terça-feira, 26 de setembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 2

             Continuando...


            Quando os três sujeitos perceberam que o carro do jornal tinha parado e a buzina estridente ecoava sem parar, assustados, e sem completar o intento, largaram a pessoa no chão e partiram em alta velocidade. 
            PC e Marcão rapidamente se aproximaram do corpo estendido junto ao meio fio. PC, antes de mexer no corpo, observa se a pessoa está respirando. Confirmado, com cuidado vira o corpo, que estava com a cara enterrada no chão. Um fio de sangue escorria pela testa. Estava desmaiado. Mas não demorou muito e o rapaz abriu os olhos. PC sorriu e disse:
          - Ô irmão! Como é que você está?
            Foi perguntando e, ao mesmo tempo, ajudando-o a se levantar.
            O rapaz ainda se refazendo do acontecimento, não respondeu de imediato. Mas depois de ficar em pé e botar a cabeça em ordem, disse:
          - Agora tá tudo bem. Muito obrigado, cara. Não sei bem o que aconteceu. Mas se vocês não tivessem aparecido, acho que eu estava frito. Vocês me tiraram de uma fria! Muito obrigado. Obrigado mesmo.
             Nisso Marcão olha para o rapaz e fala assustado:
          - PC! Ele tem olhos azuis!
          - Meu irmão! Pode crer que você nasceu de novo!
          - Não estou entendendo. O que tem demais os meus olhos?
            Vermelho que já vinha chegando, entra na conversa e fala:
          - Rapaz! Acende uma vela pros seus santos, que eles livraram a sua barra! Meu irmão! Você tem o corpo fechado, hein!
            O rapaz olhava assustado. Parecia que a voz não queria sair. Como não falava nada, PC foi dizendo:
          - Não tens lido o jornal, não? Ias ser o décimo sétimo presunto, meu caro! Iam te deixar sem esses lindos olhos azuis! Dá uma chegada na DP! Faz isso!
          - Não. Acho que não. Vou me mandar pra casa.
          - Então deixa o seu endereço com a gente. Tá legal? Dá uma esfriada. Com a cabeça mais tranquila, você consegue se lembrar de tudo.
          - Não sei. Eles estavam com meia de mulher na cara. Mas vou deixar o meu endereço com vocês. Vocês foram legais.
            O rapaz saiu e os três retornaram para o carro do jornal. No meio do caminho o telefone de PC toca. Ele atende e tenta explicar o que tinha acontecido. Mas Souza, o chefe da redação, não quer engolir as suas justificativas:
          - PC! Não vem com essa não! Matos é quem vai cobrir esse caso! Pô! Você já era pra estar em Saquarema, antes das oito horas! Pelo jeito, nem às nove! Só voando!
          - Mas chefinho eu estou com uns planos sensacionais! Pelo menos se não der pra desvendar esse mistério, a gente vai deixar eles doidinhos! Isso vai ser só o começo! Como eu te falei, nós salvamos um cara! Com certeza ia ser a décima sétima vitima! Eles não esperavam por essa! Uma coisa que estava completamente coberta, já começa a mostrar a cara! Podemos dizer que a polícia já está na cola deles! Que os repórteres do nosso jornal, viram-nos! E tem o rapaz também! Ele pode dizer que pode ajudar a polícia! O que acha da ideia, chefe?
          - Como é que você pode afirmar que o tal rapaz ia ser a décima sétima vitima? PC, isso é só palpite! Só porque uns caras estavam querendo pegar o rapaz, não quer dizer que sejam os mesmos que praticaram os dezesseis crimes! PC, eu quero coisa concreta!
           - Chefe, o rapaz também tem olhos azuis!
           - Isso não prova nada! Pode ser pura coincidência! Me diz uma coisa: Bezerra fotografou todo o lance?
              Antes de responder ao chefe, tapou o fone e falou pra Marcão e Vermelho:
           - Acho que o chefe vai ceder.
             Em seguida fala com Souza:
           - Chefe. Infelizmente Bezerra ainda não estava com a gente. Mas isso não quer dizer nada.
          - Como não quer dizer nada! Nem uma foto sequer dos três!
          - Mas os bandidos não sabem!
          - Pelo menos com o celular! Nem isso? Então nada feito! Saquarema espera por vocês! Curta bastante esse sábado!
            Na manhã da segunda - feira, antes de chegar à redação, PC para no bar da esquina. Seu Joaquim olha pra ele e rapidamente traz um café reforçado. Era assim toda segunda. O portuga, como ele o chamava, sabia que aquele dejejum era para espantar o wisk paraguaio que desceu atravessado no domingo. De vez em quando olhava para dentro da sua inseparável bolsa a tira colo. Seu Joaquim, enrolando o bigode, demonstrando curiosidade, pergunta:
          - Ô gajo! O que tanto tu olhas para dentro desta bolsa? Já estás a me deixar curioso!
         - Curioso?  Tu és um grande bisbilhoteiro, portuga! Só estou vendo se não esqueci o meu caderninho! Cara curioso!
        - Caderninho? Ora bolas! Isto aí é uma montoeira de papel rabiscado! Nem tu entendes o que está escrito! Tu não me enganas!
        - Estou indo!
        - Me vais dar um trambique?
        - Depois eu pago!
        - Assim tu me levas a falência!
          Isso acontecia todas às segundas-feiras. Devia ser para pegar folego. Ele sempre conseguia sair dali, com o humor melhorado. Até deixava escapar um sorriso, depois das reclamações do Seu Joaquim. Quando entrava no edifício, se sentia um pouco mais leve, para mais um dia de batalha. Nos seus rabiscos, como dizia o portuga, já tinha um material bom para mandar para a sede do jornal, no Rio de Janeiro.
         Já estava no último degrau. Deu uma paradinha para respirar, acertou a sua bolsa a tira colo e entrou na sala. Deu um bom dia baixinho, para não chamar a atenção. Mas o chefe já o conhecia de longa data. Eram amigos desde o tempo em que eram focas. Conhecia as suas manhas de cor e salteado. Viu quando a porta se abriu bem devagar - esse era o seu estilo - e já sabia que era ele chegando. Ao seu bom dia, ele respondeu com uma bronca:
          - PC você é um irresponsável! Quem é o chefe aqui sou eu! Você e os seus planos! Assim não dá!
            Ele então responde no mesmo tom:
          - Você pode ser o chefe, mas o repórter sou eu! Quem se joga no meio das feras, é o papai aqui! Souza, você sabe que tenho faro policial! Cara sou repórter de polícia! O tempo me deu esse faro!
                     Continua semana que vem...
 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 1

