Blog do Escritor, Poeta e Compositor José Timotheo. Nesse Blog o escritor conta as "estórias" das letras de suas canções, gravadas no CD Refiz Estradas - em Dez. de 2010, nos estúdios Luperan em São Pedro da Serra - Nova Friburgo - RJ. Acesse as músicas nos links ao lado. Picles da época do Pasquim, poesias, estórias, histórias e muito mais!
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
O Caso dos Olhos Azuis - Parte 6
Continuando...
A agitação tomou conta dos
repórteres, menos de PC. A sexta feira
já iniciava e até aquele momento nenhum presunto, faltando os olhos, apareceu.
Foi uma semana sem crime de morte. Depois da semana anterior que jorrou sangue
pela cidade, atravessar aqueles cinco dias de tranquilidade, era um presente
dos céus. Não para os repórteres amigos de PC, mas somente para ele essa
situação agradava. Quem estava vivendo aos sobressaltos, aqueles poucos dias
foram como se tivesse tido o fim de uma guerra. Não se sentiu predisposto a
qualquer momento repórter. Estava fora do contesto. Quem o conhecia, mesmo
sabendo do seu sufoco, estranhou aquele seu comportamento. Era sempre o mais
agitado. Mas naquela sexta feira, ele, depois de muitos dias, tinha conseguido
respirar mais solto. Mas foi um dia de cada vez, até chegar aquele momento. O
cansaço assim mesmo tomou conta dele. Não é fácil se achar, todo dia, que
poderá ser a próxima vítima. E mesmo sendo um cara destemido, o peso era muito
para se carregar. Podia estar até mais leve, mas mesmo assim estava no limite.
Sentiu vontade de ir para casa. Olhou para o relógio de parede e viu que os
ponteiros ainda não tinham chegado às 15 horas. Mesmo assim, pegou a sua bolsa
a tira colo, jogou-a em cima do ombro e foi em direção à mesa de Souza.
Comunicou ao chefe que ia pra casa e que só voltaria segunda feira. O chefe,
como tinha acompanhado todo o seu sufoco, liberou-o, sem tecer qualquer
comentário. Ele deu tchau para o amigo e saiu sem falar com mais ninguém. Queria
ficar o final de semana sozinho, para refazer-se totalmente daqueles dias
pesados. Com certeza voltaria na semana seguinte completamente recuperado. E
livre do fantasma de ser mais um na lista dos mortos sem olhos.
Era horário de verão. A noite
chegou mais tarde. O calor estava quase derretendo o termômetro. PC repousava
na sua cama. Tinha chegado por volta das 16 horas. E Isso era coisa rara. Tirou
uma soneca, como há muito tempo na fazia. Acordou por volta das 19 horas. Mas
sentiu que não acordou relaxado. Estava incomodado. Porém continuou deitado. De
vez em quando, olhava para o relógio. Não sabia por quê. Mas estava agoniado.
Olhou mais uma vez. Agora estava lá: vinte horas e um pouquinho. Levantou-se e
botou uma dose de scotch. Com aquele calor, o falso malte desceu quadrado. Foi
até a geladeira, abriu-a e não encontrou nenhuma cerveja. Esqueceu que Marcão
tinha bebido as três. Bateu com força a porta da geladeira, meio invocado. Foi
até o quarto, tirou o short, colocou uma bermuda e uma camiseta e desceu para a
noite. Tinha que refrescar o corpo e a mente. Entrou no primeiro bar que
encontrou. O dono era seu conhecido. De vez em quando pousava ali, antes de ir
para casa. Quando passou pela porta, se lembrou da cerveja. Passou os dedos no bigode
e falou baixinho para si:
- Uma cervejinha até que vai bem!
Sentou-se na primeira cadeira que
encontrou. O dono, seu Geovani, veio logo ao seu encontro, deu-lhe um aperto de
mão e rapidinho arrumou a mesa. Antes que o dono do bar perguntasse o que ele
ia querer, pediu rapidamente uma cerveja estupidamente gelada. Seu Geovani
trouxe, além da cerveja, uma porção de jiló. Tomou à primeira, a segunda...
Depois caiu na real: achava que era a primeira vez que bebia uma cerveja sem
uma companhia feminina. Olhou ao redor e encontrou uma mesa com uma menina
sozinha. As outras mesas, ou só estavam com homens, ou com mulheres
acompanhadas. Ficou olhando fixamente para essa mesa. A menina levantou a
cabeça. Ele quase pensou alto:
- Que menina linda! Que pedaço! Que
lindos olhos azuis! Lindos? Oh! Meu Deus! O que é isso?
