A HISTÓRIA QUE DEU ORIGEM
A
HISTÓRIA,
“O CASO DOS OLHOS AZUIS”
- José Timotheo -
Entrei no jornalismo pelas mãos
de um amigo. Um grande repórter de Niterói. Ele era um dos melhores repórteres
policiais. Naquele tempo os grandes jornalistas não tinham cursado a faculdade.
Tenho dúvidas se na época já tinha alguém formado. Não sei. Não me recordo. Só
sei que todos que conheci, eram grandes profissionais. E eles não precisavam de
faculdade alguma para mostrar que eram capazes. Já nasceram feitos. Eram feras!
Soube que alguns continuam operantes. Eu fiquei apenas alguns anos, mas ali foi
a minha primeira grande escola. Eu tinha vinte e dois anos.
Esse meu amigo fez uma
brincadeira comigo. Mas eu encarei como um desafio. Na presença de todos da
redação – sucursal de um jornal, em Niterói (prefiro não citar o nome) - me deu
uma incumbência. Se cumprida, estaria empregado. Caiu bem a proposta. Precisava
de um emprego. Mas nunca podia imaginar que seria de repórter. Fiquei
empolgado. Disse-me que seria de pura investigação. – O que seria? – estava
ansioso. Sorriu e passou-me a tarefa: - Cara. Queremos que você descubra o nome
de uma criança que morreu de meningite, em um colégio de Icaraí. – falou e
entregou-me um papel com o nome e o endereço do tal colégio. Sorri, achando o
desafio tranquilo. Achei que era só chegar e perguntar. Moleza! Peguei o papel,
dobrei-o e o enfiei no bolso da minha calça jeans ensebada. Nunca pensei que
seria tão fácil arranjar um emprego, sem precisar correr tanto atrás. Estava
caindo no meu colo. Perguntei sorridente, quando poderia começar a
investigação. Disse-me: - Agora. – Lembro-me do horário (não sei por que a
posição dos ponteiros do relógio não foi varrida da minha cabeça): 9h e 15 min.
Esse meu amigo e um fotógrafo já estavam de saída para a ronda diária pelas
delegacias. Os dois eram ótimos. Uma dupla e tanto. Depois nos tornamos um
trio. Tinha sede de aprender. E não descolava nunca deles. Desci junto. Aí
começou a minha peregrinação.
Fui pra rua. Pegar ônibus nem
pensar. A grana estava espremida. Saí do centro de Niterói e fui a pé até o
Campo de São Bento. Achei o colégio fácil. Só que estava fechado. Chamei para
ver se aparecia alguém e nada. Mas não arredei pé do portão. Naquela época era
um cara teimoso. De vez em quando batia palma, chamava pra ver se alguém
aparecia, gritava pra chamar a atenção e continuava tudo na mesma. Acho que
alguém sentiu pena de mim, ou já estava de saco cheio e resolveu dar às caras.
Já estava de plantão havia mais de duas horas. O senhor, não disse, mas deve
ter me achado chato. Veio andando devagar, mascava alguma coisa, que não deu
pra saber o que era, e perguntou-me o que eu queria. Fui direto: qual o nome da
criança que morreu de meningite? O senhor olhou pra mim e, saindo de banda,
disse: - Sei não! Morreu ninguém aqui não! – Antes que ele sumisse, falei: -
Ué! Disseram-me que o senhor sabe! – Ele voltou, olhou na minha cara e disse: -
Quem disse isso, não sabe das coisas! É um mal informado! Vai até o posto de
saúde em Santa Rosa e pergunta lá! – Lá fui eu para o bairro de Santa Rosa. Lá
também ninguém sabia. Assim disseram. Insisti tanto, que uma atendente disse
para eu me informar no Hospital Antônio Pedro. Rodei tanto por dentro desse
hospital, que já estava com as canelas doendo. Cada setor que ia alguém me
dizia que não sabia de nenhum caso de meningite na cidade. Olhei para o meu
relógio de pulso e estava marcando 14:30 h. Pensei em desistir. Já estava
caminhando para a saída, quando alguém me chamou. Olhei pra trás e me deparei
com uma amiga, estudante de enfermagem da UFF (Universidade Federal
Fluminense). Não a via há muito tempo. Veio me deu um beijo e perguntou: - Cara!
O que é que você está fazendo por aqui? – Expliquei tudo sobre a minha
via-crúcis. A menina sorriu e disse: - Se o menino tiver dado entrada aqui, o
meu namorado vai me dizer. – Mandou-me esperar ali e rodou nos calcanhares. Dez
minutos depois, voltou. Levou-me para um canto, longe dos olhares de uns seus
amigos curiosos e confidenciou-me: - A tal criança passou por aqui, mas foi
encaminhada para o Hospital Santa Cruz. O nome é Carlos. Não fala pra ninguém.
