Continuando...
Wolfgang estava ansioso e acabou se adiantando mais do que os amigos. Rapidamente já estava na beira da clareira. O rio estava a um passo dali, apenas com uma vegetação rasteira que se espalhava até a sua beira. Olhou e acabou demonstrando a sua decepção, já que não encontrou nenhum membro da família de Carl. Olhou em torno para ver se os amigos já tinham chegado e nada deles. Foi então até a beira do rio e para a sua surpresa tinha um pescador, em cima de uma pedra, que só era visto da borda do rio, tentando garantir o seu alimento para aquele dia. Era um senhor com aproximadamente setenta anos, que se assustou quando o agente pisou em algum galho seco. Antes de se virar, reclamou com palavras ofensivas a quem chegava. Ele acreditava que qualquer ruído externo sempre espanta os peixes. Ainda mais que naquele dia nenhum peixe ainda tinha beliscado a sua isca. Mas depois ao se virar para ver a pessoa que chegava, assustou-se, pois não conhecia o cidadão que estava ali parado olhando-o, vestido diferentemente dos moradores da região. Como mandava a educação, desculpou-se. Mas Wolfgang engatilhou a sua arma e não pensou duas vezes, atirou na cabeça do senhor, que caiu sem vida, junto com o seu caniço, dentro d’água. O poço ficou rubro na mesma hora e alguns peixes vieram até a superfície, coisa que não tinham feito durante todo o tempo em que o senhor estivera com vida e fome. Agora ele ia servir apenas de comida.
O agente, sem demonstrar qualquer remorso, soprou o cano da arma, como se fosse um pistoleiro do velho oeste americano. Nesse momento os amigos apareceram e correram em sua direção. Um deles, de nome Cristian, se adiantou e perguntou:
- Wolf, o que houve? Matou o Herr Carl?
- Não. Nesse poço ele e a família não estavam.
- Mas nós ouvimos um tiro!
- Era um cidadão que falou umas coisas que não gostei e tive que eliminá-lo. Era um inimigo do Reich.
- E cadê ele?
- Agora está alimentando os peixes. Deve ter uma carne boa. Olha só!
Os Três agentes foram até a beira do rio e olharam para dentro do calmo pocinho. Lá estava o corpo do senhor boiando e rodeado de peixes pequenos, que eles desconheciam. Mas nenhum peixe ousava tocar no corpo inerte, que boiava preso entre duas pedras. O sangue escorria e tingia a correnteza de vermelho, que descia vagarosamente até pegar velocidade suficiente para ir apagando a vermelhidão da água.
A cena era chocante. Mesmo eles, de corações embrutecidos, acostumados com a violência gratuita, acharam o assassinato do senhor idoso desnecessário. Deixaram a amostra um ar de indignação. Cristian, aparentemente o mais chateado, chamou a atenção de Wolfgang:
- O que é isso, Wolf? Não tinha necessidade disso! Um senhor! E um cidadão alemão! Nós estamos aqui para eliminar qualquer inimigo da nossa pátria e do nosso Führer, e não um cidadão!
- Cristian, não foi assim que ele se apresentou. Um cidadão não ofende um agente da Gestapo e sai impune! Talvez o meu erro fora não perguntar a ele por Carl e sua família.
- Era isso que você tinha que fazer! Como morador, ele deveria saber do destino do vizinho! Você perdeu a oportunidade de resolver essa questão aqui! -Que droga, Wolf! Você tem que domar esse animal que traz aí dentro!
- Cristian, você sabe que não é sempre que eu ajo assim! Fui eu quem ficou aqui espionando a família do general Kurt, esqueceu? Então, não dei tiro à toa, dei? Escuta uma coisa: esse velho me tirou do plumo. Você não estava aqui para ouvir o que eu ouvi. Ele conseguiu me chamar de todos os nomes feios que existem na nossa língua. Agora já foi feito. Ele não estava dando de comer aos peixes? Agora os peixes não terão mais fome.
- Simples assim, não é Wolf? Vamos embora. Leva a gente para o outro pesqueiro. Mas por favor, se encontrar alguém não vai atirando!
- Tudo bem. Não vou perder o controle. Vamos sair logo daqui, senão vou me sentir culpado.
Wolfgang ao falar, virou de lado e deixou escapar um sorriso sarcástico.
A família de Carl trafegava aparentando tranquilidade. Mas ele de vez em quando olhava pelo retrovisor, preocupado se não estava sendo seguido. A cada olhadela, respirava fundo para arrancar a preocupação. Frau Eva passou a mão no pescoço do marido e pediu para que se tranquilizasse. Ela tentava passar para ele que o perigo tinha ido embora. Ninguém ia segui-los.
- Querido, olha só como a estrada está vazia. Até agora só passou pela gente um veículo. Se a polícia chegar a nossa casa, seu tio vai segurá-lo por lá. Tenho certeza que estamos salvos. Ninguém vai nos encontrar no vinhedo da família da tia Helga.
Carl deu um muxoxo, mas disse:
- Oh! Minha querida! Você é muito otimista. Que Deus esteja te ouvindo nesse momento. Realmente, vamos torcer. Que Ele te ouça! Que Ele te ouça!
- Mohammed, essa história não tem fim? Isso é um livro! Você sabia que isso que você está me contando é sobre a segunda guerra mundial?
- Não.
- Você está de brincadeira! Só pode estar!
- Sargento, eu juro que nunca ouvi falar de guerra mundial!
- Então você nunca ouviu falar de Hitler?
- Eu juro! Nunca ouvi falar dessa pessoa!
- Como você tem uma história desse tamanho e não sabe de nada da segunda guerra mundial? Você tem que ser estudado! Você tem uma memória invejável! Nós vamos descobrir quem é você.
- Sargento, então o senhor vai me levar preso? O senhor me disse se conseguíssemos sair daqui eu estaria em liberdade! O senhor não tem palavra?
- Eu falei isso? Se eu falei, vou cumprir. Mas eu não disse que ia leva-lo preso. Nós vamos para a base e lá os médicos vão examiná-lo e tentar descobrir quem você é. Nós não vamos prendê-lo. Isso é uma promessa.
- Puxa, obrigado. Aí eu fico tranquilo. Posso continuar na minha história?
- Tem mais história? Não acabou não?
- Não. Está tudo aqui na minha cabeça.
- Isso realmente é um livro que você leu numa época da sua vida.
- Se é ou se não é, o que importa? Eu só sei que tenho que botar isso para fora. Eu tenho que contar isso tudo. O senhor permite que eu continue?
- Tudo bem, Mohammed. Mas nós temos que sair daqui. Estamos perdendo tempo.
- Olha Rachid, sargento. Ele está dormindo ou desmaiado. Enquanto eu termino a minha história, ele acorda. Continuando.
- O que se há de fazer? Vai em frente.
......Continua Semana que vem!