A Nossa Criança tem que Estudar, Trabalhar, Brincar e Ser
Feliz
- José Timotheo -
A minha infância e adolescência há muito me deu cartão
vermelho. A distância pode parecer muita, mas a verdade é que todo mundo acaba
carregando com ela pedaços dessa época. Você pode conseguir se livrar das
burrices e das virtudes totalmente. Você caba se pegando em questionamentos
_"Se fosse hoje, eu não faria aquilo. Com certeza faria diferente".
Será? Mas uma coisa é certa quanto à educação: aquilo que meus pais buzinaram
vinte e quatro horas em meus ouvidos, que na época me deixava de saco cheio,
continua ecoando dentro da minha cachola _"A honestidade em primeiro
lugar! A solidariedade também é muito importante! Não esqueça nada disso,
nunca!".
Morávamos num bairro pobre. Essencialmente de operários.
Quase todo mundo nivelado no mesmo patamar. Quase todos estudavam em colégio
público. A educação era bem parecida. Os valores morais se assemelhavam. Éramos
proibidos até de achar alguma coisa na rua. Alguém perdeu. Então tem um dono.
Aquilo não te pertence. E a garotada quase toda comungava \a mesma cartilha.
Acho que da turma toda, só uma ovelha se desgarrou. Ele achava tudo e a mãe
dizia (?) que ele era um menino de sorte. Com 18 anos achou o que não devia e
foi preso. Ficou mais de um ano atrás das grades. Foi pra lá com pouca
esperança na vida. Voltou sem nenhuma. No segundo dia de liberdade, ao procurar
achar alguma coisa, encontrou uma bala.
O trabalho era fundamental. Desde criança tínhamos que
trabalhar. Se aprendia tudo em casa. Brincar, só depois de voltar do colégio,
que era profissionalizante, e assim mesmo, AP[os realizar qualquer tarefa
doméstica. E assim a gente vivia. Dava comida para as galinhas, ajudava a fazer
a horta, lavava banheiro, lavava louça...E assim a vida ia. Não fiquei
traumatizado. Meu pai trabalhava, minha mãe trabalhava costurando para fora,
fazendo flores e o que mais conseguisse para engordar o salário do meu pai.
Minha irmã fazia as “coisas” de casa e eu também fazia a minha parte. Não tive
tempo para roubar. Não tive tempo para usar drogas. Não tive tempo para
maltratar idosos. Não tive tempo para endurecer o coração.
A alimentação era difícil. Era cara. Mas a gente dividia a
nossa parte, que não era muita, com
outras pessoas. O pouco nos alimentava muito. Nunca faltou comida em
casa. À tarde sempre aparecia vizinhos para lanchar. Um bom café, com pão e
bolo não faltava. Só fui entender essa generosidade há pouco tempo. Mesmo
aprendendo a dividir eu achava que os vizinhos queriam se dar bem. Eu nunca
pensei que poderiam não ter o seu lanche da tarde. E aquilo me incomodava. Eu
reclamava e minha mãe sorria. E nunca parou o seu ritual. Ela tinha para dar,
os outros não. Pura generosidade. Hoje os tempos são outros, mas ela continua
no mesmo ritual. Não se cansa nunca de ser generosa.
Num balanço total, cheguei a uma conclusão óbvia: temos que
colocar as nossas crianças para estudar, em horário integral, aprendendo uma
profissão, e ajudando os pais nos afazeres domésticos. Tem muitos discursos
políticos sobre o tema, mas nunca chegam aos finalmente. Ou mudamos ou vamos
virar uma imensa embarcação de piratas. Vamos saquear os países vizinhos, pois
o nosso já deverá estar estéril, de tanto ser roubado. Quem tem vergonha de
trabalhar é ladrão!
Falam que nós temos colégios em tempo integral. Pode até
ser. Deve haver alguns espalhados por ai afora. Mas num país desse tamanho, de
dimensão continental, uma meia dúzia não dá nem pra fazer “cosquinha”. Vamos
mudar isso tudo! Vamos à luta enquanto é tempo! Enquanto há tempo.
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