quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A história que deu origem a história, “O caso dos olhos azuis”.

                                 
                  
A HISTÓRIA QUE DEU ORIGEM 
A HISTÓRIA, 
“O CASO DOS OLHOS AZUIS”

                                            - José Timotheo -    

              Entrei no jornalismo pelas mãos de um amigo. Um grande repórter de Niterói. Ele era um dos melhores repórteres policiais. Naquele tempo os grandes jornalistas não tinham cursado a faculdade. Tenho dúvidas se na época já tinha alguém formado. Não sei. Não me recordo. Só sei que todos que conheci, eram grandes profissionais. E eles não precisavam de faculdade alguma para mostrar que eram capazes. Já nasceram feitos. Eram feras! Soube que alguns continuam operantes. Eu fiquei apenas alguns anos, mas ali foi a minha primeira grande escola. Eu tinha vinte e dois anos.
              Esse meu amigo fez uma brincadeira comigo. Mas eu encarei como um desafio. Na presença de todos da redação – sucursal de um jornal, em Niterói (prefiro não citar o nome) - me deu uma incumbência. Se cumprida, estaria empregado. Caiu bem a proposta. Precisava de um emprego. Mas nunca podia imaginar que seria de repórter. Fiquei empolgado. Disse-me que seria de pura investigação. – O que seria? – estava ansioso. Sorriu e passou-me a tarefa: - Cara. Queremos que você descubra o nome de uma criança que morreu de meningite, em um colégio de Icaraí. – falou e entregou-me um papel com o nome e o endereço do tal colégio. Sorri, achando o desafio tranquilo. Achei que era só chegar e perguntar. Moleza! Peguei o papel, dobrei-o e o enfiei no bolso da minha calça jeans ensebada. Nunca pensei que seria tão fácil arranjar um emprego, sem precisar correr tanto atrás. Estava caindo no meu colo. Perguntei sorridente, quando poderia começar a investigação. Disse-me: - Agora. – Lembro-me do horário (não sei por que a posição dos ponteiros do relógio não foi varrida da minha cabeça): 9h e 15 min. Esse meu amigo e um fotógrafo já estavam de saída para a ronda diária pelas delegacias. Os dois eram ótimos. Uma dupla e tanto. Depois nos tornamos um trio. Tinha sede de aprender. E não descolava nunca deles. Desci junto. Aí começou a minha peregrinação.
            Fui pra rua. Pegar ônibus nem pensar. A grana estava espremida. Saí do centro de Niterói e fui a pé até o Campo de São Bento. Achei o colégio fácil. Só que estava fechado. Chamei para ver se aparecia alguém e nada. Mas não arredei pé do portão. Naquela época era um cara teimoso. De vez em quando batia palma, chamava pra ver se alguém aparecia, gritava pra chamar a atenção e continuava tudo na mesma. Acho que alguém sentiu pena de mim, ou já estava de saco cheio e resolveu dar às caras. Já estava de plantão havia mais de duas horas. O senhor, não disse, mas deve ter me achado chato. Veio andando devagar, mascava alguma coisa, que não deu pra saber o que era, e perguntou-me o que eu queria. Fui direto: qual o nome da criança que morreu de meningite? O senhor olhou pra mim e, saindo de banda, disse: - Sei não! Morreu ninguém aqui não! – Antes que ele sumisse, falei: - Ué! Disseram-me que o senhor sabe! – Ele voltou, olhou na minha cara e disse: - Quem disse isso, não sabe das coisas! É um mal informado! Vai até o posto de saúde em Santa Rosa e pergunta lá! – Lá fui eu para o bairro de Santa Rosa. Lá também ninguém sabia. Assim disseram. Insisti tanto, que uma atendente disse para eu me informar no Hospital Antônio Pedro. Rodei tanto por dentro desse hospital, que já estava com as canelas doendo. Cada setor que ia alguém me dizia que não sabia de nenhum caso de meningite na cidade. Olhei para o meu relógio de pulso e estava marcando 14:30 h. Pensei em desistir. Já estava caminhando para a saída, quando alguém me chamou. Olhei pra trás e me deparei com uma amiga, estudante de enfermagem da UFF (Universidade Federal Fluminense). Não a via há muito tempo. Veio me deu um beijo e perguntou: - Cara! O que é que você está fazendo por aqui? – Expliquei tudo sobre a minha via-crúcis. A menina sorriu e disse: - Se o menino tiver dado entrada aqui, o meu namorado vai me dizer. – Mandou-me esperar ali e rodou nos calcanhares. Dez minutos depois, voltou. Levou-me para um canto, longe dos olhares de uns seus amigos curiosos e confidenciou-me: - A tal criança passou por aqui, mas foi encaminhada para o Hospital Santa Cruz. O nome é Carlos. Não fala pra ninguém. Isso é segredo. Não pode dizer que a informação partiu daqui. Só sabemos isso. – E o sobre nome? – perguntei. Disse que não sabia. Despedi-me e parti para o HSC.
