Quando os três sujeitos perceberam que o
carro do jornal tinha parado e a buzina estridente ecoava sem parar,
assustados, e sem completar o intento, largaram a pessoa no chão e partiram em
alta velocidade.
PC e Marcão rapidamente se aproximaram
do corpo estendido junto ao meio fio. PC, antes de mexer no corpo, observa se a
pessoa está respirando. Confirmado, com cuidado vira o corpo, que estava com a
cara enterrada no chão. Um fio de sangue escorria pela testa. Estava desmaiado.
Mas não demorou muito e o rapaz abriu os olhos. PC sorriu e disse:
- Ô irmão! Como é que você está?
Foi perguntando e, ao mesmo tempo,
ajudando-o a se levantar.
O rapaz ainda se refazendo do
acontecimento, não respondeu de imediato. Mas depois de ficar em pé e botar a
cabeça em ordem, disse:
- Agora tá tudo bem. Muito obrigado,
cara. Não sei bem o que aconteceu. Mas se vocês não tivessem aparecido, acho
que eu estava frito. Vocês me tiraram de uma fria! Muito obrigado. Obrigado
mesmo.
Nisso Marcão olha para o rapaz e
fala assustado:
- PC! Ele tem olhos azuis!
- Meu irmão! Pode crer que você
nasceu de novo!
- Não estou entendendo. O que tem
demais os meus olhos?
Vermelho que já vinha chegando,
entra na conversa e fala:
- Rapaz! Acende uma vela pros seus
santos, que eles livraram a sua barra! Meu irmão! Você tem o corpo fechado,
hein!
O rapaz olhava assustado. Parecia
que a voz não queria sair. Como não falava nada, PC foi dizendo:
- Não tens lido o jornal, não? Ias
ser o décimo sétimo presunto, meu caro! Iam te deixar sem esses lindos olhos
azuis! Dá uma chegada na DP! Faz isso!
- Então deixa o seu endereço com a
gente. Tá legal? Dá uma esfriada. Com a cabeça mais tranquila, você consegue se
lembrar de tudo.
- Não sei. Eles estavam com meia de
mulher na cara. Mas vou deixar o meu endereço com vocês. Vocês foram legais.
O rapaz saiu e os três retornaram
para o carro do jornal. No meio do caminho o telefone de PC toca. Ele atende e
tenta explicar o que tinha acontecido. Mas Souza, o chefe da redação, não quer
engolir as suas justificativas:
- PC! Não vem com essa não! Matos é
quem vai cobrir esse caso! Pô! Você já era pra estar em Saquarema, antes das
oito horas! Pelo jeito, nem às nove! Só voando!
- Mas chefinho eu estou com uns
planos sensacionais! Pelo menos se não der pra desvendar esse mistério, a gente
vai deixar eles doidinhos! Isso vai ser só o começo! Como eu te falei, nós
salvamos um cara! Com certeza ia ser a décima sétima vitima! Eles não esperavam
por essa! Uma coisa que estava completamente coberta, já começa a mostrar a
cara! Podemos dizer que a polícia já está na cola deles! Que os repórteres do
nosso jornal, viram-nos! E tem o rapaz também! Ele pode dizer que pode ajudar a
polícia! O que acha da ideia, chefe?
- Como é que você pode afirmar que o
tal rapaz ia ser a décima sétima vitima? PC, isso é só palpite! Só porque uns
caras estavam querendo pegar o rapaz, não quer dizer que sejam os mesmos que
praticaram os dezesseis crimes! PC, eu quero coisa concreta!
- Chefe, o rapaz também tem olhos
azuis!
- Isso não prova nada! Pode ser pura
coincidência! Me diz uma coisa: Bezerra fotografou todo o lance?
Antes de responder ao chefe,
tapou o fone e falou pra Marcão e Vermelho:
- Acho que o chefe vai ceder.
Em seguida fala com Souza:
- Chefe. Infelizmente Bezerra ainda
não estava com a gente. Mas isso não quer dizer nada.
- Como não quer dizer nada! Nem uma
foto sequer dos três!
- Mas os bandidos não sabem!
- Pelo menos com o celular! Nem isso?
Então nada feito! Saquarema espera por vocês! Curta bastante esse sábado!
Na manhã da segunda - feira, antes
de chegar à redação, PC para no bar da esquina. Seu Joaquim olha pra ele e
rapidamente traz um café reforçado. Era assim toda segunda. O portuga, como ele
o chamava, sabia que aquele dejejum era para espantar o wisk paraguaio que
desceu atravessado no domingo. De vez em quando olhava para dentro da sua
inseparável bolsa a tira colo. Seu Joaquim, enrolando o bigode, demonstrando
curiosidade, pergunta:
- Ô gajo! O que tanto tu olhas para
dentro desta bolsa? Já estás a me deixar curioso!
- Curioso? Tu és um grande bisbilhoteiro, portuga! Só
estou vendo se não esqueci o meu caderninho! Cara curioso!
- Caderninho? Ora bolas! Isto aí é uma
montoeira de papel rabiscado! Nem tu entendes o que está escrito! Tu não me
enganas!
- Estou indo!
- Me vais dar um trambique?
- Depois eu pago!
- Assim tu me levas a falência!
Isso acontecia todas às
segundas-feiras. Devia ser para pegar folego. Ele sempre conseguia sair dali,
com o humor melhorado. Até deixava escapar um sorriso, depois das reclamações
do Seu Joaquim. Quando entrava no edifício, se sentia um pouco mais leve, para
mais um dia de batalha. Nos seus rabiscos, como dizia o portuga, já tinha um
material bom para mandar para a sede do jornal, no Rio de Janeiro.
Já estava no último degrau. Deu uma
paradinha para respirar, acertou a sua bolsa a tira colo e entrou na sala. Deu
um bom dia baixinho, para não chamar a atenção. Mas o chefe já o conhecia de
longa data. Eram amigos desde o tempo em que eram focas. Conhecia as suas
manhas de cor e salteado. Viu quando a porta se abriu bem devagar - esse era o
seu estilo - e já sabia que era ele chegando. Ao seu bom dia, ele respondeu com
uma bronca:
- PC você é um irresponsável! Quem é
o chefe aqui sou eu! Você e os seus planos! Assim não dá!
Ele então responde no mesmo tom:
- Você pode ser o chefe, mas o
repórter sou eu! Quem se joga no meio das feras, é o papai aqui! Souza, você
sabe que tenho faro policial! Cara sou repórter de polícia! O tempo me deu esse
faro!
Continua semana que vem...