via um palmo à frente do seu nariz! Isso, na época que tinha os dois olhos!  Meu filho! Se eu soubesse fazer o que as aves fazem, eu não seria homem! Imagina a cena: eu batendo asas e alçando voo! Estou mais é para avestruz, meu caro! Você já viu como àquelas gaivotas mergulham para pegar peixes? De repente... Xii! Acho que a gente vai é se da mal! Essa é que é a verdade!
   - Você é pessimista! Isso sim! E ainda me ofende! Para quem já me ofendeu várias vezes, mais uma não vai fazer a menor diferença, não é?  Pode ofender. 
    -Olha só quem está falando! Ainda está se sentindo ofendido? Qual é!  
    - Cara você fez o meu ouvido de pinico! Além de me comparar com político, mau médico... e mais uma porção de coisa ruim! Me ofendeu, sim!
    - Nada disso. Eu não comparei você com ninguém. Muito menos ofendê-lo.  Eu só desabafei um pouco.
    - Porra cara! Um pouco? Você alugou a minha orelha...
     - Ih! Ih! Que orelha? Já esqueceu que você é um monte de ossos? 
     - Não precisa me lembrar disso! Isso é sacanagem sua! Porra cara. Além de falar mal de mim, você ainda zoneou a minha cara.                                                                                                                            - Espera aí! Espera aí! Eu só tentei te embelezar!  Imaginou conversar com alguém sem olhos, orelhas, nariz e boca? É complicado! Eu tinha que fazer alguma coisa, para manter um diálogo com alguém que tinha partido dessa pra melhor!
     - Você quer dizer monólogo. Você falava e respondia. Cara eu acho que você é um tremendo maluco.
     - Acho também. Depois de tanto você me chamar. Agora, já estou até convencido. Difícil vai ser, quando eu sair daqui, explicar que tenho um amigo que é uma caveira. Você não acha?
   - Porra cara, você já falou isso. Deixa de me lembrar, de que já morri. Se você continuar pilotando mal essa droga, vai acabar sendo mais uma caveira. Aí quem vai tirar um sarro, serei eu. Se liga! Se não a gente vai bater naquela ilha! Quem avisa amigo é!
  - Vou nada! Estou pegando o jeito!
  - Pegando jeito nada! Você nem consegue pegar uma linha reta!
  - Estou tentando. Fica frio.
  - Fica frio? Se ficar mais frio, eu congelo! E tem mais: estou ficando enjoado!
  - Enjoado como? Nem estomago você tem mais.
  - Ih! É mesmo! Deve ser psicológico! Mas eu estou enjoado. Se eu não tenho mais estomago, devo estar enjoado de você. Você é um porre!
  - Eu sou um porre? Antes eu era seu amigo! Agora sou um porre? Muito engraçado você!
  - Cara equilibra essa droga, por favor. Vou acabar caindo. Já estou pendurado.
  - Bota essas pernas lá pra cima! Esses ossos estão atrapalhando a minha visão! Assim nós vamos bater! E a culpa vai ser sua!
  - Que saco! Você é muito ruim! E eu é que sou o culpado? Nunca vi, na minha vida, um cara pilotar tão mal uma asa delta! Acho melhor você apontar essa droga lá pra frente! Pelo menos, se cairmos, vai ser num local que só tem água! Aqui tá difícil! Parece que só tem pedra!
      - Lá pra frente, cara pálida, é alto mar! Aí mesmo é que a gente vai se ferrar! Deve ter tubarão, com o bocão aberto, esperando a gente! Vamos ser almoço pra algum branco, martelo, ou qualquer outro.  Temos que arranjar um jeito de pousar na areia. Isso seria o ideal. Mas bem longe daqui. Lá em baixo, nem pensar!

      - Realmente, se descermos aqui perto, eles nos pegam.  Pelo menos nisso concordamos. Aqui, tanto faz, na areia, na água ou terra firme, vamos ser presa fácil.  Mas na verdade, vão pegar só você. A mim, não vão ter mais nada pra pegar. O único ferrado vai ser você. Mas temos uma saída. Você não disse que uma menina te ajudou? Então, pede socorro a ela!
                   Continua semana que vem...

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