terça-feira, 1 de setembro de 2020

Alma do Outro Mundo? - Parte 5

 


Continuando...

           Mais uma música terminou. Mas ninguém saiu do salão. Começou outra e eu já fui procurando alguma menina disponível para tentar sair do zero a zero. E o que aconteceu: fiquei lá em pé sem nada conseguir. Era mais um não acumulado na minha noite sem inspiração. Vou botar a culpa no azar. Só podia ser. Mas não desisti e tentei mais algumas vezes.  Depois dessa cansativa procura, cheguei à conclusão que as meninas da cidade não gostavam de forasteiros. Então ia ser perda de tempo continuar ali. Sentindo-me bem deslocado, virei-me nos calcanhares e voltei para o bar.

          - Quer mais um refrigerante? Aquele refrigerante?

          Balancei a cabeça afirmativamente para o senhor do bar. Ele sorriu e voltou com a coca cola e um copo, pelo meio, de cachaça. Ele mesmo colocou o refrigerante no copo, fazendo um comentário:

          - É difícil, não é? Aqui forasteiro sofre! Enquanto ninguém te conhecer, vai ser assim mesmo. Você tem que fazer amizade com um, com outro. Tem uns garotos aí que são gente boa. Você tem que se aproximar deles. Aí vai funcionar. Vai por mim!

         Eu agradeci a dica e voltei para mesa. Bebi meu refrigerante e esperei que o meu amigo voltasse com Rosa. Tinha decidido que não ia ficar mais ali. Resolvi ficar sozinho em qualquer lugar na rua, pensando a minha vida. De repente lá fora, sem pretensões, apareceria alguma menina na mesma situação que a minha: só.

          Mais uma música terminou. Pensei que o amigo fosse vir para mesa, mas não aconteceu. Então entrei no meio do pessoal e fui até ele, e avisei sobre a minha decisão. Ele ainda tentou me fazer recuar, mas desisti. Rosa me olhou com leve sorriso de desdém. Mas mesmo assim achei que ela poderia ser a minha salvação, apresentando-me alguma menina. Entretanto, no fundo tinha certeza, que ela não ia mexer uma palha sequer para me ajudar. E realmente se lixou para a minha situação. Então virei nos calcanhares e fui em direção à saída da rua.

          Mal saí do clube, um vento frio quase me fez dar meia volta e entrar novamente. Resisti e continuei em frente, caminhando pela rua deserta. Fiquei na dúvida se ficava por ali pegando aquela friagem ou ia para o hotel. Cheguei até escolher a segunda hipótese, mas veio logo à minha cabeça a imagem da lourinha desdentada. Optei então em ficar por ali mesmo.

           Atravessei a rua e vi uma praça, que estava também deserta. Escolhi um banco debaixo de uma árvore e me sentei. Olhei ao redor e percebi que mais à frente tinha uma igreja. Pelo menos ali estava bem protegido. Decidi ficar até que o baile terminasse. Sabia que ia ser uma espera longa, mas era a melhor opção. 

          Não sei bem o tempo em que estava exposto àquela friagem, que doía até os ossos. Uma hora? Duas? Não sei mesmo. Levantei-me para movimentar-me um pouco, pois já sentia as pernas um pouco enrijecidas. Mesmo protegido pela árvore, a sensação era de que peneirava em cima de mim, uma chuvinha fina de doer!

          Permanecer ali estava difícil. Pensei em ir para a igreja, mas imediatamente lembrei-me que estava fechada. Então a outra opção seria ir para o hotel. Aí veio a imagem da lourinha sorrindo. Desisti, novamente, sem nenhuma dúvida. Sentei-me meio murcho. – Só Deus! – falei baixinho. Sem saber o porquê, no mesmo instante, estiquei o olhar para a igreja. Era a casualidade conspirando a favor, pois no meio do caminho vi uma deusa. Isso mesmo, uma Deusa! E só foi pensar em Deus! Percebi que as coisas estavam mudando.

           Num banco bem próximo, estava sentada uma linda menina, que não devia ter mais do que vinte anos. Quando nossos olhos se encontraram, ela sorriu tão docemente que brotou em mim uma alegria indescritível. Sorri sem perceber. Acho que foi o maior sorriso que já dei na minha vida. Aquele sorriso de orelha a orelha. O coração pulava tanto, batia tão descompassado, que pensei que fosse morrer. Tentei levantar-me, mas senti as pernas completamente bambas. Tremia, feito vara verde.

           Ela continuava sorrindo. Não sei se tinha percebido a minha emoção. Não podia continuar sentado, então, com os olhos fechados, respirei fundo e decidido levantei-me. Quando olhei em sua direção, ela também já estava de pé.  Não tinha percebido que ela levantara junto comigo. Mas como poderia ter visto, se fechei os meus olhos?!

           O sorriso não se desfazia nunca dos seus lábios. Tive a sensação que até os seus olhos, de um verde claro brilhante, também sorriam. Nesse momento ela estava bem de frente para mim.  De repente os seus cabelos, parecendo fios de ouro, balançaram-se soltos no ar. Onde o vento, que não senti e nem sacudiu as folhas dos arvoredos?  Que importava isso, naquele momento mágico?

..........Continua Semana que vem!!

 

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