                               O CASO DOS OLHOS AZUIS
       -José Timotheo-      

          O som de uma sirene cortava o silêncio da madrugada.
          - Dr. Carlos Alberto, o que vamos fazer? Com esse corpo aí, já são dezesseis! Dezesseis cadáveres, Dr.! Isso é muito intrigante! As características são as mesmas! Todos faltam os olhos!
          Falava o comissário Miro, ao delegado, que pensativo, as mãos sob o queixo, os cotovelos apoiados na viatura policial, tinha o olhar pedido na imensidão do infinito. Coçava a cabeça de vez em quando. Mas a expressão era de que não tinha chegado, ainda, a nenhuma conclusão. O máximo que tinha era suposições. Ergueu o corpo e ficou encostado na porta do veículo. Olhou para o comissário e disse:
         - Miro, isso está parecendo...
         - Parecendo não! Isso é uma tremenda batata quente, delegado!
           O Delegado fica surpreso com a presença do repórter e pergunta:
        - Oh, PC! O que é que você está fazendo por aqui? São três horas da matina, cara!
      O repórter, como era do seu hábito, estava com o seu bloco de papel e caneta na mão, a sua inseparável bolsa a tira colo, já pronto para o trabalho. Antes de responder, bateu no ombro do delegado e disse:
         - Aí Dr.! Parece que a notícia chega junto comigo! Com certeza é mais um furo de reportagem! É mais uma boa notícia que cai no meu colo! Moro aqui do lado! Ouvi essa zoeira infernal e vim ver o que era! Delegado, sabe de uma coisa. Vou dar minha opinião. O senhor sabe que eu tenho faro! Sabe! Não sabe? Não tenho nenhuma dúvida que o serviço, nesses dezesseis cadáveres, foi feito por um profissional de primeira! Tem mão de médico nessa história, Dr.! Concorda comigo?  
         - PC, realmente você tem razão. Era mais ou menos isso o que ia falar pra Miro, quando você chegou. Certeza! Certeza! Eu não tenho. Se o assassino é médico, não posso afirmar. Mas que é da área, isso ele é!
        - Delegado, esse cadáver está com algum documento?
        - Está sim. Estava com uma capanga presa ao pulso. No seu interior achamos uma carteira de identidade. Está aqui no carro. O nome é Aberlado. 
            O repórter fica pensativo, mas em seguida fala:
         - Delegado, posso dar uma olhadinha?
         - Tudo bem. Rapidinho. E não me tira nada de dentro, tá bem?
         - Sem problema. Dou uma olhadela rápida.
            PC abre a capanga e começa a olhar o seu interior. Encontrou de interessante, uma cópia da carteira de identidade e meia dúzia de retratos coloridos, 3x4. De repente, olhando para a foto, faz uma cara de surpresa.  Coça a cabeça e fala para o delegado:
        - Olha aqui delegado! Olha essa foto!  Dr. Carlos, esse também tinha os olhos azuis! Todos tinham os olhos azuis, não é isso? É muita coincidência, não acha?
        - Bota coincidência nisso, PC! Sabe que eu já tinha observado esse detalhe! Cara, só pode ser maníaco quem faz uma coisa dessas! É uma coincidência tenebrosa!  Sou um cara cascudo, mas isso aí tá me deixando impressionado!
        - Tá ficando velho?
