quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 1

                               O CASO DOS OLHOS AZUIS
       -José Timotheo-      

          O som de uma sirene cortava o silêncio da madrugada.
          - Dr. Carlos Alberto, o que vamos fazer? Com esse corpo aí, já são dezesseis! Dezesseis cadáveres, Dr.! Isso é muito intrigante! As características são as mesmas! Todos faltam os olhos!
          Falava o comissário Miro, ao delegado, que pensativo, as mãos sob o queixo, os cotovelos apoiados na viatura policial, tinha o olhar pedido na imensidão do infinito. Coçava a cabeça de vez em quando. Mas a expressão era de que não tinha chegado, ainda, a nenhuma conclusão. O máximo que tinha era suposições. Ergueu o corpo e ficou encostado na porta do veículo. Olhou para o comissário e disse:
         - Miro, isso está parecendo...
         - Parecendo não! Isso é uma tremenda batata quente, delegado!
           O Delegado fica surpreso com a presença do repórter e pergunta:
        - Oh, PC! O que é que você está fazendo por aqui? São três horas da matina, cara!
      O repórter, como era do seu hábito, estava com o seu bloco de papel e caneta na mão, a sua inseparável bolsa a tira colo, já pronto para o trabalho. Antes de responder, bateu no ombro do delegado e disse:
         - Aí Dr.! Parece que a notícia chega junto comigo! Com certeza é mais um furo de reportagem! É mais uma boa notícia que cai no meu colo! Moro aqui do lado! Ouvi essa zoeira infernal e vim ver o que era! Delegado, sabe de uma coisa. Vou dar minha opinião. O senhor sabe que eu tenho faro! Sabe! Não sabe? Não tenho nenhuma dúvida que o serviço, nesses dezesseis cadáveres, foi feito por um profissional de primeira! Tem mão de médico nessa história, Dr.! Concorda comigo?  
         - PC, realmente você tem razão. Era mais ou menos isso o que ia falar pra Miro, quando você chegou. Certeza! Certeza! Eu não tenho. Se o assassino é médico, não posso afirmar. Mas que é da área, isso ele é!
        - Delegado, esse cadáver está com algum documento?
        - Está sim. Estava com uma capanga presa ao pulso. No seu interior achamos uma carteira de identidade. Está aqui no carro. O nome é Aberlado. 
            O repórter fica pensativo, mas em seguida fala:
         - Delegado, posso dar uma olhadinha?
         - Tudo bem. Rapidinho. E não me tira nada de dentro, tá bem?
         - Sem problema. Dou uma olhadela rápida.
            PC abre a capanga e começa a olhar o seu interior. Encontrou de interessante, uma cópia da carteira de identidade e meia dúzia de retratos coloridos, 3x4. De repente, olhando para a foto, faz uma cara de surpresa.  Coça a cabeça e fala para o delegado:
        - Olha aqui delegado! Olha essa foto!  Dr. Carlos, esse também tinha os olhos azuis! Todos tinham os olhos azuis, não é isso? É muita coincidência, não acha?
        - Bota coincidência nisso, PC! Sabe que eu já tinha observado esse detalhe! Cara, só pode ser maníaco quem faz uma coisa dessas! É uma coincidência tenebrosa!  Sou um cara cascudo, mas isso aí tá me deixando impressionado!
        - Tá ficando velho?
        - Que velho nada! Isso aí é coisa de demônio! Sabe de uma coisa: nos primeiros corpos que foram achados, até ventilei a hipótese de estarem retirando as córneas para vender. A gente sabe que existe uma gang vendendo, não só córnea, mas outros órgãos também. Agora eu te pergunto: pra quê arrancar os olhos? Nesse instante eu já tenho dúvida se tem, realmente, alguma gang envolvida nisso. Pra quê tirar os olhos, cara? E só olho azul! Em dois meses, já temos dezesseis cadáveres! Não sei mais o que pensar!
         - Sorte que eu tenho olho castanho!
         - E você ainda ri, PC?
         - Só pra descontrair um pouco, delegado. Estou subindo. Mais tarde a gente se fala.
            O dia começava a clarear. PC já tinha subido e se deitado em sua cama, mas não tinha conseguido dormir. Não pregou olhos. A cena não saía da sua cabeça. Virou na cama mais que bife na frigideira. Olhou para o telefone que estava na cabeceira. Ameaçou pegar, mas desistiu. Olhou para o despertador e viu que passava um pouquinho das seis. Dessa vez sem pestanejar, pegou o celular e discou. Do outro uma voz sonolenta reclamou:
          - Porra, PC! Você já viu a hora? São seis horas! Deixa eu dormir mais um pouquinho, cara! Tá legal?
         - Nada disso Marcão! Um bom repórter tem que ter os olhos bem abertos, tá falado? E você é apenas um foca! Se quiser ser um repórter de verdade, tem que ir a luta! Se prepara que daqui a pouco eu e Vermelho vamos passar por aí! Vamos trabalhar, cara!
            Logo após esse telefonema, PC ligou para o motorista, que morava próximo, e o pegou ainda sentado numa mesa de um bar. Não reclamou, mas, depois de um muxoxo, disse que ia passar em casa e tomar um banho.
            Às sete e quinze já estavam pegando Marcão, que dentro do carro questionou-o:
        - PC, pra onde a gente vai tão cedo?
        - Sabe desde que horas eu estou acordado? Três horas da matina!
        - Estava com insônia?
        - Você já viu PC com insônia, menino? Sabia que apareceu outro presunto, sem olhos? E sabe onde foi isso? Perto de casa! Sabia que esse também tinha olhos azuis? É isso aí, meu caro!
           Deu uma pequena pausa, olhou para a cara do estagiário e continuou:
         - Estou com uma ideiazinha aqui, pra esse caso... E o chefe me manda pra Saquarema, acompanhar um torneio de surfe! Eu, PC, um repórter de polícia! Pode isso?
            Enquanto PC falava, Vermelho esfregava os olhos, tentando ficar aceso. Era uma viagem que não estava nos seus planos. Mas o que fazer? Quando chegasse ao município de Saquarema, encostava o carro em qualquer cantinho e tirava uma pestana.
            Trafegava devagar. A atenção estava dobrada. Nisso, próximo a um cruzamento, viu três caras tentando colocar um rapaz dentro de um carro. Achou estranho e falou:
          - PC, o que é aquilo ali?

          - Ih! Tão querendo botar um cara à força dentro do carro! Para e buzina essa joça! Faz bastante barulho, Vermelho!
                             ...Continua semana que vem!

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