PC levanta-se rapidamente, vai
até ao seu Geovani e pede a conta. O dono do bar bate no ombro dele e fala:
- PC a sua conta já foi paga. Ainda
têm algumas cervejas no seu crédito.
Ele olha em volta e pergunta:
- Geovane, quem pagou?
- Aqueles senhores lá na ponta.
Mas quando o dono do bar se vira
para mostrar, não os encontra. Faz uma careta e diz:
- Ih, PC! Acho que já foram embora!
Sumiram rapidinho!
- Estranho, não acha? Ah! Tudo bem!
Pior se tivessem deixado a conta deles pra eu pagar! É ou não é? Deve ter sido
algum amigo, com certeza! Achou melhor não me perturbar! Mas se tivesse
chegado, seria bem vindo! Geovani estou indo!
PC pegou a sua bolsa a tira colo,
que estava pendurada nas costas da cadeira, bebeu o último gole de cerveja e
tomou o rumo da porta. Chegou à calçada, olhou para o céu e viu uma imensa lua
cheia, que clareava o alto dos edifícios. Pensou:
- Acho que nunca vi a lua tão de
perto. Será que bebi tanto, que fiquei tão alto a ponto de chegar próximo dela?
Chi! Acho que estou meio bêbado! Vou caminhar pra expulsar o álcool!
Continua semana que vem...
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
O Caso dos Olhos Azuis - Parte 5
Continuando...
O
delegado segura o pequeno embrulho e coloca na palma da mão. Fica olhando, mas
custa a decidir em
abri-lo. PC demonstrando ansiedade, cobra ligeireza do
Doutor:
- Delegado! Abre logo isso aí! Estou
morrendo de curiosidade!
Dr. Carlos finalmente começa a tirar
a fita adesiva que estava envolvendo o embrulho. Quando consegue tirar a ultima
camada de papel, aparece uma pequena caixa de metal. Ao abri-la, o delegado
arregala os olhos e grita:
- Meu Deus! O que é isso aqui?
O comissário Bira, PC e Marcão
olham para dentro da pequena caixa e com as caras assustadas, ficam mudos com o
que estavam vendo: um par de olhos azuis. Tinham certeza que não eram de vidro.
O assassino fez questão de pousar os olhos em cima de uma poça de sangue. O
delegado, com a voz embargada, fala:
- Gente! Isso não é coisa de ser
humano! O diabo enlouqueceu de vez! PC o
que é isso? Parece pesadelo! Temos que pegar esse desgraçado de qualquer jeito!
Nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida! Por um acaso esse doido
falou com você alguma vez?
- Falou sim. Ele ligou lá pra
redação. Falou uma porção de coisas desconexas. O papo foi o seguinte: ele
disse que...
PC relata tudo para o delegado.
Meia hora depois já estava na Rua com Marcão, a procura de Vermelho. Marcão
avista o carro a poucos metros de delegacia. Como já era de costume o motorista
dormia dentro do veículo. PC bate no vidro do carro e Vermelho, com o susto,
bate com a cabeça no teto. Com a cara amarrotada, abaixa o vidro e reclama:
- Porra PC! De novo! Já perdi a
conta de tanta cabeçada que já dei! Bate com carinho!
- Abre isso aí e vamos embora! Nunca
vi um cara pra dormir tanto!
A noite está tão alta como PC. O
sono não chegava. Bebericou algumas doses de whisky. Não se recordava da
quantidade do paraguaio que tinha descido pela goela. Sonhava em pegar um
scotch legítimo e saboreá-lo sem se preocupar com o dia seguinte. Mas o problema naquela hora não era a bebida.
O problema real era o maníaco. Esse era o problema. Nem o grilo tiraria o seu
sono, como a perda dos seus olhos. Não
queria entregar os pontos, mas esse era o xis da questão. Tentava não baixar à
guarda. Mas estava difícil. Tinha que dividir a sua insônia com alguém. Aí
escolheu a sua amiga, a repórter Lucinha. Olhou para o relógio e pensou em não
ligar. Era tarde. E daí! Para o repórter a noite é uma criança! Repartir a sua
angustia com alguém era urgente! E esse alguém só podia ser a doce Lucinha. O
dedo não respeitou a dúvida e discou o número dela. Do outro lado alguém tirou
o telefone do gancho, mas não disse o tão tradicional alô. Em vez disso ouviu
primeiramente o grito da amiga:
- Mãe! O telefone tá tocando!