        - Que velho nada! Isso aí é coisa de demônio! Sabe de uma coisa: nos primeiros corpos que foram achados, até ventilei a hipótese de estarem retirando as córneas para vender. A gente sabe que existe uma gang vendendo, não só córnea, mas outros órgãos também. Agora eu te pergunto: pra quê arrancar os olhos? Nesse instante eu já tenho dúvida se tem, realmente, alguma gang envolvida nisso. Pra quê tirar os olhos, cara? E só olho azul! Em dois meses, já temos dezesseis cadáveres! Não sei mais o que pensar!
         - Sorte que eu tenho olho castanho!
         - E você ainda ri, PC?
         - Só pra descontrair um pouco, delegado. Estou subindo. Mais tarde a gente se fala.
            O dia começava a clarear. PC já tinha subido e se deitado em sua cama, mas não tinha conseguido dormir. Não pregou olhos. A cena não saía da sua cabeça. Virou na cama mais que bife na frigideira. Olhou para o telefone que estava na cabeceira. Ameaçou pegar, mas desistiu. Olhou para o despertador e viu que passava um pouquinho das seis. Dessa vez sem pestanejar, pegou o celular e discou. Do outro uma voz sonolenta reclamou:
          - Porra, PC! Você já viu a hora? São seis horas! Deixa eu dormir mais um pouquinho, cara! Tá legal?
         - Nada disso Marcão! Um bom repórter tem que ter os olhos bem abertos, tá falado? E você é apenas um foca! Se quiser ser um repórter de verdade, tem que ir a luta! Se prepara que daqui a pouco eu e Vermelho vamos passar por aí! Vamos trabalhar, cara!
            Logo após esse telefonema, PC ligou para o motorista, que morava próximo, e o pegou ainda sentado numa mesa de um bar. Não reclamou, mas, depois de um muxoxo, disse que ia passar em casa e tomar um banho.
            Às sete e quinze já estavam pegando Marcão, que dentro do carro questionou-o:
        - PC, pra onde a gente vai tão cedo?
        - Sabe desde que horas eu estou acordado? Três horas da matina!
        - Estava com insônia?
        - Você já viu PC com insônia, menino? Sabia que apareceu outro presunto, sem olhos? E sabe onde foi isso? Perto de casa! Sabia que esse também tinha olhos azuis? É isso aí, meu caro!
           Deu uma pequena pausa, olhou para a cara do estagiário e continuou:
         - Estou com uma ideiazinha aqui, pra esse caso... E o chefe me manda pra Saquarema, acompanhar um torneio de surfe! Eu, PC, um repórter de polícia! Pode isso?
            Enquanto PC falava, Vermelho esfregava os olhos, tentando ficar aceso. Era uma viagem que não estava nos seus planos. Mas o que fazer? Quando chegasse ao município de Saquarema, encostava o carro em qualquer cantinho e tirava uma pestana.
            Trafegava devagar. A atenção estava dobrada. Nisso, próximo a um cruzamento, viu três caras tentando colocar um rapaz dentro de um carro. Achou estranho e falou:
          - PC, o que é aquilo ali?

          - Ih! Tão querendo botar um cara à força dentro do carro! Para e buzina essa joça! Faz bastante barulho, Vermelho!
                             ...Continua semana que vem!

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

CRUCIFICADA





Que tal ouvir mais uma música do CD Refiz Estradas?

O vídeo já está disponível no Youtube!!

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A história que deu origem a história, “O caso dos olhos azuis”.