          Subia uma ladeira e pensava em como descobrir o nome completo do menino. A barriga roncava de fome. Já passava das 15:00 h. Parei na porta para descansar. Ainda não tinha encontrado um jeito para fazer a abordagem à recepcionista. Entrei e fui direto a um bebedouro próximo ao balcão da recepção. Bebi bastante água para afogar a fome. Depois tomei coragem para perguntar. Nisso chegou uma menina, entrou na minha frente, e pediu informações de um parente. A recepcionista perguntou o nome. Ela simplesmente disse: - Paulinho (não me recordo se era esse). A recepcionista olhou na lista e falou: - Aqui tem duas pessoas com o nome de Paulo. Paulo A. (como exemplo) e Paulo B. (como exemplo). – A menina confirmou o segundo. A recepcionista deu as informações devidas e disse que o internado ainda não estava podendo receber visitas. Aproveitando o gancho, lá fui eu. Aproximei-me e perguntei: - Gostaria de saber como está o estado de saúde de Carlinhos. – Ela olhou na lista e disse: - É Carlos P.?(como exemplo) Só tem esse nome aqui. – Pensei um pouquinho e falei: - Se for uma criança, é. Como tem tanta gente com nome parecido, ficamos na dúvida, né? Ele deu entrada com meningite. – Ela olhou pra mim, estampou um ar triste e perguntou: - Você é parente? – Confirmei que o menino era meu sobrinho. Ela então procurou falar com cuidado. Disse-me que os médicos tentaram de tudo para reverter o quadro, mas o óbito acabou ocorrendo. Ele tinha falecido pela manhã. Saí dali triste com o fato. Acho que a criança tinha aproximadamente cinco anos. Fiquei pensando na recepcionista que, mesmo lidando com a morte diariamente, ainda demonstrava bons sentimentos. A gente presencia tantos descasos com a vida alheia, que acaba ficando surpreso quando encontra alguém que ainda se entristecesse com a tristeza dos outros.
            Desci a ladeira e fui para a redação, que não era muito distante dali. Parecia que tinha dado a volta ao mundo, quando o caso foi resolvido praticamente do lado. Cheguei antes das 16:00 h. Fui entrando na sala, sendo recebido com um cheiro de café entrando pelas minhas narinas. O grupo rodeava a mesa do chefe da redação, papeando e bebendo café. Dei um alô. Dos três repórteres, um se virou e falou: - Chegou na hora, Timotheo! Vamos tomar um cafezinho pra arrancar o cansaço dessa cara? – Peguei o copo que me oferecia.  O meu amigo ficou me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa. Percebi um sorriso escondido por detrás do bigode. Não tenho certeza se ele achou que eu tinha fracassado. Tomei o café de um gole só. Senti de imediato que as minhas forças estavam sendo acordadas. Não falei nada, mas entreguei um papel com o nome completo do garoto e o nome do hospital que tinha acontecido o óbito. Ele leu. Mostrou-o para os outros repórteres e entregou-o ao chefe. Esse deu uma olhadela, torceu a boca e devolveu para o amigo. Parecia que o papel estava quente. Ele recebeu de volta e disse: - E aí, fulano! (não me recordo do nome do chefe) E agora? Promessa é promessa! O garoto está empregado? – O chefe deu uma resposta rápida:- O que fazer! Que se cumpra o prometido! – Aí foi o meu início.
           Sobre o caso do menino, fiquei sabendo que nenhum jornal tinha conseguido a informação. Foi assim que me tornei um foca.
          Nesse jornal consegui aprender alguma coisa. Fiquei ali, pouco tempo. Depois passei para outros e o aprendizado continuou. Agora, o que tem haver isso tudo que escrevi, com “O CASO DOS OLHOS AZUIS”? Vou explicar. No período que trabalhei na imprensa, houve algum rumor sobre tráfico de órgãos.  As suspeitas, não me lembro se foram verdadeiras. Só sei que a minha imaginação foi longe.  Juntei isso, com um corpo encontrado no mar, que apresentava o rosto completamente desfigurado. Chamou-me a atenção a falta de um olho. Parecia que tinha sido comido por criaturas marinhas. Poucos dias após o ocorrido, veio-me a ideia de escrever um texto, tendo como personagem principal o meu amigo PC. Nesse tempo todo, a história ficou dormindo sobre algumas linhas. Agora resolvi reescrevê-la. Vamos lá.

OBS. Todos os nomes são fictícios.
           Acompanhe a história  “O caso dos olhos azuis”. a partir da semana que vem!.

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