terça-feira, 14 de setembro de 2021

Coisas da Pandemia - Parte 1

 

COISAS DA PANDEMIA

José Timotheo

 


               Ainda não eram 22 horas, de uma sexta feira cinzenta. Passava eu por um lugar ermo, tentando livrar um pouco a minha mente do excesso de preocupações. Me sentia o dono do mundo. Só eu, corajosamente, perambulando por uma cidade que parecia sem vida. À pandemia da covid tinha afastado as pessoas das ruas. Não só ali estava vazio, o mundo todo estava deserto. As pessoas voltavam para as cavernas, em pleno século 21. Depois de mais 10 mil anos nos escondíamos  novamente dentro da terra. Mas existia, fiquei surpreso, além de mim, uma outra pessoa naquele pedaço de mundo, sob uma luz embaçada, vindo de um poste de iluminação pública e também de uma luz inconstante da lua, devido a algumas nuvens passantes.

            Curioso parei o carro um pouco à frente e apaguei os faróis. Aparentemente a pessoa nem percebeu, pois nem sequer se mexeu. Achei suspeito alguém àquela hora da noite ali sozinho, olhando para dentro de um rio, um rio sujo, velho conhecido meu, que passava por baixo dos seus pés. Caminhei vagarosamente até bem próximo, tentando não fazer qualquer ruído, para não chamar a sua atenção. Fui me chegando cauteloso e parei a uns dois metros. Me debrucei na mureta da ponte e fiquei apenas observando em silêncio, quebrado apenas pela correnteza do rio. Mas o que senti, não foi nada de bom. Fiquei todo arrepiado.

            O som que vinha de dentro do rio, parecia um falatório bem confuso, num tom bem baixo, dando a sensação de pessoas cochichando, tramando alguma coisa, falando sobre a vida alheia. Me veio à mente um julgamento. E ali vi o réu debruçado na mureta. –“ que coisa estranha. “ – pensei.

            A princípio não sabia se era homem ou mulher, a pessoa a    poucos metros de mim. Mas depois de algum tempo que meus olhos se acostumaram com a pouca luminosidade, identifiquei que era um homem, e parecia jovem. Não desgrudava os olhos da água barrenta, listrada com a sujeira do esgoto, um minuto sequer.  A chuva começara no dia anterior e só tinha abrandado naquele final de noite. Era muita chuva para quase inverno. 

.............Continua semana que vem!

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