quinta-feira, 29 de outubro de 2015

UM NÁUFRAGO EM ALGUM LUGAR DA BAÍA - Parte 5

Continuando...
            Pensei em entrar na mata. Depois resolvi completar a volta na ilha. Logo de cara encontrei outro paredão. Parecia mais complicado. Não tinha como subir. Não descobri como escalá-lo naquele momento. Ele era um pedregulho liso e pontiagudo que entrava no mar. Aparentemente não dava nem para contorná-lo. Era um baita desafio. Ainda mais pra mim, que nunca havia escalado nada na vida. Quase recuei. Ia entrar na mata, mas senti que tinha que encarar aquela pedreira. Fiquei observando para tentar encontrar alguma saída. Procurei um bocado. Não podia abandonar aquele desafio. Não sabia quanto tempo ia ficar por ali. Tinha que preencher os segundos do meu dia. E aquele era o primeiro.Tentei ir pelo mar, mas não consegui. Ondas fortes batiam naquele lado da ilha. Se não fosse aquele dique natural, a ilhota ia ser varrida pelas ondas. Tinha a parte que entrava pela mata. Estava escura. Acabei tendo que ir para o lado da mata. Fui olhando ponto por ponto. Não queria abandonar de cara aquele primeiro e real desafio. A primeira pedra, até chegar ali, não foi muito difícil. Ali sim estava meio complicado e eu não estava querendo recuar. Tinha que subir de qualquer jeito. Fui tateando. De repente senti que tinha uma fenda na pedra. Na realidade eram duas pedras. A fenda era apertada, mas dava para entrar. Estava um breu. Fui entrando cautelosamente. Fiquei preocupado se o estreitamento não desse para eu continuar. Como voltar? Poderia ficar entalado. Era muito apertada para fazer a volta. Arrisquei e fui em frente. Fui arranhando os ombros, mesmo com o maior cuidado. Não sei o porquê, mas não passava pela minha cabeça desistir. Depois de um trecho apareceu uma pequena claridade. Dava para enxergar alguma coisa. E o facho de luz vinha por baixo. Cheguei até esse ponto. Parecia que não poderia continuar. Mas arriei para ver o tal buraco. Era apertado, mas dava para passar. O difícil foi arriar. Tive que descer de lado. Sorte que embaixo era mais largo. Me deitei e fui entrando no pequeno túnel. Fiquei aliviado ao sentir mais presença de luz e que ele não passava de dois metros de extensão. Já do outro lado, respirei mais aliviado. O espaço era bem mais folgado. Logo à frente encontrei um pouco de vegetação. Ela despencava dos lados das pedras. Fui passando e me enrolando nessas trepadeiras. De repente senti que alguma coisa picou o meu braço. Não deu para ver o que era. Começou a esquentar o local. Acelerei para sair o mais rápido possível dali. Pensei rapidamente que a aquela pequena aventura podia me custar caro. A claridade já tinha aumentado bastante. Vislumbrei a ponta do mar. Me lembro que saí perto de uma árvore. Não vi mais nada. Acordei não sei quanto tempo depois. Ao abrir os olhos levei o maior susto. Tinha um par de olhos negros colado na minha cara. Tentei falar alguma coisa, mas uma mão fina e suave tapou a minha boca. Depois disse.
          - Não gaste energia. Fique calmo. Agora você está bem.
          Será que tinha morrido? Parecia um anjo. Não tentei falar mais. Depois tirou a mão da minha boca e colocou um pano molhado na minha testa. Estava me sentindo completamente sem forças. De relance observei que tinha alguém em pé do lado da mulher. Mas não consegui levantar mais os olhos e apaguei. Não sei quanto tempo eu fiquei apagado novamente. Quando acordei de novo, estava sozinho. Será que estava delirando? Como ia ter mais alguém naquela minúscula ilha? Se tivesse, eu tinha encontrado logo na chegada. E esse pano úmido na minha testa? Como explicar isso? Tenho que tentar me levantar.
          - Fique deitado. Você está muito fraco.
          Uma voz suave chegou até aos meus ouvidos. Que som maravilhoso. Era um bálsamo. Não tinha sido delírio. Tinha gente de carne e osso ali comigo. Olhei para onde veio o som e lá estava uma deusa. Era uma visão maravilhosa. Eu estava no céu. Ela estava sentada numa pedra, que parecia o seu trono. Olhei sem nada falar. Fiquei com medo que a visão sumisse. Ela ficou de lá me olhando. Ainda me sentia cansado. Fechei os olhos. Acho que dormi novamente. Acordei com alguém colocando mais um pano molhado na minha testa. Dessa vez, me assustei, não era a deusa, ou fada, ou sei lá. Era um homem moreno. Ele sorriu amigavelmente. Tentei sorrir também. Aí ele falou para a moça.
     - Tê, acho que a febre passou. Finalmente.
          Ela se levantou lá do seu trono e caminhou até a mim. Colocou a mão na minha testa, sorriu e confirmou o que o rapaz tinha falado.
           - Puxa! Graças a Deus! Pensei que ele não fosse resistir!
           - Mas resistiu. Pega um pouco de água de coco pra ele. Vamos ver se já consegue comer alguma coisa também. Pelo menos a poupa de coco.
          - Não é melhor esperar um pouco mais?
          - Não. Ele já está muito fraco. Ele só tem bebido água e água de coco.
          Fiquei olhando eles conversarem. Realmente a minha fraqueza era muita. Parecia que não tinha sobrado força alguma. Pelo menos consegui abrir a boca e comi a poupa de coco. Pareceu um manjar dos deuses. Bebi mais um pouco d’água. Acho que dormi de novo. Acordei com o sol se pondo. Os meus novos amigos estavam do meu lado. Sorriram pra mim e perguntaram se estava me sentido melhor. Retribuí o sorriso e balancei a cabeça afirmativamente. Depois consegui falar.
