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Eles arrastaram o soldado John de qualquer jeito, esquecendo-se da gravidade da sua saúde. Mas naquele momento não tinham opção: ou era sair dali o mais rápido possível ou ser envolvido por aquela fumaça, que não se sabia a origem. Podia não ser tóxica, mas mesmo assim não deveriam se arriscar.
O sargento, antes de continuar em direção ao túnel que já estavam os meninos, deu uma olhadela rápida e viu que a fumaça vinha avançando muito ligeira. Olhou para o soldado Peter e apenas apontou o caminho a seguir.
Os dois meninos já tinham sumido das vistas do sargento e se encontravam parados num ponto parecido com o que tinham saído. Olhavam sem saber o caminho a seguir. Três túneis apontavam em direções diferentes. Naquele momento já tinham perdido a noção para onde eles podiam desembocar. Mesmo conhecedores da região, perderam, pelo menos momentaneamente, o rumo. Conversaram rapidamente e Mohammed concluiu que, pelo menos ele, ia esperar pelo sargento. Mas Rachid foi completamente contra. Sugeriu que seguissem qualquer daqueles túneis.
A ideia deles era sair dali, deixando os soldados para trás. Mohammed, mesmo decidido a esperar por Téo, suspeitava, não tinha certeza, depois dos problemas que passaram juntos, se ele ainda iria mantê-lo prisioneiro. Já que a dúvida visitou a sua cabeça, depois da conversa entre eles, foi pedir a opinião do amigo.
- Quer saber mesmo? – Mohammed bateu com a cabeça confirmando - Então amigo vamos sair daqui, se possível, voando! Não vamos pagar para ver. Se você não for, vou sozinho. Mohammed eu tenho quase certeza que vamos ficar detidos, não sei por quanto tempo, na base deles, mas vamos ser prisioneiros deles. Desses malditos ianques. Alá é testemunha que tenho razão no que falo.
Mohammed quis, no princípio, contestar o argumento do amigo, mas depois de refletir por alguns minutos concordou com ele. Mesmo sentindo que o sargento era uma boa pessoa, intuitivamente sabia que ele não relaxaria à sua prisão. Era, com certeza, inflexível. Era o tipo de pessoa que não tirava de debaixo do braço o seu livrinho de normas, de deveres, de honestidade, de justiça. Ele andava em cima do regulamento, seguindo à risca o que estava escrito. Era o próprio regulamento. Então estava decidido: ia fugir com o amigo, apesar de perceber que o sargento era uma pessoa justa. Só que na hora h, o amigo retrocedeu.
Rachid que estivera disposto a seguir qualquer um daqueles túneis, de repente ficou na dúvida. – E se esses túneis não derem em lugar nenhum? – falou timidamente.
Mohammed, antes de falar alguma coisa, deixou escapar um sorriso sem graça. Não dava para saber se era por nervosismo ou decepção, pelo amigo, depois de convencê-lo, recuar. Ficou um tempinho assim sorrindo e com o olhar aparentemente perdido no nada. Mas quando pressentiu que ele ia falar mais alguma coisa, se antecipou.
- Puxa Rachid! Depois que decidi que ia segui-lo, você volta atrás! Não entendi!
- Você está rindo de mim, Mohammed?
- Rir de você, nunca. Se ri, não percebi. Por que eu iria rir de você?
- Está bem Mohammed. Eu estava certo que tínhamos que sair daqui de qualquer jeito, mas de repente me bateu uma dúvida danada. Eu perdi a noção de onde nós estamos. Lá atrás eu sabia que numa direção a gente ia sair onde estão os bandidos ou sei lá quem são, mas aqui eu não sei onde vai sair cada túnel desses.
- Eu também não sei amigo Rachid. Por isso, no início, é que falei pra gente ficar. Como não sabemos que direção tomar, e nós não temos uma bússola, eu me lembrei que o sargento tem. Também não sei se a bússola vai funcionar aqui debaixo da terra.
- Eu também não. Então vamos esperar os soldados. Estava doido para me livrar deles, mas ainda não vai ser dessa vez.
- Para com esse ódio, Rachid! De repente quem salvou você, foram os soldados americanos! Acho que eles entraram na cidade depois dos bombardeios, que não sabemos de que grupo foi. Você tem que procurar saber disso, senão você vai ficar maluco. O ódio mata.
- Mas Mohammed um enfermeiro me falou.
- Mas aquele enfermeiro não era simpatizante dos americanos. Ele não ia dizer que o grupo tal, foi o responsável, ia?
- Está bem, Mohammed. Vou tentar esquecer isso.
- É isso mesmo. É o melhor que você vai fazer. Nós não podemos ficar presos ao passado. Não vamos conseguir trazer nossas famílias de volta. Agora sou eu, você e nossos amigos. E vamos em frente. E tentar sair daqui e continuar vivos. Nós vamos ter outra chance para fugir. É questão de paciência.
Os dois ficaram conversando enquanto esperavam os soldados chegarem. O assunto era sem importância, apenas para passar o tempo.
Os três militares chegaram até onde estavam os meninos. O sargento, que vinha na frente, estava cansado de puxar John. Peter parecia mais descansado, pois apenas empurrava o corpo inerte do amigo. Mal eles chegaram, Mohammed olhou e fez uma cara feia. O sargento ficou intrigado e perguntou:
- O que houve Mohammed?
- Sei não, sargento. Mas o soldado não está nada bem. Acho que não vai longe.
- O quê que é isso? Ele só está dormindo! Está agourando?
- De jeito nenhum, sargento! Quando estava internado, vi muita gente morrer. Muitos ficavam com essa ronqueira, aí. Às vezes o médico chegava e olhava o olho da pessoa. Eu não sei o que ele via, mas normalmente balançava a cabeça e dizia para o enfermeiro que era só uma questão de tempo.
- Mas John é forte e vai sobreviver.
- Assim espero. Estou torcendo por isso.
Sargento, ouvi também eles falarem em infecção em todo o corpo. Se não me engano é septicemia.
Téo fez uma cara de preocupação e colocou a mão na testa de John, ali ficando por algum tempo, até olhar para o menino e dizer:
- Puxa. A febre voltou. Ele tomou o medicamento antes de sairmos do esconderijo, mas de nada adiantou. Estranho é que estava sem febre.
- Ele está muito quente?
- Está pelando.
- Dá outro comprimido!
- É isso, Mohammed.
Logo em seguida virou para Peter e pediu o remédio:
- Peter, pega outro comprimido de dipirona. E me dê à água também.
.......Continua Semana que vem!