quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Voa, Voa - a estória

                                         VOA, VOA   
                                 A estória


          A estrada aponta para outro rodeio. O ar está sempre no próximo. É ali aonde ele chega e respira. E a vida do peão vai sendo renovada a cada competição. Mas ela nunca está completa. Pode vencer mais uma, mas isso não quer dizer que ele já está realizado. A sua vida está sempre na próxima. Pode até perder, que isso não quer dizer derrota. Pode cair do cavalo, que isso não quer dizer que levou um tombo na vida. O seu modo de viver está atrelado à emoção. Todo mundo sabe que ganhar é bom demais! Entretanto vencer... Vencer os seus limites, mesmo sendo lançado à distância, é o gosto saboroso que ele guarda durante dias. O desafio de ficar em cima “daquele cavalo selvagem”, mesmo que seja durante alguns segundos, principalmente sendo aquele que ninguém consegue nem chegar perto, faz com que o prazer tome o lugar do sangue e corra velozmente pelas suas veias. É o êxtase inebriando a alma.  E o peão viaja no céu!
          Lá vai ele com o seu corcel, amigo inseparável, em busca de mais uma emoção. Mas ninguém sabe, que às vezes, ele com toda aquela alegria, com toda aquelas emoções acumuladas, ruminando suas lembranças, acaba tombando na saudade. E ele deixa escapulir algumas gotas de lágrimas. O seu amor está numa cidadezinha, guardada, envolta na esperança, esperando pelo seu retorno, enquanto ele continua correndo de um lado para o outro.  
          O peão está sempre pegando estradas sem fim. Tenta retornar depois do final do circuito, mas acaba se distanciando tanto, que ao tentar voltar, já está começando tudo de novo. E o desafio dos rodeios fala mais alto. Ele e a estrada acabam sendo uma coisa só. Mas a sua alma acaba se espremendo contra a poeira do caminho. O peão chora e a sua dor vai tatuando cada pedaço de estrada por onde passa. E o corcel dispara entre um pouso e outro, mas não consegue correr o suficiente para ultrapassar a dor do peão.
          Mais um rodeio se aproxima. Ele aproveita a ansiedade da chegada e esconde a solidão na sua mochila. Ele quer ganhar vida. Mas a sua amada está distante. A escolha é difícil. Ele não consegue domar o xucro que carrega dentro de si e adia mais uma vez o retorno. Então prefere colocá-la na garupa da saudade e entrar com ele na arena e tentar ficar o maior tempo possível em cima de outro “cavalo indomável”.
            Ele sai, de mais um rodeio, revigorado. Não se importa do tombo que levou, pois sabe que a sua alma está mergulhada em sonhos. E volta novamente para a estrada carregando o corpo cheio de poeira e o coração arrebentando de saudade. Entretanto uma dúvida pisa na esperança e faz com que ele vacile. Será que o sonho vai se abraçar a realidade? Muda de estrada e voa com o seu corcel para o coração da sua amada.   
Fim

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