        - Posso me sentar?
        - Claro. Claro que pode. - respondeu o rapaz.
        Os dois me pegaram pelos braços e me colocaram sentado.  A mulher olhou pra mim e comentou.
         - Agora você está com uma cor boa. Parece que o sangue voltou a circular. Cara você estava com uma cara de...
         - De quê? Fala! Pode falar!
         - Você estava pálido. Parecia realmente que você estava sem sangue. Parecia um defunto.
         - Então a coisa ficou ruim pra mim.
         - Muito. Muito meu irmão. – respondeu o rapaz.
         - Quantos dias eu estou assim?
         - Essa vai ser a terceira noite. Pelo menos duas noites você delirou muito. Falou de uns amigos. De um barco. Pescaria...
        - Isso mesmo, eu estava pescando. Puxa vida!
        - Vê se não gasta energia. Procure ficar calmo. Vê se não vai atrapalhar a sua recuperação. A febre já foi até embora.
        Ela falou e colocou a mão na minha testa. Depois comentou com o rapaz.
        - Realmente está completamente sem febre.
        - Quem são vocês? Não estou sonhando?
        - Claro que não. Somos de carne e osso igual a você. Meu nome é Tê e o do meu marido e Ti.
        - Tê e Ti?
        - Telma e Tibúrcio.
        Estiquei a mão e me apresentei.
        - Prazer: Marco. Marco Aurélio. O que aconteceu comigo?
        Tibúrcio respondeu logo.
        - Não temos certeza, mas parece que você foi picado por alguma cobra. Se foi cobra, nem sabemos que tipo. Pra você ter resistido, não deve ter sido alguma menos venenosa. Acho que você deve ter saído daquela brecha. Como é que você passou por ali? Nós achamos você caído perto daquela árvore.
       Fiquei olhando para eles sem saber se agradecia primeiro ou se perguntava como eles foram parar ali. Agradeci é claro! E eles, antes que eu perguntasse, quiseram saber como foi que cheguei. Disse que me lembrava de ter caído do barco, num redemoinho. Eles se olharam e depois quiseram saber aonde tinha sido. Respondi que tinha sido próximo da ilha de Paquetá. Tibúrcio nem deixou que eu falasse mais alguma coisa, me interrompeu falando pra mulher.
 - Tê! Foi perto de onde nosso barco virou! De repente foi o mesmo lugar, né?    
          -Vocês estavam pescando também? - perguntei.       
          - Não. Estávamos só passeando. Disseram que não tinha nenhum perigo, então aluguei um pequeno barco a remo e fomos passear. Nós estávamos hospedados numa pousada.
          - Tem muito tempo? –fiz mais uma pergunta.
          - O tempo certo não sabemos. De repente mais de um mês. Sei lá! A gente acaba perdendo a noção de tempo!
         - Puxa! Tem tempo à beça! Como é que vocês conseguiram sobreviver?
            Antes de responder ele olhou para a mulher. Sorriu e disse.
         - Tê achou água. Cara! Foi a maior sorte! Se não fosse isso, estávamos fritos! A gente só bebia água de coco! Sabe como foi? Ela seguiu uns pássaros que entraram no mato. Ficou observando os bichinhos por algum tempo. Você já observou como a vegetação é baixa, até chegar naquela pedra lá. Não é? Então, os pássaros foram pelo chão e sumiram atrás da pedra. Depois de algum tempo saíram e voaram para o alto daquela outra pedra.
          - E aí?
          - Ela resolveu entrar. Eu estava pescando lá naquela pedra que entra um pouco no mar. Nisso ela me gritou. Lá fui eu correndo assustado. Pensei que tivesse se machucado. Mas graças a Deus ela estava bem. Até sorria. Estava emocionada por alguma coisa. Que até ali eu não sabia. Me pegou pela mão e me puxou até aquela pedra. E lá foi que ela falou. Na verdade, nem falou, só apontou. Fiquei também emocionado. Acho até que chorei. Estávamos salvos. Vi escorrer pela pedra, um filete d’água. E embaixo formava uma pequena poça. Era lá que os bichos iam beber água. Por isso que essa ilhota tem pássaros. Depois vamos mostrar a você. Aquela pocinha, parace até um imenso lago! Guardando as devidas proporções, é claro!
          - Muito bom! Graças a Deus! Pensei que fosse morrer de sede aqui! Puxa vida! Que alívio! Depois eu vou lá! Você falou que estava pescando. Você tem material. É isso?
          - Não! A gente aproveita a maré! Foi na sorte que achamos um lugar excelente! Lá nas pedras, quando a maré baixa, ficam alguns peixes presos. Eu dei sorte que vi esse oásis. A nossa salvação. Falando em peixe, você precisa tentar comer um peixinho.
         - Será que consigo? Está bem fritinho?
         - Fritinho? Tê, trás o peixinho frito pra ele. Tem que comer tudo. Está precisando se fortalecer.
         A mulher de Tibúrcio atendeu prontamente. Trouxe um peixe numa folha de palmeira trançada. Olhei para o bicho e me arrepiei todo. Ele ainda estava vivo. Ela tirou de um buraco cheio d’água na areia. Depois me disse que sempre tinha algum ali de reserva. Caso não conseguisse pegar nenhum lá nas pedras, pelo menos já tinha algum garantido. Não soube identificar que peixe era. Mas também não tinha importância, peixe cru é peixe cru. Não ia alterar nada mesmo. O gosto é ruim mesmo. Torci o nariz. Me senti enjoado. Tibúrcio viu a cara de nojo que fiz e disse:
          - Poxa cara! Fica assim não! Pensa que é comida japonesa! Posso até arranjar algum graveto para você fazer um hashi!
             Respondi, mas com vontade de vomitar.
          - O problema é esse! Não gosto de comida japonesa! Tenho o maior nojo! Cara se eu botar isso na boca, eu acho que vomito na hora!

