terça-feira, 5 de junho de 2012

Crucificada - a estória

Crucificada
José Timotheo
Assiti a uma reportagem que me causou tristeza e uma desesperança sem tamanho. Um repórter varria a beira de uma estrada. A sua câmera furava a noite. Cada pedacinho de chão, próxima a um posto de gasolina, meninas disputavam cada caminhão, automóvel ou qualquer outro veículo que ali chegasse para abastecer. Ou mesmo que passasse devagar. Esses já vinham na certeza do que queriam encontrar. Elas surgiam da margem da estrada, como formigas. Conseguiam se esconder atrás da noite. Eram meninas que não deviam ainda ter saído dos doze, treze anos...e até mais novas. Cada uma delas arrastava a fome, a miséria, atrás de si. Entregavam o seu corpo por um prato de comida. Essa reportagem me chocou. Não me lembro quem fez e nem o lugar. Mas eu acho que foi no norte do país. O pior é que muitas delas declararam ao repórter, que foram jogadas naquela vida pelos próprios pais. Sendo essa a única forme de conseguirem o pão nosso de cada dia. Várias bocas estavam em casa esperando pelas migalhas que elas conseguissem.
Aqueles corpinhos esquálidos, que ainda não tinham saído da infância, já carregavam a dor de uma vida inteira. Talvez nem conseguirão chegar na adolescência, pois as doenças já batem às suas portas. Elas sabem que o amanhã é duvidoso.  Como almejar um futuro? A triste realidade é sempre o hoje, com um prato de comida ao alcance, para amenizar a falta de esperança.
A câmera varreu de novo a beira da estrada. Naquela hora apareceram algumas crianças com bonecas de pano. Brincavam enquanto esperavam mais um freguês. Elas queriam apenas brincar, como todas as crianças. Precisavam brincar. Só isso! E estamos negando isso a elas. Essa é mais uma ferida no nosso Brasil, que teima em não cicatrizar.
Fim

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