Continuando...
Ferguson parecia em estado de choque, quando ouviu a palavra mortos. E instantaneamente uma palidez cadavérica tomou conta do seu rosto, destacando um par de olhos azuis assustados. O medo estava instalado, demonstrado pelo tremor bem visível que tomava conta de todo o seu corpo. Tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu. A voz estava travada na garganta. Da palidez inicial, para a vermelhidão no seu rosto foi um pulo. Levantou-se abruptamente e começou a caminhar descontrolado de um lado para o outro. Walter pediu para que se acalmasse, para descobrirem alguma solução. Estava preocupado com o amigo.
- Calma, Ferguson! Assim você vai ter um ataque cardíaco! Vamos descobrir uma solução. Ou melhor, eu já tenho essa solução. Senta aí na cadeira. Vou pegar um calmante para você.
Dr. Walter foi até a sua mesa de trabalho e pegou um calmante dentro de uma das gavetas. Apanhou um copo e encheu-o até a boca de água e deu ao amigo, junto com o comprimido.
Ferguson já estava sentado novamente na sua cadeira, mas com a respiração ofegante. Nervosamente pegou o copo d’água da mão do Dr. Walter, juntamente com o comprimido. Com a mão trêmula jogou o comprimido para dentro da boca com tanta rapidez, que acabou se engasgando. Tossiu até que ele saísse voando da sua boca, atravessando toda a sala. Só foi encontra-lo no canto do cômodo, encostado à parede, pegou-o e jogou-o novamente para dentro da boca. Com uma golada generosa de água, engoliu-o de uma só vez.
O Dr. Walter olhava o amigo com uma cara de reprovação, pelo seu desequilíbrio e apontava uma cadeira para que ele senta-se, antes de recomeçar o relato de que tanto o angustiara por toda a semana. Tinha ficado muito preocupado, mas não desequilibrado emocionalmente como o seu colega. Esperou então que Dr. Ferguson finalmente sentasse.
- Então Ferguson, já está acomodado? Se equilibra, homem. Tem solução para o nosso medo. Eu também tenho medo, mas não perco a compostura. O quê que é isso? Sem equilíbrio, não se resolve nada. Nem parece que já resolveu equações complicadas, aparentemente sem soluções. Você é um cientista, não é um colegial despreparado que depende de um pontinho para não perder o ano letivo. Está mais calmo?
- Tudo bem, Walter. Acho que o medicamento já está fazendo efeito. E desculpe pelo meu desequilíbrio. Não posso esquecer de casa. Eu morrendo, tudo vai se complicar. Vai em frente.
- O que é que está afligindo você?
Com a pergunta, Dr. Ferguson olhou para o amigo e uma grossa lágrima desceu pelo seu rosto. Dr. Walter ficou surpreso e preocupado pelo estado emocional do amigo, mas preferiu esperar, já que estavam com tempo, para descobrir o que estava acontecendo com ele. Pelo o que percebeu não era uma boa coisa. Levantou-se, dando tempo para que ele se recompor, e foi pegar outro cafezinho cozido, que já espalhava o seu odor pela sala. Se acomodou novamente na cadeira gasta e esperou, saboreando uma coisa que não tinha um bom sabor, mas parecia que ele gostava. Depois olhou na direção da máquina de fazer café e viu que ainda estava acesa, então levantou-se novamente e foi lá desliga-la. Voltou, sentou-se e esperou, enquanto ingeria o resto de café que sujava o fundo da caneca.
Ferguson ia voltando a sua cor normal. Já respirava mais ritmado e, aparentemente, estava sentado confortavelmente. Pegou um guardanapo que guardara no bolso do avental branco, já bem amarrotado, e passou no rosto para secar o último vestígio das lágrimas. Olhou para Dr. Walter e esse balançou a cabeça em sinal de assentimento. Dr. Fergusson, sentindo-se um pouco fortalecido, respirou fundo e tossiu levemente.
- Desculpe mais uma vez Walter. Sabemos que o salário, mais o prêmio é uma fortuna. Essa, quando decidi em me isolar nesse lugar, que nem sabemos onde fica esse buraco, foi a proposta mais tentadora e, com certeza, ia resolver o problema da minha vida e da minha família. E você desconhece que eu tenho um filho. E é o meu único filho, e foi por ele que aceitei vir para cá. Walter, ele só tem 18 anos. Desde os noves anos de idade ele vem lutando contra um câncer. E eu sei que ele ainda está vivo, pelo tratamento que é submetido no exterior. Precisamente em Israel. É um tratamento caro, mas está dando resultado. Quando você falou que podemos morrer, entrei em pânico. Eu não posso morrer agora, enquanto o meu menino não ficar bom. Está faltando pouco para o tratamento encerrar. Se eu morrer... Quem vai cuidar do meu filho?
- Calma, Ferguson! O que eu disse, pode ser apenas uma suspeita minha. E ainda temos dois anos pela frente. Eu não sabia sobre o seu filho, sinto muito. Mas ele deve ficar curado antes desses dois anos findarem.
- Eu tenho esperança. O tratamento está bem convincente. Nas poucas folgas que temos, eu acompanho de perto. Tem uma coisa que não me conformo, Walter. O que adianta eu ser um cientista e não conseguir curar o meu próprio filho?
----Continua Semana que vem!
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