          - Eu também não era chegado. Mas acabei me acostumando. Nós não temos fósforos para acendermos fogo. Já até pensamos em colocar no sol para secar. Abrir os peixes e colocar em cima da pedra e deixar secar.
                                             Continua semana que vem...

terça-feira, 20 de outubro de 2015

UM NÁUFRAGO EM ALGUM LUGAR DA BAÍA - Parte 4

Continuando...
          O comandante se afastou um pouco da ilhota. Achou que deveríamos arriscar por ali mesmo. Não falou duas vezes, as linhas já estavam dentro d’água. Por incrível que isso possa parecer, mau as linhas caíram n’água, os peixes abocanharam todas as iscas. Foi um grito de alegria geral. O nosso manifesto ecoou pela baía. Até em um dos meus anzóis, caiu um peixe. Era o menor peixe espada. De quatro iscas só caiu um. Os outros se fartaram. Acho que o meu peixe era filhote. Fiquei com pena e soltei. Mas foi difícil tirá-lo do anzol. O bicho morde mais do que cachorro. Cheguei à conclusão que soltá-lo foi pior do que pescá-lo. Diga-se de passagem, não fui eu quem o tirou do anzol. Tive que esperar um dos amigos tirar os seus, para depois me prestar socorro. Antes de soltar o bicho, olhei para ele e senti um pouco de orgulho. Tinha conseguido pescar um. Os amigos não ficaram muito satisfeitos quando eu devolvi o peixe para o mar. Mesmo pequeno eles queriam ficar com ele. Não dei ouvidos e coloquei-o n’água. O bicho ficou de barriga para cima. Fiquei preocupado. Achei que ele não ia resistir. Ficou muito tempo fora d’água. Tentei virar ele de novo e nada. Mandaram-me pegá-lo novamente. Pensei. Pensei. Enquanto pensava algum peixe grande abocanhou o coitado. Sacanagem.
          Peguei algumas iscas e enfiei nos anzóis. Tentei jogar o mais longe possível. Não deu certo. A linha embaraçou nos meus pés. Com o tranco, perdi todas as iscas. Lá fui eu novamente preparar tudo de novo. Preferi jogar encostado do barco. Não quis arriscar. Todos estavam pescando com fartura. Os meus anzóis continuavam intocados. Às vezes um ou outro era beliscado, mas cair alguma coisa estava sendo bem difícil. Toda hora tinha que recolocar uma isca. E assim foi durante bastante tempo. Finalmente consegui pegar um. E esse era grandinho. Respirei aliviado e esperei alguém tirá-lo do anzol. Enquanto eu só tinha pegado aqueles dois, eles pegavam quatro por vez. A minha performance estava abaixo da crítica. Resolvi dar um tempo e fui tomar uma cerveja. Aproveitei e comi alguma coisa. Naquele momento já se podia saborear alguma coisa com sal. Fiquei bebericando e apreciando os amigos pescarem. Bebi algumas. Me estiquei um pouco no banco. Uma brisa morna começou a roçar a nossa embarcação. Depois aumentou um pouco de intensidade. Esfriou um pouco e ficou úmido. Aí comentei com o comandante, que o serviço de meteorologia não tinha falado a respeito de um vento assim. Comecei a sentir frio. E o vento continuava a aumentar. Mas os peixes não paravam de cair nos anzóis. Não precisávamos de mais pescados. Mas as pessoas querem sempre mais. E ninguém queria parar. Me encolhi num cantinho e continuei tomando a minha cerveja. Estava todo mundo empolgado com a pescaria. Mas ninguém estava percebendo aquele vento estranho. O barco começou a balançar. Olhei em volta e percebi que os barcos estavam se retirando. Avisei o que estava acontecendo, mas ninguém me deu ouvidos. Nem mesmo o comandante, que também estava pescando, deu bola para o que eu estava falando. Literalmente falando, foram palavras ao vento. Olhei em torno e constatei que somente o nosso barco continuava no local. O vento aumentou mais e os peixes pararam de cair nos anzóis. Aí sim é que eles se deram conta da situação. Um som de um motor pipocou no ar. Avistei um barco pequeno. Acho que esse era o último. Sinalizou pra gente e falou alguma coisa. Não entendemos nada. O barulho do vento abafou o som da sua voz. Depois fez alguns gestos com as mãos, como se tivesse mexendo uma panela. Isso nós fomos entender depois, que ele estava falando de um redemoinho. Realmente não demorou muito e o dito cujo se formou próximo de uma pedra. O comandante contestou o meu comentário. Disse que eu estava vendo fantasma. Que era tudo história. Nunca tinha ouvido falar que tivesse redemoinho em algum lugar por ali. Em poucos minutos a coisa aumentou e pegou o nosso barco, que começou a girar. O comandante ligou o motor e acelerou para sairmos o mais rápido possível dali. E foi nesse momento que me levantei. Nem sei como, mas já estava dentro d’água. O redemoinho já tinha me pegado. Os meus amigos nada puderam fazer. Em