sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 91

 


 Continuando...

           Carl tentava dirigir com tranquilidade, mas estava difícil. Pensou até em não olhar mais pelo retrovisor, entretanto parecia que seus olhos eram arrastados para ele feito um imã. Já estavam na estrada a mais de uma hora, mas que parecia uma eternidade. - Se estivesse correndo mais, - pensou - com certeza já estaria bem mais longe, mas não posso facilitar, não posso dar chance ao azar. Não posso colocar em risco a minha família. – e seus olhos encheram-se de lágrimas.

          A viagem ia em silêncio. As crianças já estavam dormindo no banco traseiro, um para cada lado. Frau Eva de vez em quando passava a mão na cabeça do marido, mas sem falar nada. Ela percebeu que Carl ainda estava tenso. Pensou em falar para que não ficasse nervoso, porém a sua situação não era diferente da dele. Então como dizer, fica calmo, Carl!, se ela precisava falar para si mesmo para não  ficar nervosa? A única coisa que encontrou para fazer, foi o carinho.

          Frau Eva virou-se para trás para ver como estavam os filhos, nisso seus olhos foram mais longe, indo mirar um brilho no fundo da estrada. A princípio não identificou o que era, mas com o passar do tempo o ponto brilhoso foi tomando forma e a silhueta de um veículo apareceu. Ela não queria acreditar que fosse o carro da polícia. Esperou mais um pouco para ter certeza. Mas essa espera podia ser perigosa. Então cutucou o marido e disse:

          - Carl. Carl. Está vindo um carro. Ainda não consegui identificar se é da polícia. Só sei que ele está vindo muito rápido. O que é que a gente faz?

          O marido olhou pelo retrovisor e tentou identificar. Mas só deu para perceber que era um carro preto. Mas no fundo sabia quem estava dentro. Não precisava nem perder tempo em adivinhações. Com certeza eram quatro demônios da Gestapo. Não podia perder tempo, pisar fundo no acelerador e se afastar o mais rápido possível, se quisesse salvar a própria pele e a da família. Fugir, fugir. Não podia arriscar. Uma solução imediata era, sair da estrada e se esconder por dentro do mato que margeava a estrada. Olhou para esposa e disse:

            - Querida vou apertar o acelerador. Não vou esperar que eles se aproximem da gente, para que possamos confirmar se é ou não da polícia. Mas não tenho dúvida. É a Gestapo. Sinto o cheiro daqueles mensageiros da morte. Vou arranjar um local para nos escondermos.

           - Onde?

           - Estou pensando.

           - Então pensa rápido, porque eles já nos viram, com certeza. 

           - Se não me engano, daqui a dois quilômetros tem um rio que corta a estrada. Antes da ponte tem uma estradinha bem esburacada. Aproximadamente um quilometro para dentro, tem uma grande cratera. Esse buraco dá para engolir um carro. Aparentemente ele é o ponto final, mas não é. Podemos passar pelo lado, contornando-o. É um capinzal que cobre um veículo, mas dá para se passar sem susto.  

           - Como você conheceu esse lugar?

           - Foi procurando um lugar bom para pescar. Isso tem muito tempo. Foi com o meu tio e o meu pai. Só não caímos no buraco, porque o meu pai já tinha ido lá, com um amigo algumas vezes. Ele se lembrou dali, por ser um lugar com fartura de peixe. Então ficou registrado na sua memória, por isso não caímos no buraco.

          - Então acelera! Vamos sumir da vista deles!

          - Pelo contrário. Eles têm que ver onde vamos entrar.

          - Mas assim eles vão nos pegar, Carl!

          - E você acha que vamos conseguir nos esconder deles? De jeito nenhum, Eva. Acho que ali é a nossa chance. O lugar é sombrio. Vamos torcer para que nos sigam.

          - Será que isso vai dar certo?

          - Espero que sim. Só Deus é quem sabe. Vamos deixar as crianças dormindo. Assim é melhor.

          A distância continuava mais ou menos a mesma entre os dois carros. A viatura dos policiais desenvolvia o máximo que podia. Já o carro de Carl vinha um pouquinho abaixo, mas pelos seus cálculos daria para chegar ao seu destino com um pouco de vantagem. Ele precisava que o carro da polícia não o perdesse de vista, até que entrasse no local em vista.

           Carl monitorava a viatura. Quando percebia que ela se aproximava, então pisava mais forte no acelerador, e assim foi até se aproximar da ponte e, finalmente, entrar na estrada secundária.

           A estrada estava praticamente no mesmo jeito, pessimamente conservada. Parecia que os buracos eram os mesmos. Nada mudara desde antes do início da guerra, quando Carl estivera ali com o seu pai, para a última pescaria juntos. Essa lembrança deixou-o um pouco abatido, mas não fora percebido pela esposa, pois não daria para ela saber se outra coisa o estava deixando preocupado, triste ou outra coisa qualquer.

            O carro dava saltos. Eva falou preocupada para o marido:

           - Carl. Vai mais devagar. Cuidado, senão o carro poderá sofrer alguma avaria. Se quebrar, eles pegam a gente!

           - Pode deixar. Vou procurar desviar, pelo menos dos maiores. Se formos devagar eles nos alcançam. Acho que vamos conseguir chegar ao bueiro antes que colem na nossa traseira.   

........Continua Semana que vem!

 

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