terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 92

 


Continuando...

           O caminho parecia que ainda era bem frequentado pelos adeptos da pesca esportiva e o pescador que realmente tirava dali o seu sustento, ou apenas para alimentar-se. Carl olhava aquilo tudo e a saudade brotava. Via as árvores que se espalhavam pela margem do rio e achava que não tinham crescido. Depois observou as do outro lado, que eram bem maiores, e que continuavam misturadas com arbustos e por grandes touceiras de capim. Essa mistura fazia uma barreira natural que dificultava a entrada para um lindo bosque. Local desconhecido pela maioria dos pescadores que frequentavam aquele pesqueiro.

            Carl não sabia exatamente a distância da entrada até o tal buraco. Um quilômetro era a sua estimativa. De repente um pouco mais ou até menos. Olhou para o marcador e viu a quilometragem. Depois pediu para Eva não tirar o olho dali e avisa-lo quando se aproximasse da quilometragem estimada.

            Desviava de um buraco, mas às vezes caía em outro. Quando isso acontecia olhava para Eva, arregalava os olhos e levantava os ombros, mas não dizia nada. A mulher então dava uma tapa no seu ombro e dizia:

           - Carl! Carl! Presta mais atenção! Só falta a gente cair dentro da tal cratera que você falou!

           - Vira a boca para lá, mulher! Como é que você quer que eu não caia em um buraco?  O caminho só tem buracos! É quase impossível não cair em nenhum!

           - Eu sei meu querido, é só para você ter mais cuidado.

           - Está bom. Veja quanto falta até o bueiro.

           - Pelo que estou vendo, falta menos de duzentos metros. Onde é o desvio?

          - É do lado. Eu me lembro que tem uma árvore antes um pouco do buraco. Uma não, são algumas. Elas invadem um pouco o caminho, aí temos que contorná-las e entrar um pouco por dentro do capinzal. Olha lá na frente, Eva! São as árvores que falei!

          Carl diminuiu a velocidade e contornou as árvores, depois entrou pelo capinzal, que quase cobriu o carro. Atravessou-o, sem problema algum. Estavam sãos e salvos. Pelo menos assim ele pensou. Parou o carro, mais ou menos, vinte metros à frente da cratera. A mulher olhou para ele e não entendeu o porquê de ele ter parado. Mas antes que ela questionasse, disse:

          - Você deve estar achando estranho eu parar, não é? É de propósito. Só estou querendo que eles nos vejam. Estamos a um passo da curva. Se eu sumir das vistas deles, podem parar. Fica tranquila, quando aparecerem, eu saio daqui. Acredito, vamos torcer, que ao nos avistarem, acelerem o carro. Aí vão ser engolidos pela cratera. Percebeu que não dá para ver o tal buraco?

           - Verdade. Mas você acha que vai dar certo? Estou com medo, Carl.

           - Se Deus quiser, vamos sair dessa enrascada. Eu também estou com medo, mas precisamos chamar a coragem. O medo não vai nos salvar.

          Enquanto os dois conversavam o carro dos policiais apareceu. Pelo menos dois agentes colocaram a metade dos corpos para fora e começaram a atirar. Uma bala atravessou o vidro traseiro e saiu pelo dianteiro, quase acertando Carl. Sem pensar duas vezes acelerou o veículo, fugindo do alcance das balas. As crianças acordaram assustadas e quando iam se levantando, a mãe gritou apavorada para que ficassem deitadas. Os tiros continuaram seguidamente, mas por sorte mais nenhum atingiu o carro.            

            Carl continuou com o pé apertando o acelerador até chegar no seu limite. O carro quase voou. Como ele conseguia mantê-lo na estrada, até aquele momento, não ia encontrar explicação. Nem precisava, só queria sumir, o mais rápido possível, do alcance das balas dos nazistas. E nem queria saber se tinha que tentar desviar dos buracos. Entrava em todos. O carro pulava tanto, que num momento, depois da curva, Carl perdeu o controle e entrou por dentro do capinzal. Por sorte não tinha nenhuma árvore no caminho, senão, com certeza, não sobraria ninguém para contar a história. Mal respiraram aliviados, ouviram uma explosão, que fez a terra tremer e sacudir o carro.  Estavam todos assustados, mas Carl deduzindo o que tinha acontecido, acalmou os filhos e a esposa.

            - Foi o carro que nos perseguia. Com certeza foi engolido pela cratera. Estamos livres. Vamos embora na paz de Deus.

            Deu ré no carro até sair de dentro do capinzal. Voltou para a estrada, mas agora andando mais devagar. Mesmo sem correr, chegou a tempo de ver uma língua de fogo que saía de dentro do buraco. Foi uma visão rápida, porque o veículo foi engolido rapidamente pela água, não deixando nenhum rastro. Carl parou do lado do buraco e ficou olhando para ter certeza se realmente não ficara nenhum vestígio.  Suspirou aliviado, apertou levemente a coxa da esposa, deu-lhe um beijo no rosto e acelerou o carro, para sair dali. Mas estava atento para desviar de todos os buracos que caíra na chegada.  

            O caminho agora parecia mais curto. Rapidamente, mesmo andando devagar, chegaram à via principal. Mas antes de entrar, Carl deu uma espiada para se certificar se a estrada estava liberada. Confirmando que não havia mais perigo, entrou na pista e rumou à Cochem. 

...........Continua Semana que vem!

 

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