poucos segundos já tinha sido puxado para baixo. Fui sugado com uma velocidade imensa. Passei dentro de um buraco na pedra. Acho que apaguei. Quando abri os olhos, estava deitado numa praia de areia tão branca, fina e macia, que nunca tinha visto. Estava assustado, mas aliviado por estar vivo. O lugar não parecia grande. E não parecia nada, nada com a ilhota que estava. Olhei para um lado e para o outro e constatei que a extensão de areia não tinha mais de dez metros. Na frente desse lugar, afastado aproximadamente cinco metros, tinha um paredão de granito com mais de trinta metros de altura. Era um imenso bloco de pedra enterrado dentro d’água. Pelas laterais dava para ver que só tinha água. Então deveria estar numa ilha. A imensa pedra tinha muitas manchas brancas, até quase a linha d’água. Depois eu fui descobrir a causa da mancha. Aquela cor era devido a fezes de aves. Ali era uma grande concentração de ninhos. Tinha momento que o barulho era ensurdecedor.
            Comecei a caminhar pela areia. Fui para o lado direito. Eu estava de frente para a grande pedra. Fui andando naquele tapete alvo. Uma sensação gostosa tomou conta do meu corpo. Parei uns minutos para tentar absorver o máximo possível daquele prazer. Eu sabia que não ia ser fácil ficar num lugar sozinho e perdido. Não sabia quanto tempo os meus amigos levariam até me encontrar. Acreditava que não demorasse muito. Devia estar em alguma ilha por perto. Depois de pensar um pouco, continuei a caminhar. Fui até o final. A areia parava numa grande pedra. Na verdade a pedra atravessava de uma ponta a outra. Mas eu ainda não sabia que ali era o fim da ilha. Achava que do outro lado ainda tinha mais alguma extensão de terra. Para saber, tinha que escalá-la. E foi o que eu fiz. Devagarzinho consegui chegar ao cume. A vista era deslumbrante. Mas fiquei triste ao constatar que envolta só tinha água. A minha visão não vislumbrava mais nenhum ponto de terra. Quase que cai. Tremi dos pés a cabeça. O que fazer num ponto minúsculo, que não deveria ter água pra beber e nem comida? O medo de morrer me deixou apavorado. Não podia acreditar que Deus tinha me reservado um fim tão terrível. A minha respiração estava descompassada. Tinha que me acalmar. Morrer antes do tempo é que eu não ia. Tinha que lutar. Fui respirando fundo e soltando o ar vagarosamente. Depois de alguns minutos me senti melhor. Tinha que continuar. Comecei a descer do outro lado. Vi que tinha uma pequena faixa de aréia lá embaixo. Primeiro olhei para aquele mar verde e sem fim. Depois cuidadosamente fui descendo. Fiquei surpreso e contente quando observei que uma vegetação baixa aparecia entre algumas pedras menores. Coisa qu e lá de cima eu não percebi.Quando terminei de descer o pedregulho, minha alegria foi maior: um tapete de grama verde alface, com alguns arbusto floridos apareceu na minha frente. Consegui me livrar das pedras o mais rápido que pude. E a minha alegria foi maior, quando vi que no fundo havia uma mata fechada.  Pelo tamanho da ilha, claro que não era grande, mas naquele momento me pareceu uma floresta. Comecei escutar alguns pássaros cantando. Quando me aproximei eles levantaram vôo. Como eles chegaram até ali? Uma ilhota perdida em algum lugar, que eu nem podia imaginar onde seria. De repente eu sorri. Se tinha pássaro, tinha água doce. Só faltava achar. Eu sei que para chegar até ali não foi fácil. Aquelas pedras pontiagudas pelo caminho, tinham me deixado os pés sangrando. Estava descalço. Mas o importante é que tinha chegado ali. Fiquei pensando na areia fina que tinha do outro lado. Ali não tinha areia fechando a ilha. Aquela parte era mais alta e só tinha pedra, que parecia formar um dique. Pelo lado onde tinha areia, a imensa pedra protegia a ilhota das ondas. Desse lado era essa contenção de pedras menores que fazia esse serviço. Foi à conclusão que cheguei.
            Como fui parar ali? Eu estava no fundo da baía. Ali era o oceano sem fim. Que coisa misteriosa. Pelo jeito devem estar achando que morri. Daqui a pouco estarão rezando a missa de sétimo dia. Se realmente eu estivesse morto, pelo menos tentaria me manifestar em algum lugar. Iria tentar mandar uma mensagem por alguém. Mas vivo... Estou perdido. Mas se eu estiver morto? Não posso descartar essa hipótese. Será que estou do outro lado? Quem sabe num mundo paralelo! Posso estar em outra dimensão. Ou então tomei um porre! Isso! Depois da cagada de Carlos, tive que beber todas! As possibilidades são muitas para explicar a minha atual condição. E qual é a minha atual condição? Acho que é náufrago.

