domingo, 3 de abril de 2011

Dá Um Tempo

                Fim de semana prolongado é uma festa! É uma tentação! Para quem gosta de acampar então, é irressistível! Psicologicamente eu sempre estava preparado para jogar uma mochila nas costas e pegar estrada. A nossa turma nem precisava combinar nada. Já estava tudo combinado desde o último acampamento. Não falhávamos um feriado sequer. A gente só parava para falar sobre a viagem, na hora de recolher o dinheiro para comprar as passagens. E comprávamos com antecedência. Em termos de comida e bebida, nem nos preocupávamos, já estava tudo registrado no subconsciente. Todo mundo sabia a quantidade que ia levar. Só isso!
Nosso grupo era mais ou menos fechado. Fixo mesmo eram seis. Raramente alguém faltava. E tinha mais quatro flutuantes. Era muito difícil conseguir reunir os dez, mas às vezes até que acontecia. Eu era figurinha carimbada: nunca faltei a um acampamento sequer. Diziam até que eu dormia com a mochila pronta. Era quase isso. Além desses dez, de vez em quando, aparecia algum convidado. Era sempre bem vindo.
Pintou um feriado gordo. Caiu numa quinta-feira. As passagens já estavam compradas para quarta-feira à noite. Lá fomos nós.
Na rodoviária tivemos a maior surpresa: cinco lindas gatas apareceram com um dos amigos. Fomos apresentados. Para surpresa nossa, elas iriam ficar com a gente. Soltamos foguetes na imaginação. O riso brotou espontâneo de cada um de nós. Era uma mulher mais bonita do que a outra. - "Vai ser uma festança!" - pensei na hora. - "Muita sacanagem vai rolar!" - sonhei e idealizei imediatamente. Entramos no ônibus. Cada um foi procurar a sua cadeira. Ficamos distantes delas. Não deu pra rolar nenhum papo. Só rolava uns olhares. Elas ficaram no fundo do ônibus e nós no meio. Teve uma hora que alguma coisa começou a me incomodar. Fiquei meio impaciente. Parecia que algo me forçava a olhar para trás. Olhei. Lá estava um par de olhos verdes fixados em mim. Ela sorriu. Eu então retribui. Mas parece que alguém ou alguma coisa nos dá um sinal lá de cima. Tenta nos avisar que alguma coisa ruim pode acontecer com a gente. Entretanto na maioria das vezes a gente não dá crédito. E foi isso que aconteceu. Veio direitinho no meu ouvido um sussurro. - "Eis o seu inferno!" - me arrepiei dos pés a cabeça, mas mesmo assim não levei em consideração. Estava hipnotizado por aqueles olhos verdes. E com certeza meu coração estava se lixando para o que poderia acontecer.
Chegamos ao nosso destino. Ela se aproximou com um sorriso enigmático. Não consegui entender. Hoje ainda me lembro. Se é sempre o se. Mas uma coisa é certa: se eu tivesse decifrado, poderia ter me livrado de muita coisa. Mas agora...
Não trocamos uma palavra sequer. Peguei a mochila dela, a minha já estava nas costas, e coloquei-a no ombro esquerdo. Com o braço direito já fui enlaçando-a. Ela não esboçou a mínima resistência. Pelo contrário, se encostou o máximo que pôde do meu corpo. Arrisquei um beijinho no rosto. Ela se virou e ofereceu os lábios. A mochila dela escorregou do meu braço e nos atracamos.
O beijo rolou muito bem. Ninguém entendeu nada. Nem eu. Mas não era para entender, era para sentir. E nós sentimos. Cada um foi pegando a sua mochila no bagageiro e em seguida tomamos o caminho da praia. Chegamos ao lugar de sempre. Já havia algumas barracas montadas. O nosso lugar era sempre respeitado. Como o dos outros, já conhecidos, também. Armamos o nosso acampamento bem rápido. Como era de praxe, ao terminar a montagem, tínhamos que comemorar. E para variar, lá estava uma panela
cheinha de caipirinha. A cachaça nunca era muito boa, mas o amigo que preparava era um milagreiro. Era a melhor caipírinha que a gente já tinha bebido. Tanto é que depois da segunda dose, todo mundo já tinha se arrumado. Ou quase todo mundo. Éramos seis e só tinha cinco mulheres. Mas só que um dos amigos tinha uma namorada na cidade. Quando ele viu que todo mundo já havia se arrumado, ele foi rapidinho buscar a sua namorada.
A noite já estava ficando curta. Fomos varando a madrugada sem perceber. Era bebendo e namorando. Cada um já havia arrumado o seu cantinho. Foi maravilhoso. Amanheci apaixonado. Nós não desgrudamos um só minuto. Tomamos banho de mar, de sol e de amor. Voltamos para a barraca. O café da manhã estava pronto. Um caldeirão de caipirinha gelada esperava todo mundo. O acompanhamento era ovo cozido. Menos mal, né? Deu pra forrar o estômago até a hora do almoço. Recomeçamos a bebericar. Depois pintou um violão. A cantoria atraiu algumas pessoas. Umas já velhas conhecidas. Outras não. Mas o importante que eram boa gente. Entretanto com  a chegada desse pessoal teve o início do inferno. A minha tigresa botou as garras de fora e uma língua afiada. Tudo começou quando uma velha amiga chegou e me beijou na testa. Juro que foi só isso! Aquele par de olhos verdes que havia me enfeitiçado, virou uma borra de sangue. Ela nem conversou. Partiu pra dentro da minha amiga, jogou a caipirinha no rosto dela e foi enchendo ela de porrada. Parecia enlouquecida. Berrava! Xingava! Puxava o cabelo! Tudo aconteceu tão rápido, que ficamos sem ação. Custamos a tirar a gata selvagem de cima da menina. Ai eu compliquei mais a situação. Foi um erro gravíssimo. Ao invés de segurar a minha gata, eu segurei a minha amiga, que estava com o rosto bem arranhado, um olho roxo e o nariz sangrando e coloquei-a no meu colo. Ai é que o bicho pegou mesmo. A fera se soltou e voou pra cima de nós dois. No meio do caminho pegou uma faca. Por sorte de todos nós, ela tropeçou e a faca caiu longe. A minha amiga se levantou e saiu numa disparada só. Rapidamente sumiu do alcance das nossas vistas. Deve estar correndo até hoje, pois nunca mais nós nos vimos. Já a minha namorada chorava e socava raivosamente a areia. Eu tive vontade de enchê-la de porrada, mas me contive. Entrei na barraca e fui arrumar a minha mochila. Não demorou muito e lá veio ela atrás de mim. Ainda
chorando, pediu desculpas. Prometeu nunca mais perder o controle. Ia controlar o ciúme. Eu só olhava. Preferi não falar nada. Não ia pagar pra ver. Mesmo amarrado nela, não ia arriscar. Botei a mochila nas costas, mas antes de sair olhei para a fera. Pra surpresa minha ali não estava mais uma selvagem. Aquele par de olhos verdes estava mais verdes do que nunca e quase me fez ficar.
Depois do feriado ela me telefonou. Resisti. O coração quase desmoronou, mas a razão segurou o tranco. Ela ainda telefonou outras vezes. Entretanto continuei resistindo a tentação daqueles olhos verdes.
AGUARDEM ainda essa semana: Letra e Liberação da música Dá Um Tempo!!!

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