Isso é segredo. Não pode dizer que a informação partiu daqui. Só sabemos isso.
– E o sobre nome? – perguntei. Disse que não sabia. Despedi-me e parti para o
HSC.
Subia uma ladeira e pensava em como
descobrir o nome completo do menino. A barriga roncava de fome. Já passava das
15:00 h. Parei na porta para descansar. Ainda não tinha encontrado um jeito
para fazer a abordagem à recepcionista. Entrei e fui direto a um bebedouro
próximo ao balcão da recepção. Bebi bastante água para afogar a fome. Depois
tomei coragem para perguntar. Nisso chegou uma menina, entrou na minha frente,
e pediu informações de um parente. A recepcionista perguntou o nome. Ela
simplesmente disse: - Paulinho (não me recordo se era esse). A recepcionista
olhou na lista e falou: - Aqui tem duas pessoas com o nome de Paulo. Paulo A.
(como exemplo) e Paulo B. (como exemplo). – A menina confirmou o segundo. A
recepcionista deu as informações devidas e disse que o internado ainda não
estava podendo receber visitas. Aproveitando o gancho, lá fui eu. Aproximei-me
e perguntei: - Gostaria de saber como está o estado de saúde de Carlinhos. –
Ela olhou na lista e disse: - É Carlos P.?(como exemplo) Só tem esse nome aqui.
– Pensei um pouquinho e falei: - Se for uma criança, é. Como tem tanta gente
com nome parecido, ficamos na dúvida, né? Ele deu entrada com meningite. – Ela
olhou pra mim, estampou um ar triste e perguntou: - Você é parente? – Confirmei
que o menino era meu sobrinho. Ela então procurou falar com cuidado. Disse-me
que os médicos tentaram de tudo para reverter o quadro, mas o óbito acabou
ocorrendo. Ele tinha falecido pela manhã. Saí dali triste com o fato. Acho que
a criança tinha aproximadamente cinco anos. Fiquei pensando na recepcionista
que, mesmo lidando com a morte diariamente, ainda demonstrava bons sentimentos.
A gente presencia tantos descasos com a vida alheia, que acaba ficando surpreso
quando encontra alguém que ainda se entristecesse com a tristeza dos outros.
Desci a ladeira e fui para a
redação, que não era muito distante dali. Parecia que tinha dado a volta ao
mundo, quando o caso foi resolvido praticamente do lado. Cheguei antes das
16:00 h. Fui entrando na sala, sendo recebido com um cheiro de café entrando
pelas minhas narinas. O grupo rodeava a mesa do chefe da redação, papeando e
bebendo café. Dei um alô. Dos três repórteres, um se virou e falou: - Chegou na
hora, Timotheo! Vamos tomar um cafezinho pra arrancar o cansaço dessa cara? –
Peguei o copo que me oferecia. O meu
amigo ficou me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa. Percebi um
sorriso escondido por detrás do bigode. Não tenho certeza se ele achou que eu
tinha fracassado. Tomei o café de um gole só. Senti de imediato que as minhas
forças estavam sendo acordadas. Não falei nada, mas entreguei um papel com o
nome completo do garoto e o nome do hospital que tinha acontecido o óbito. Ele
leu. Mostrou-o para os outros repórteres e entregou-o ao chefe. Esse deu uma
olhadela, torceu a boca e devolveu para o amigo. Parecia que o papel estava
quente. Ele recebeu de volta e disse: - E aí, fulano! (não me recordo do nome
do chefe) E agora? Promessa é promessa! O garoto está empregado? – O chefe deu
uma resposta rápida:- O que fazer! Que se cumpra o prometido! – Aí foi o meu
início.
Sobre o caso do menino, fiquei
sabendo que nenhum jornal tinha conseguido a informação. Foi assim que me
tornei um foca.
Nesse jornal consegui aprender alguma
coisa. Fiquei ali, pouco tempo. Depois passei para outros e o aprendizado
continuou. Agora, o que tem haver isso tudo que escrevi, com “O CASO DOS OLHOS
AZUIS”? Vou explicar. No período que trabalhei na imprensa, houve algum rumor
sobre tráfico de órgãos. As suspeitas,
não me lembro se foram verdadeiras. Só sei que a minha imaginação foi longe. Juntei isso, com um corpo encontrado no mar,
que apresentava o rosto completamente desfigurado. Chamou-me a atenção a falta
de um olho. Parecia que tinha sido comido por criaturas marinhas. Poucos dias
após o ocorrido, veio-me a ideia de escrever um texto, tendo como personagem
principal o meu amigo PC. Nesse tempo todo, a história ficou dormindo sobre
algumas linhas. Agora resolvi reescrevê-la. Vamos lá.
OBS. Todos os nomes são fictícios.
Acompanhe a história “O caso dos olhos azuis”. a partir da semana que vem!.
Acompanhe a história “O caso dos olhos azuis”. a partir da semana que vem!.
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