           Consegui atravessar esse mar de pedras e aqui estou eu olhando para essa mata que pode ser a minha salvação. Por que ficar parado? Fui caminhando até lá. Para minha alegria fui recebido por uma frondosa goiabeira. Carregadinha, carregadinha de frutos. Aí me dei conta que estava com fome. Peguei uma e saboreei. Vermelha. A que mais gosto. Se eu estou com fome, não estou morto! Já fiquei um pouco aliviado. Constatei que tinha outras fruteiras. Fiquei mais tranqüilo ainda quando vi uma palmeira. Estava carregadinha de coco da Bahia. Pelos menos tinha alguma água para saciar a sede. Beber só água de coco, não ia dar muito certo.Mas naquele momento era a única opção. Mas... Pensando bem, pássaro não bebe água de coco. Eu já tinha concluído que se tinha pássaro, tinha que ter água potável. Mas se não tivesse ali? De repente do outro daquele paredão de pedra. Se não achasse por ali, tinha que ir a nado até o outro lado do rochedo.
                             Continua semana que vem...

terça-feira, 13 de outubro de 2015

UM NÁUFRAGO EM ALGUM LUGAR DA BAÍA - Parte 3

Continuando...
          
           Parecia que ia ser fácil resgatar os quatro, mas a situação se apresentou muito complicada. Ninguém conseguia puxá-los pelas mãos. Depois de algum tempo, numa tentativa quase em vão, o comandante se lembrou que tinha em algum lugar, uma escada de corda. Não achou rápido. Parecia que ele estava se deliciando com aquela confusão toda. Sabia desde o início que tinha a tal escada. Mas finalmente eles conseguiram subir. Tremiam de frio. Estavam quase congelados. O comandante assim mesmo, recebeu-os com baldes de água. Infelizmente não podia ser de outra forma. O fedor era insuportável. Carlos devia ter jantado um prato de carniça e cagado um cadáver em alto estado de decomposição. Mas, “entre mortos e feridos, salvaram-se todos”.
           Foi muita água para limpar aquilo tudo. Só o fedor é que parecia não ter fim. Eles estavam impregnados. O comandante apareceu com dois litros de cachaça. Deu um gole para cada um de nós e depois encharcou um pano e começou a esfregar neles. Com esse paliativo, já se podia ficar mais perto deles. Mas o ar continuava pesado. O fedor que saia do mar, estava insuportável. A cana que sobrou, deu para mais uma rodada. Depois continuamos com cerveja. Comer é que ninguém arriscou. O estomago não estava preparado. Nem ousamos respirar fundo. Cada um mantinha uma camisa enrolada no nariz. Carlos olhava pra gente com a culpa em cima dos ombros. Custou a falar alguma coisa. Mas pediu desculpas. Como não tinha jeito, todo mundo desculpou, mas sem tirar a camisa do rosto.
           Parecia que o mar estava paralisado. O oceano não se movia. Nem uma ondinha para espalhar aquela massa marrom que rodeava o barco. Estava todo mundo mudo. Mas rezávamos para que viesse pelo menos um ventinho. Mas nada. O ar continuava pesado. O fedor não se dissolvia. Quem visse aquele grupo de mascarados, com certeza iria achar que iríamos para alguma passeata. Quebrar alguma coisa, reivindicar coisa nenhuma... Quem não mostra a cara, não quer coisa séria. Vai que é um deputado, senador e etc, que estão ali por baixo dos panos! Já estão tão acostumados a fazer as coisas por debaixo dos panos, que isso seria normal. Estou me lembrando que foram para as ruas várias vezes. Pedir o quê? Quando o nosso ex-ministro do supremo foi forçado a antecipar a sua aposentadoria, ninguém se manifestou. Até ameaçado de morte ele foi. E os mascarados? Continuaram sem mostrar as caras. Quem está financiando tudo isso? Onde nós estávamos infelizmente tínhamos que nos esconder. Ficamos em silêncio por muito tempo. Ninguém tinha coragem de falar ou até de se mexer. Demorou bastante tempo para que alguém quebrasse o gelo.
          -Aí gente! Viemos aqui para pescar ou para se calar?