Depois a mãe falou:
- Já atendi! Isso é hora de ligarem?
Onze horas da noite, é hora de se estar dormindo!
- Mãe! Não reclama! Eu só vou dormir
agora, porque estou pra lá de cansada! Saí cedo da redação, fui pra serra e
voltei quase de noite! Só por isso que estou deitada! A senhora nem sabe
direito o que a chuva fez de estrago lá na serra! Quem é que está no telefone?
- Lu, é seu amigo PC!
- O que ele quer?
- Não sei! Ele não falou! Vem
atender?
- Ele não falou, porque a senhora não
perguntou! Droga! Já vou indo! Já vou indo!
A doce Lucinha desceu da cama,
procurou o seu calçado, mas não encontrou. Depois se lembrou de que tinha
deixado do outro lado. Deitou novamente na cama e rolou até o outro lado.
Calçou as sandálias de qualquer jeito e foi atender o amigo.
- Oi PC! O que foi que houve?
- Pô! Lucinha desculpe! Já estava dormindo,
né?
- Só estava deitada! Pra você me
ligar a essa hora, deve ter acontecido alguma coisa! O que foi?
PC não respondeu de imediato.
Olhou para o copo que estava em cima da mesa, esticou o braço e o pegou.
Balanço-o, fazendo girar o gelo que ainda não estava totalmente derretido. Deu
uma respirada funda e tomou todo o uísque numa golada só. Lucinha como já
conhecia a peça, sabia que ele estava dando uma talagada no seu scotch
paraguaio. Esperou até que ele tomasse folego novamente. Ele já restabelecido
falou:
- Lucinha, o cara resolveu brincar
comigo!
- Ele telefonou de novo?
- Não! Agora foi pior!
- Pior como?
- Quando você saiu pra subir a serra,
eu ainda fiquei mais um pouco na redação. Ia sair com vermelho pra fazer a
ronda pelas delegacias. Mas Souza pediu pra ele comprar um lanche. O cara
desceu e dois minutos depois o delegado Carlos ligou. Aí disse que tinha uma
encomenda pra mim na delegacia. Só esperei Vermelho chegar e descemos. Marcão
já estava esperando no carro. Não! Apaga tudo! Eu desci com Marcão! Vermelho já
estava no carro! Tem lanche nenhum! É uma confusão só na minha cabeça!
- Isso é o scotch paraguaio! Você falou em
encomenda! Que encomenda é essa? Fala logo!
- Calma! O único que tem direito de
ficar nervoso, é o papai aqui! Aconteceu o seguinte: encontraram dois cadáveres
sem os olhos. Em cima de um dos corpos tinha um bilhete. Depois encontraram um
embrulho. O bilhete dizia que...
Uma semana depois dessa conversa
com Lucinha, PC voltou a apresentar uma expressão mais tranquila. Aparentemente
não estava tão estressado. O sorriso, mesmo que esporádico, deu às caras. As
velhas brincadeiras ainda não estavam tão engraçadas, porém se fizeram mais
presentes. Mas ainda não era o mesmo PC. Faltava muita coisa. Mas pelo menos a
redação voltou a ter vida. Com certeza deveu-se a normalidade que pairava na
cidade e a melhora do estado de espírito de PC.
Naquele período não houve nenhum assassinato nas redondezas.
Normalmente, para o jornal que ele escrevia, ficava um tremendo buraco, não
falar sobre crimes. Esse jornal, como dizia na época, se espremesse saía sangue.
Logo, os repórteres tiveram que correr atrás de notícias de outros municípios.
Mas era uma situação atípica. O normal era todo dia aparecer algum presunto.
Continua na semana que vem...
terça-feira, 10 de outubro de 2017
O Caso dos Olhos Azuis - Parte 4
Continuando...
O silêncio
tomou conta da redação. Os repórteres estavam todos atentos, esperando que PC
falasse mais alguma coisa. Já que o repórter ficou em silêncio cismando, o
chefe arriscou uma pergunta:
- E aí! Ele falou se ia telefonar
novamente?
- Não, só falou esse negócio. Não!
Pô! Arrepiei-me todo! Aqui! – mostrando o braço.
