quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Pensamento de Poeta - Pobre Ser



Pobre Ser
 José Timotheo

Rosa!
Oh rosa!
O que tu queres?
O cravo?
Tu não o queres?
Pergunta-me agora
O que eu quero?
Tudo, rosa! Tudo!
Tu não sabes quem sou?
Nem te importas em saber?
Mas respondo-te gaborzamente:
Sou o homem!
Sou o dono do mundo!
Oh cravo!
O que tu queres?
Por que te espalhas
Pelo meu corpo
Sem que eu queira?
Tu também, saudade?
O que sou agora?
- “és apenas mais um morto qualquer!”



terça-feira, 18 de setembro de 2018

Pensamento de Poeta - O Tempo do Tempo



O Tempo do Tempo

- José Timotheo -

De vez em quando
Lembro-me do tempo
Mas como não lembrar?
O tempo é um juiz implacável
Mas justo
Hoje me lembrei
Que briguei com você
Se tivesse dito te amo
Não teria sofrido uma perda
O tempo tem
Que ser um ganho
Lembrei-me também que apontei
O dedo para um desonesto
Tinha é que ter dado exemplo
De honestidade
Perdi tempo mais uma vez
O tempo é dócil
Às vezes até o achamos carrasco
Mas ele não é desonesto
É  pai amoroso
Mas quando é preciso, muito rigoroso
Até entrarmos nos trilhos
Com certeza
Mas isso é uma mera questão de tempo
 e como ele é paciente, espera
Acredite nele
Dê tempo ao próprio tempo
Entretanto não perca tempo
Senão...


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Pensamento de Poeta - A Difícil Melhora



A DIFÍCIL MELHORA

José Timotheo

Ponto a ponto
Costuro passos
Traço caminhos
Voo ao horizonte
Vou me depurando
Sepultando vaidades
Raivas, invejas
E mais alguns aleijões
Meu intento
Mas só tento e tento
Essa é a verdade
Pois me escondo
Sob capas de desculpas 
Mantos de adiamentos
E, com certeza, me sepulto
Na falsa modéstia
Farsa dos vaidosos
E lá vou eu, mais uma vez
Postergando
Ponto a ponto
Alinhavo desculpas e indecisões
E o meu horizonte depurado
Espera, espera, espera


terça-feira, 4 de setembro de 2018

Saudosismo - Parte Final

Continuando...

Eu ficava sentado na areia encorajando os mergulhadores, mesmo sabendo que eles nem imaginavam que tinha um cara mergulhando, de longe, com eles. Na realidade não era só eu. Outros anônimos se espalhavam pelo calçadão e pela areia também. Éramos garotos um pouco medrosos. E eu fazia parte do grupo dos quase sem coragem. Todavia isso não me fazia um cara covarde. Confesso que o que me afastava do trampolim era minha pouca habilidade no nado, além da visão que tinha dos mergulhadores. Pareciam, era só olhar, um pontinho flutuando no espaço. Isso já dava para tirar da cabeça, qualquer dúvida em relação ao medo que sentia.  Quando alguém pulava, eu ficava olhando todo o trajeto até o contato final com a água. Aquele curto espaço de tempo parecia uma eternidade. Eu não conseguia me ver fazendo aquilo de jeito nenhum. Ainda mais quando chegava a informação de que alguém tinha se afogado. Aí nem os pés eu molhava na água.
          Perdido em pensamentos saudosistas, fiquei completamente desligado do movimento que me circundava. De repente o celular vibrou. Foi como um choque. Me tremi todo. Confesso que não gosto de telefone, mas ando com ele. Mas que alternativa temos? O som é irritante e o vibrado é enervante. Peguei-o meio contrariado e fui atender ao chamado. Demorei um pouco e desligaram. Suspirei aliviado. Nem quis ver quem tinha ligado. Eu sabia que de casa não era, pois eu sei que enquanto eu não atender, não desligam. Já ia colocá-lo no bolso e chegou uma mensagem. Não foi uma, nem duas, nem três, foram pra lá de dez. Eu não queria olhar, porém a curiosidade chegou na minha frente. Tudo bem, o que fazer? Fui abrindo uma por uma e nada de coisa interessante. Imagina o tempo que perdi abrindo essas mensagens. E depois para apagá-las. Conclui que roubaram o meu sossego e as minhas lembranças. Não tive mais condições nenhuma de tentar ativar a memória novamente. Porém, no meu esforço hercúleo, alguma coisa apareceu: o lugar onde o trampolim se erguia majestoso, agora era um buraco negro faminto, que engolia até a minha saudade. A vontade de afogar o aparelho foi muita. Mas ele não era o culpado. Olhei para ele, desliguei-o e empurrei-o no bolso. Estiquei o olhar até o semáforo e vi que estava a meu favor. Acelerei os passos, atravessei a rua e peguei o caminho de casa.