          Era Teo que tentava despertar a gente, novamente para o único objetivo de estarmos ali: pescar. Ninguém falou nada, mas automaticamente todos jogaram suas linhas dentro d’água, mesmo vendo aquela água marrom. Ficamos ali por mais de duas horas, sem um peixe sequer beliscar um anzol. Ali estava explicado à falta de peixes: a cagada de Carlos. Os peixes fugiram desesperados. Foi uma fuga em massa. Preferi não comentar, para não deixar o cara mais triste do que já estava. Lentamente fomos tirando a camisa da cara. Aos poucos o pulmão foi se acostumando com o fedor. Voltamos até a trocar algumas palavras. Enquanto procurávamos uma saída para a situação, um barco se aproximou.
          -E aí amigos! Pescaram alguma coisa?
         Respondemos quase que em coro, um não bem sonoro.
          -Nãaaooo!
         O cara deu um sorriso e acrescentou.
          -Até que eu estava pegando alguma coisa. Mas de repente ficou ruim. Eu vi um cardume de pargo se afastar velozmente. Pensei que tivesse sido algum peixe grande. Algum predador. Mas depois eu descobrir o motivo. O foi ficando pesado. Um cheiro de merda tomou conta geral. Mudei de lugar, mas de nada adiantou. Tudo fedia a merda. Deve ter sido alguma tubulação de esgoto, do emissário submarino,que se rompeu em algum lugar. Nem sei se por aqui chega alguma tubulação. Porra! Aqui está fedendo mais do que lá! Caraca! Estou indo!
          Ficamos mudos. Apenas olhávamos um para o outro. Ninguém conseguia articular palavra. Mas antes dele sair, nos deu uma dica de onde pescar.
         -Me informaram que um cardume de espadas está indo para o fundo da baia. Já tem gente por lá. Parece que é depois de Paquetá. Deve ter outros peixes também. Com certeza estão fugindo do cheiro de merda!  A coisa está preta! Boa pescaria! Mas aqui, só vão pegar cagalhão!
         Demos um sorriso forçado e agradecemos pela dica. Não pesamos duas vezes, mesmo sabendo que o peixe espada não ia tão longe, recolhemos as linhas, jogamos as iscas fora, pois não tinha como aproveitá-las, e corremos atrás da dica do cara. Por incrível que pareça, ainda teve alguns que queriam tentar mais um pouquinho ali. Com uma isca daquele jeito, fedendo a coco, nem cocoroca ia morder. Foi esse o argumento do comandante, que encerrou a peleja. Ele ainda lembrou que mesmo um peixe com um nome desses, que nos reporta ao incidente, ia ter o seu dia de bom senso. Nem cocoroca ia ter coragem de abocanhar uma isca dessas.
          Era visível que Carlos estava incomodado. Estava se sentindo o culpado pelo fracasso da nossa pescaria. Ficou afastado sem sequer arriscar a puxar alguma conversa. Estava cabisbaixo. Estava triste. Teo olhou para ele e falou:
         -Carlos não fica assim não! Tudo tem o seu lado positivo. Já pensou se você tivesse dado uma cagada dessa em casa? No mínimo ia perder a mulher! Além de ser expulso do condomínio! E se tivesse filho, eles iam se considerar órfãos! Pense nisso! Nós somos seus amigos... Mas essa é a sua última pescaria! Ah! Ah! Ah!
         O riso surgiu em bloco. Tomou conta do ar. A descontração surgiu no ato. Até ele começou a rir também. Ninguém conseguia parar. Quando parecia que íamos parar de rir, alguém comentava “se a cagada tivesse sido em casa.” Ninguém agüentava mais rir. O motor foi ligado e partimos, só depois de algum tempo é que conseguimos ficar em silêncio.
         A viagem até a ilha de Paquetá foi longa. Estávamos cansados. E ninguém ria mais. Já tinha gente até cochilando. Graças a Deus o fedor tinha sumido. A silhueta da ilha de Paquetá apareceu distante. Mais algumas ilhas também foram surgindo aos poucos. Avistamos o barco do pescador que tinha dado a dica pra gente. Chegamos perto e falamos com ele:
      -E aí amigo, como é que está a pesca por aqui?
      -Tudo bem! Já pesquei de tudo! Já está dando até para ir embora! Mas vou ficar mais um pouco! Agora é só espada! Vou encher a burra! Vou aproveitar que ela está se deslocando mais, para o fundo da baía. Continua fugindo da merda!
          Ele respondeu estampando uma satisfação em cada palavra. Arrisquei mais uma pergunta.
          -Que tal a gente arriscar por aqui também?
          -Acho melhor não! Vão pra depois daquela ilhota ali! Aquela toda de pedra! O pesqueiro ali é bom também! Lá vocês vão se dá muito bem! Aqui vocês vão acabar me atrapalhando! Tá legal?