                                 
                  
A HISTÓRIA QUE DEU ORIGEM 
A HISTÓRIA, 
“O CASO DOS OLHOS AZUIS”

                                            - José Timotheo -    

              Entrei no jornalismo pelas mãos de um amigo. Um grande repórter de Niterói. Ele era um dos melhores repórteres policiais. Naquele tempo os grandes jornalistas não tinham cursado a faculdade. Tenho dúvidas se na época já tinha alguém formado. Não sei. Não me recordo. Só sei que todos que conheci, eram grandes profissionais. E eles não precisavam de faculdade alguma para mostrar que eram capazes. Já nasceram feitos. Eram feras! Soube que alguns continuam operantes. Eu fiquei apenas alguns anos, mas ali foi a minha primeira grande escola. Eu tinha vinte e dois anos.
              Esse meu amigo fez uma brincadeira comigo. Mas eu encarei como um desafio. Na presença de todos da redação – sucursal de um jornal, em Niterói (prefiro não citar o nome) - me deu uma incumbência. Se cumprida, estaria empregado. Caiu bem a proposta. Precisava de um emprego. Mas nunca podia imaginar que seria de repórter. Fiquei empolgado. Disse-me que seria de pura investigação. – O que seria? – estava ansioso. Sorriu e passou-me a tarefa: - Cara. Queremos que você descubra o nome de uma criança que morreu de meningite, em um colégio de Icaraí. – falou e entregou-me um papel com o nome e o endereço do tal colégio. Sorri, achando o desafio tranquilo. Achei que era só chegar e perguntar. Moleza! Peguei o papel, dobrei-o e o enfiei no bolso da minha calça jeans ensebada. Nunca pensei que seria tão fácil arranjar um emprego, sem precisar correr tanto atrás. Estava caindo no meu colo. Perguntei sorridente, quando poderia começar a investigação. Disse-me: - Agora. – Lembro-me do horário (não sei por que a posição dos ponteiros do relógio não foi varrida da minha cabeça): 9h e 15 min. Esse meu amigo e um fotógrafo já estavam de saída para a ronda diária pelas delegacias. Os dois eram ótimos. Uma dupla e tanto. Depois nos tornamos um trio. Tinha sede de aprender. E não descolava nunca deles. Desci junto. Aí começou a minha peregrinação.
            Fui pra rua. Pegar ônibus nem pensar. A grana estava espremida. Saí do centro de Niterói e fui a pé até o Campo de São Bento. Achei o colégio fácil. Só que estava fechado. Chamei para ver se aparecia alguém e nada. Mas não arredei pé do portão. Naquela época era um cara teimoso. De vez em quando batia palma, chamava pra ver se alguém aparecia, gritava pra chamar a atenção e continuava tudo na mesma. Acho que alguém sentiu pena de mim, ou já estava de saco cheio e resolveu dar às caras. Já estava de plantão havia mais de duas horas. O senhor, não disse, mas deve ter me achado chato. Veio andando devagar, mascava alguma coisa, que não deu pra saber o que era, e perguntou-me o que eu queria. Fui direto: qual o nome da criança que morreu de meningite? O senhor olhou pra mim e, saindo de banda, disse: - Sei não! Morreu ninguém aqui não! – Antes que ele sumisse, falei: - Ué! Disseram-me que o senhor sabe! – Ele voltou, olhou na minha cara e disse: - Quem disse isso, não sabe das coisas! É um mal informado! Vai até o posto de saúde em Santa Rosa e pergunta lá! – Lá fui eu para o bairro de Santa Rosa. Lá também ninguém sabia. Assim disseram. Insisti tanto, que uma atendente disse para eu me informar no Hospital Antônio Pedro. Rodei tanto por dentro desse hospital, que já estava com as canelas doendo. Cada setor que ia alguém me dizia que não sabia de nenhum caso de meningite na cidade. Olhei para o meu relógio de pulso e estava marcando 14:30 h. Pensei em desistir. Já estava caminhando para a saída, quando alguém me chamou. Olhei pra trás e me deparei com uma amiga, estudante de enfermagem da UFF (Universidade Federal Fluminense). Não a via há muito tempo. Veio me deu um beijo e perguntou: - Cara! O que é que você está fazendo por aqui? – Expliquei tudo sobre a minha via-crúcis. A menina sorriu e disse: - Se o menino tiver dado entrada aqui, o meu namorado vai me dizer. – Mandou-me esperar ali e rodou nos calcanhares. Dez minutos depois, voltou. Levou-me para um canto, longe dos olhares de uns seus amigos curiosos e confidenciou-me: - A tal criança passou por aqui, mas foi encaminhada para o Hospital Santa Cruz. O nome é Carlos. Não fala pra ninguém. Isso é segredo. Não pode dizer que a informação partiu daqui. Só sabemos isso. – E o sobre nome? – perguntei. Disse que não sabia. Despedi-me e parti para o HSC.
