A ÁRVORE DA MINHA INFÂNCIA
- José Timotheo -
Olhava entre admirado e incrédulo: a árvore na minha infância estava florida!
Meio tombada no tempo, minha árvore havia se despido das flores. Anos a fio, passando ante a sua sombra, via seus sonhos murchando. E ali, também, meu coração despetalava a esperança. A sua existência estava sendo mastigada, corroída, corrompida, violentada pela indiferença dos passantes?! Era a única árvore da região que se recusava a dar flores! Seria uma forma de protesto, uma forma de despertar, de sacudir os homens para a violência que está havendo contra a natureza?
A árvore da minha infância, realmente, protesta! Em pleno mês de julho, ela agora, oferece flores! Acho que mudou a sua luta!
Nestes anos, talvez tenha se portado apenas como ( mesmo sendo uma forma de protesto) observadora. E foi como tal que viu plantarem arranha-céus à sua volta. E num repente, saiu do marasmo. E entre blocos gelados de ferro e concreto, foi se escorando; se escorregando entre vigas e se postou de pé. E, talvez, num (último) grito, derramou flores. Parece-me que descobriu que a melhor arma para se lutar ainda é a paz! Deu a outra face para que batessem...
A árvore na minha infância não está mais curvada sobre revoltas e lamentos. Lá está ela, de pé, embelezando o dia-a-dia dos seus algozes.
Obs. Texto publicado no livro "Escritores do Brasil", organizado por Aparício Fernandes, em 1983.
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