          Usou de toda sua franqueza. Não queria ninguém perto dele. Dei uma olhada pra dentro do barco dele e vi que estava bem cheio. Ele e um parceiro só tiravam em penca. Cada linha tinha quatro anzóis. Cada puxada vinha cheia. Pensei em como as pessoas são egoístas. O cara não queria repartir com a gente. O comandante percebendo que poderíamos falar alguma coisa foi se afastando para evitar polêmica. Nem um tchau ele deu. Paramos próximo da tal ilhota indicada pelo cara. Deu até para descermos um pouco. Com cuidado chegamos num pequeno pedaço de areia. Quem quis descarregar a bexiga desceu. Só estava proibido o número dois. Cagar jamais! Mas mesmo assim Carlos abriu um buraco na areia e terminou de fazer o seu estrago. Não sei de quem foi à idéia dele se sentar,mas foi a nossa sorte, porque o fedor ficou tapado. Quando o cara ameaçou se levantar, rapidamente Teo cobriu o buraco. Que alívio! Foi apenas um mau cheiro passageiro. Ficamos preocupados com o que poderia acontecer no futuro. Com certeza àquela ilhota não ia ser a mesma. Esqueci de falar que a faixa de areia não tinha mais que um metro e meio de extensão. E a largura não passava de meio metro. Hoje não tenho muita certeza se era isso mesmo. E se essa ilhota realmente existiu. Ou se isso foi fruto da birita. Mas eu me lembro que no meio dessa ilhota, tinha uma pedra bem alta. E em volta dela, tinham pedras menores. Não voltei lá para confirmar. Essas lembranças me fazem acreditar que ela está lá, sim! Se não estiver... A poluição pode tê-la engolido.
                                 Continua semana que vem...

terça-feira, 6 de outubro de 2015

UM NÁUFRAGO EM ALGUM LUGAR DA BAÍA - Parte 2

continuando...

Saímos de lá meio envergonhados. Envergonhados com a gente mesmo. Tenho quase certeza que não fomos notados pelos outros pescadores. Isso foi uma grande coisa. Do jeito que chegamos, saímos. Ninguém nos olhou na chegada e nem na saída. Acho que se a gente tivesse jogado o anzol dentro do barco deles, íamos pegar algum peixe e não íamos ser notados. Não conseguíamos acreditar no que tinha acontecido. O comandante tentou perguntar a um pescador qual era a sua isca. O cara deu uma resposta, sem olhar na cara dele, que de nada adiantou. A isca dele era a mesma que estávamos usando. Era muito estranho àquela rejeição dos peixes pelos nossos anzóis.