          Subia uma ladeira e pensava em como descobrir o nome completo do menino. A barriga roncava de fome. Já passava das 15:00 h. Parei na porta para descansar. Ainda não tinha encontrado um jeito para fazer a abordagem à recepcionista. Entrei e fui direto a um bebedouro próximo ao balcão da recepção. Bebi bastante água para afogar a fome. Depois tomei coragem para perguntar. Nisso chegou uma menina, entrou na minha frente, e pediu informações de um parente. A recepcionista perguntou o nome. Ela simplesmente disse: - Paulinho (não me recordo se era esse). A recepcionista olhou na lista e falou: - Aqui tem duas pessoas com o nome de Paulo. Paulo A. (como exemplo) e Paulo B. (como exemplo). – A menina confirmou o segundo. A recepcionista deu as informações devidas e disse que o internado ainda não estava podendo receber visitas. Aproveitando o gancho, lá fui eu. Aproximei-me e perguntei: - Gostaria de saber como está o estado de saúde de Carlinhos. – Ela olhou na lista e disse: - É Carlos P.?(como exemplo) Só tem esse nome aqui. – Pensei um pouquinho e falei: - Se for uma criança, é. Como tem tanta gente com nome parecido, ficamos na dúvida, né? Ele deu entrada com meningite. – Ela olhou pra mim, estampou um ar triste e perguntou: - Você é parente? – Confirmei que o menino era meu sobrinho. Ela então procurou falar com cuidado. Disse-me que os médicos tentaram de tudo para reverter o quadro, mas o óbito acabou ocorrendo. Ele tinha falecido pela manhã. Saí dali triste com o fato. Acho que a criança tinha aproximadamente cinco anos. Fiquei pensando na recepcionista que, mesmo lidando com a morte diariamente, ainda demonstrava bons sentimentos. A gente presencia tantos descasos com a vida alheia, que acaba ficando surpreso quando encontra alguém que ainda se entristecesse com a tristeza dos outros.
            Desci a ladeira e fui para a redação, que não era muito distante dali. Parecia que tinha dado a volta ao mundo, quando o caso foi resolvido praticamente do lado. Cheguei antes das 16:00 h. Fui entrando na sala, sendo recebido com um cheiro de café entrando pelas minhas narinas. O grupo rodeava a mesa do chefe da redação, papeando e bebendo café. Dei um alô. Dos três repórteres, um se virou e falou: - Chegou na hora, Timotheo! Vamos tomar um cafezinho pra arrancar o cansaço dessa cara? – Peguei o copo que me oferecia.  O meu amigo ficou me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa. Percebi um sorriso escondido por detrás do bigode. Não tenho certeza se ele achou que eu tinha fracassado. Tomei o café de um gole só. Senti de imediato que as minhas forças estavam sendo acordadas. Não falei nada, mas entreguei um papel com o nome completo do garoto e o nome do hospital que tinha acontecido o óbito. Ele leu. Mostrou-o para os outros repórteres e entregou-o ao chefe. Esse deu uma olhadela, torceu a boca e devolveu para o amigo. Parecia que o papel estava quente. Ele recebeu de volta e disse: - E aí, fulano! (não me recordo do nome do chefe) E agora? Promessa é promessa! O garoto está empregado? – O chefe deu uma resposta rápida:- O que fazer! Que se cumpra o prometido! – Aí foi o meu início.
           Sobre o caso do menino, fiquei sabendo que nenhum jornal tinha conseguido a informação. Foi assim que me tornei um foca.
          Nesse jornal consegui aprender alguma coisa. Fiquei ali, pouco tempo. Depois passei para outros e o aprendizado continuou. Agora, o que tem haver isso tudo que escrevi, com “O CASO DOS OLHOS AZUIS”? Vou explicar. No período que trabalhei na imprensa, houve algum rumor sobre tráfico de órgãos.  As suspeitas, não me lembro se foram verdadeiras. Só sei que a minha imaginação foi longe.  Juntei isso, com um corpo encontrado no mar, que apresentava o rosto completamente desfigurado. Chamou-me a atenção a falta de um olho. Parecia que tinha sido comido por criaturas marinhas. Poucos dias após o ocorrido, veio-me a ideia de escrever um texto, tendo como personagem principal o meu amigo PC. Nesse tempo todo, a história ficou dormindo sobre algumas linhas. Agora resolvi reescrevê-la. Vamos lá.

OBS. Todos os nomes são fictícios.
           Acompanhe a história  “O caso dos olhos azuis”. a partir da semana que vem!.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

CONTRASSENSO


CONTRASSENSO  
 - José Timotheo -

Você vê a nossa criança
No alto do morro
Brincando com arma
Tão sorridente
Ali está estampada
A felicidade da tristeza

Olhando pra cara da gente