O CASO DOS OLHOS AZUIS
-José Timotheo-
O som de uma sirene cortava o
silêncio da madrugada.
- Dr. Carlos Alberto, o que vamos
fazer? Com esse corpo aí, já são dezesseis! Dezesseis cadáveres, Dr.! Isso é
muito intrigante! As características são as mesmas! Todos faltam os olhos!
Falava o comissário Miro, ao
delegado, que pensativo, as mãos sob o queixo, os cotovelos apoiados na viatura
policial, tinha o olhar pedido na imensidão do infinito. Coçava a cabeça de vez
em quando. Mas
a expressão era de que não tinha chegado, ainda, a nenhuma conclusão. O máximo
que tinha era suposições. Ergueu o corpo e ficou encostado na porta do veículo.
Olhou para o comissário e disse:
- Miro, isso está parecendo...
- Parecendo não! Isso é uma tremenda
batata quente, delegado!
O Delegado fica surpreso com a
presença do repórter e pergunta:
- Oh, PC! O que é que você está fazendo
por aqui? São três horas da matina, cara!
O repórter, como era do seu hábito, estava
com o seu bloco de papel e caneta na mão, a sua inseparável bolsa a tira colo,
já pronto para o trabalho. Antes de responder, bateu no ombro do delegado e
disse:
- Aí Dr.! Parece que a notícia chega
junto comigo! Com certeza é mais um furo de reportagem! É mais uma boa notícia
que cai no meu colo! Moro aqui do lado! Ouvi essa zoeira infernal e vim ver o
que era! Delegado, sabe de uma coisa. Vou dar minha opinião. O senhor sabe que
eu tenho faro! Sabe! Não sabe? Não tenho nenhuma dúvida que o serviço, nesses
dezesseis cadáveres, foi feito por um profissional de primeira! Tem mão de
médico nessa história, Dr.! Concorda comigo?
- PC, realmente você tem razão. Era
mais ou menos isso o que ia falar pra Miro, quando você chegou. Certeza! Certeza!
Eu não tenho. Se o assassino é médico, não posso afirmar. Mas que é da área,
isso ele é!
- Delegado, esse cadáver está com algum
documento?
- Está sim. Estava com uma capanga
presa ao pulso. No seu interior achamos uma carteira de identidade. Está aqui
no carro. O nome é Aberlado.
O repórter fica pensativo, mas em
seguida fala:
- Delegado, posso dar uma olhadinha?
- Tudo bem. Rapidinho. E não me tira
nada de dentro, tá bem?
- Sem problema. Dou uma olhadela
rápida.
PC abre a capanga e começa a olhar
o seu interior. Encontrou de interessante, uma cópia da carteira de identidade
e meia dúzia de retratos coloridos, 3x4. De repente, olhando para a foto, faz
uma cara de surpresa. Coça a cabeça e
fala para o delegado:
- Olha aqui delegado! Olha essa
foto! Dr. Carlos, esse também tinha os
olhos azuis! Todos tinham os olhos azuis, não é isso? É muita coincidência, não
acha?
- Bota coincidência nisso, PC! Sabe que
eu já tinha observado esse detalhe! Cara, só pode ser maníaco quem faz uma
coisa dessas! É uma coincidência tenebrosa!
Sou um cara cascudo, mas isso aí tá me deixando impressionado!
- Tá ficando velho?
- Que velho nada! Isso aí é coisa de
demônio! Sabe de uma coisa: nos primeiros corpos que foram achados, até
ventilei a hipótese de estarem retirando as córneas para vender. A gente sabe
que existe uma gang vendendo, não só córnea, mas outros órgãos também. Agora eu
te pergunto: pra quê arrancar os olhos? Nesse instante eu já tenho dúvida se
tem, realmente, alguma gang envolvida nisso. Pra quê tirar os olhos, cara? E só
olho azul! Em dois meses, já temos dezesseis cadáveres! Não sei mais o que
pensar!
- Sorte que eu tenho olho castanho!
- E você ainda ri, PC?
- Só pra descontrair um pouco,
delegado. Estou subindo. Mais tarde a gente se fala.
O dia começava a clarear. PC já
tinha subido e se deitado em sua cama, mas não tinha conseguido dormir. Não
pregou olhos. A cena não saía da sua cabeça. Virou na cama mais que bife na
frigideira. Olhou para o telefone que estava na cabeceira. Ameaçou pegar, mas
desistiu. Olhou para o despertador e viu que passava um pouquinho das seis.
Dessa vez sem pestanejar, pegou o celular e discou. Do outro uma voz sonolenta
reclamou:
- Porra, PC! Você já viu a hora? São
seis horas! Deixa eu dormir mais um pouquinho, cara! Tá legal?
- Nada disso Marcão! Um bom repórter
tem que ter os olhos bem abertos, tá falado? E você é apenas um foca! Se quiser
ser um repórter de verdade, tem que ir a luta! Se prepara que daqui a pouco eu
e Vermelho vamos passar por aí! Vamos trabalhar, cara!
Logo após esse telefonema, PC ligou
para o motorista, que morava próximo, e o pegou ainda sentado numa mesa de um
bar. Não reclamou, mas, depois de um muxoxo, disse que ia passar em casa e
tomar um banho.
Às sete e quinze já estavam pegando
Marcão, que dentro do carro questionou-o:
- PC, pra onde a gente vai tão cedo?
- Sabe desde que horas eu estou
acordado? Três horas da matina!
- Estava com insônia?
- Você já viu PC com insônia, menino?
Sabia que apareceu outro presunto, sem olhos? E sabe onde foi isso? Perto de
casa! Sabia que esse também tinha olhos azuis? É isso aí, meu caro!
Deu uma pequena pausa, olhou para a
cara do estagiário e continuou:
- Estou com uma ideiazinha aqui, pra
esse caso... E o chefe me manda pra Saquarema, acompanhar um torneio de surfe!
Eu, PC, um repórter de polícia! Pode isso?
Enquanto PC falava, Vermelho
esfregava os olhos, tentando ficar aceso. Era uma viagem que não estava nos
seus planos. Mas o que fazer? Quando chegasse ao município de Saquarema,
encostava o carro em qualquer cantinho e tirava uma pestana.
Trafegava devagar. A atenção estava
dobrada. Nisso, próximo a um cruzamento, viu três caras tentando colocar um
rapaz dentro de um carro. Achou estranho e falou:
- PC, o que é aquilo ali?
- Ih! Tão querendo botar um cara à
força dentro do carro! Para e buzina essa joça! Faz bastante barulho, Vermelho!
...Continua semana que vem!
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