            Tomamos o rumo das Ilhas Cagarras. No meio do caminho me lembrei de um fato que me preocupou muito. Na hora nem comentei com os amigos. O nome do barco estava riscado. Tinham passado uma tinta por cima do antigo nome. Por baixo ainda tinha uma sombra, que dava pra ver que era Esperança. Eu me lembrei que era realmente esse o nome. Já tínhamos saído algumas vezes com esse barco. Agora estava rebatizado de Titanic. Por quê? Me arrepiei dos pés a cabeça. Era mais uma preocupação. E essa, a pior delas. Enquanto navegávamos, fiquei do lado do comandante. Indaguei sobre a mudança do nome do barco. Ele fez uma cara de surpresa e disse que não tinha observado a mudança de nome. Não sabia quem tinha feito isso. Depois me olhou sério e falou: - Isso aqui não afunda nunca! – Ficou olhando no meu rosto em silêncio, mas deixou escapar um sorriso enigmático. Não gostei nada, nada daquela reação. Bateu nas minhas costas e me mandou colocar iscas nos meus anzóis. Naquela hora a preocupação pelos peixes, era de importância menor. Se bem que o fato de não pegarmos nenhum peixe, era um motivo a mais de ficarmos preocupados. Principalmente eu. Nunca soube de um caso assim. Quando saia um barco, já abarrotado de peixes, a gente ficava no seu lugar, achando que íamos nos fartar de pescados. Qual nada, os peixes sumiam. Cansamos. Foi quando resolvemos sair. Alguém falou Cagarras! E lá fomos nós. O motor já estava ligado e o seu toc, toc, toc explodia dentro da minha cabeça. Rezei um bocado para chegarmos logo ao destino. Que alívio, chegamos! Os molinetes já estavam prontos. Um friozinho fez a gente se agasalhar. Um dos amigos colocou a linha dentro d’água e já gritou emocionado. –Peguei um! Peguei um! Esse é dos grandes! – Paramos para observar a briga dele com o peixe. Foi uma briga intensa. De vez em quando,deixava o peixe levar um bocado de linha. Depois recomeçava a puxar. Quando chegava num ponto qualquer, ele não conseguia trazer o bicho para fora d’água. Aí a pressão fica grande. Então resolvia deixar o peixe levar a linha para o fundo. Depois recomeçava a ginástica. O cara já estava bem cansado e nada do bicho chegar à superfície. Resolveu então trazê-lo de qualquer jeito. E puxou. E puxou. De repente o peixe atravessou por baixo do barco. A linha ficou leve. Em seguida outro tranco. A linha começou a raspar no fundo do barco. A pressão na linha permaneceu por quase cinco minutos. O peixe não aparecia e nem o amigo conseguia trazê-lo. De repente a linha ficou frouxa. Achamos que o peixe tinha cansado. Agora seria fácil. Naquele momento já estava todo mundo envolvido. A torcida junto ao amigo era grande. Nisso outro amigo falou que a sua linha estava balançando. Foi lá e constatou que tinha um peixe no seu anzol. Começou a puxar. Por sua vez o outro sentiu que a sua linha voltava a esticar. Naquela altura ele já não tinha mais braço para tentar puxar o peixe. Mas mesmo assim recomeçou a briga. O outro, mais descansado, puxava a sua velozmente. Com poucos minutos os dois estavam com as suas linhas completamente esticadas. Nenhum dos dois conseguia trazer o seu peixe. Resolveram não fazer mais pressão. Mantiveram apenas as linhas esticadas. Não queriam arriscar em perder os peixes. O comandante saiu do seu posto e se aproximou de onde estava um dos pescadores. Esticou o corpo para fora do barco e olhou o costado da embarcação. De repente uma risada ecoou. Ele não conseguia falar. Apontava e ria. Seis de nós, eu e mais cinco, que não estávamos com a linha n’água, corremos para ver o que estava causando tanta graça. Com essa súbita mudança de bordo, quase que o barco virou. Três voltaram rapidamente. Eu fiquei e fui olhar. Tive que rir. Ri muito. Um deles tinha um peixe minúsculo no anzol. E o coitado ainda tinha sido pego pela barriga. Além do peixe, tinha um galho de árvore. Foi uma trabalheira só para desembaraçar as linhas. No final foi constatado que faltava um anzol. Aí o papo de pescador ganhou história. Fiquei à parte só escutando. Fiquei imaginando que ao voltarmos para a terra, essa história teria outra cara. Com a gente o dono do molinete já avaliava o tamanho do pescado. Naquele momento o suposto peixe que tinha escapulido, já estava com cinco metros. O filhote de pargo, fisgado pela barriga, já beirava os trinta centímetros. Aquilo foi até motivo para uma rodada de cervejas e salgadinhos. Deixamos as linhas dentro d’água e ficamos jogando conversa fora. O tempo foi passando e nada de peixe beliscar. Passou um gaiato numa traineira e sacaneou a gente. – Tá ruim mermo, heimcumpadi! Num pescaram nada na laje e nem aqui! Num é mermo? Vão pru mercado, que é mais garantido o peixe!  – Uns xingaram o cara. Outros levantaram um dedo, simbolizando o pênis. Eu e o comandante ficamos calados. Estava completamente desanimado. Só tinha uma vontade: ir embora. A coisa não estava legal. Nada dava certo. Nenhum peixe pra contar história. O silêncio tomou conta do banco. As linhas dentro d’água, sem nenhum sinal de peixe. O desânimo estava contagiando todo mundo. De repente um grito, vindo da proa, quebrou o silêncio. Alguém perguntou ao comandante se tinha banheiro na embarcação. Disse que a coisa estava ficando preta. Estava apertadíssimo.  O comandante deu um sorriso e mando-o pegar uma garrafa pet cortada ao meio e se servisse. Está na hora de dar nome aos bois. Vou batizar os membros da tripulação. Carlos respondeu de lá, que não era para urinar. O comandante deu uma gargalhada, apontou para o oceano e disse: - Caga ali! Fica a vontade! Caga tudo que você tem direito! – Carlos olhou e respondeu que não sabia como. Não ia entrar de jeito nenhum dentro do oceano. Aquilo seria extremamente perigoso. Além da água está completamente gelada, ele não sabia nadar. Então o comandante sugeriu que duas pessoas o segurassem, com a bunda virada para a água. A princípio ouve alguma contestação, mas devido aos gases perigosos que o cara já começava a expelir, Bento e Aldo resolveram ajudar. Carlos subiu na borda e os dois seguraram-no pelos braços. Aí começou o problema. Quem arriaria o short dele? Beto como era maior, com os braços compridos, subiu no banco e se esticou para arriar o short de Carlos. Mas o comandante vendo aquela cena engraçada e sem pé nem cabeça, sugeriu que tirassem o cara dali e voltasse com ele já completamente despido, para o banheiro aéreo. Se não fosse a quantidade de cerveja que o pessoal estava na cachola, com certeza jamais faria uma coisa daquela. Beto, aceitando a sugestão do comandante, foi descer para Bento e Aldo tirarem Carlos dali. Aí o bicho pegou. Escorregou e foi se segurar em Bento. Acabou caindo os quatro dentro do mar gelado. Foi um Deus nos acuda. Carlos com medo de morrer, acelerou a sua cagada. Bento que continuava segurando o braço do amigo, acabou ficando no meio da merda. Uma água marrom e fedorenta foi envolvendo os quatro. O mau cheiro rapidamente tomou conta do ar. A coisa ficou difícil. Carlos se debatia e afundava. Bento puxava o amigo, que já estava com coco até na alma. Aldo e Beto também ajudavam. Tentaram subir com o amigo no barco, mas não conseguiam. Estavam todos os quatro escorregadios. O comandante pegou um salva-vidas e lançou para eles. Aldo pegou e colocou em Carlos. Finalmente ele se acalmou, menos o fedor.
                                            Continua semana que vem...