Do fundo da sala uma voz feminina
ecoa. Era Lucinha se adiantando ao chefe:
- PC! O que foi? Foi coisa braba?
- Braba? Bota braba nisso! Sabe o que
ele disse?
Ninguém perguntou, mas todos
balançaram a cabeça negando. Então ele continuou:
- Sabe o que ele disse? Disse que vai
tirar um par de olhos castanhos! Souza, será que esses olhos castanhos, serão
os meus?
Dois dias após essa conversa, um
telefonema, antes das nove horas, ecoa na sala. Todas as cabeças se levantam.
Mas ninguém arrisca ir atender. Só o continuo é que se levanta e vai até a mesa
do chefe e atende.
- PC! É o delegado Carlos! Quer falar
com você!
- Fala delegado! Tudo bem?
- Tudo em ordem. Acho que sim. Ou não está.
- Que confusão. Tá. Não tá.
Desembucha.
- PC. Dá uma chegadinha aqui na
delegacia. Tem uma encomenda pra você.
- Doutor! Que encomenda é essa?
- É melhor você vir até aqui. É um
troço muito estranho. PC é muito macabro!
Cara! Nunca peguei um caso assim, na minha área! Sinistro!
O repórter olha para Souza e diz:
- Chefe. O delegado me disse que o
maluco deixou alguma coisa pra mim, lá na delegacia. Como isso?
- PC, leva Marcão com você. O garoto
tem que aprender. Acorda Vermelho. O
cara tá cochilando. Oh! Esse motorista tá enchendo o pote! Fica de olho
nele! Avisa que se continuar assim eu
troco ele! Tem que ficar esperto!
- Chefe! O cara é bom motorista! Ele não
bebe em serviço!
- Tá a fim de me enrolar? Eu sei que ele
bebe com você! Fica esperto, hein!
PC dá um sorriso amarelo para Souza.
Depois desce com Marcão. Vermelho já estava a postos na porta do edifício. Os
dois entram no carro e seguem para a delegacia. No meio do caminho, PC ameaça
dar um esporro em Vermelho, mas acaba rindo e convidando o motorista, para
depois do expediente, tomar uma gelada.
O carro para próximo à delegacia. PC e
Marcão descem. Vermelho procura um lugar para estacionar. PC arruma a sua bolsa
a tira colo, mexe na sua barba rala, alisa o bigode e entra na DP. Vai passando
e falando com todos os funcionários. O cara conhecia todo mundo. Parecia que o
delegado já sabia que PC estava chegando. A porta da sua sala já estava aberta
a espera do repórter. Marcão que o acompanhava calcanhar no calcanhar sabia que
tinha muito que aprender com PC. Era uma reputação de anos de trabalho. Mal
entra na sala, o delegado vai falando para o grande repórter de polícia:
- PC, meu irmão! O louco resolveu
desafiar a gente! Nas nossas barbas, ele ou eles, - já não sei mais! – deixou mais
dois corpos! Parece que estão a fim de brincar com a gente. Além dos presuntos,
deixou esse bilhete pra você.
PC, um cara que fala pelos
cotovelos, não conseguiu dizer nada. Apenas esticou a mão e pegou a missiva do
delegado. Abriu devagar. Não dava pra saber se estava com medo. Mas abriu a
carta. Olhou e depois leu em voz alta:
- Senhor PC. Ainda não sei o que é
esse PC. Por enquanto vai só PC.
Como falei com o senhor: olhos
saltarão das órbitas. Promessa é dívida. Pensei, pensei e resolvi brincar com
você. Você é um cara que mete o nariz aonde não é chamado. Isso é um caso entre
eu e a polícia. É um desafio para nosso corpo policial. Pois eu quero mostrar
como a polícia do Brasil é incompetente. Mas decidi brincar com todos vocês, já
que você meteu o bedelho aonde não é chamado.
Jamais conseguirão por as mãos em mim. Mas os olhos
vocês porão... Os seus olhos estarão nos meus. Posso até neste momento, estar
olhando para vocês. E estou. Meus olhos são frios, mas podem queimá-los. Meus
olhos estão perdendo o brilho, mas ainda podem ofusca-los.
Que tal, gostou do presente?
A vida é um circo e... A brincadeira
continua. Abre o presente.
Até qualquer momento.
PC estava boquiaberto. Esteve sempre
dentro dos fatos, sem ser parte dos acontecimentos, mas agora estava ali de
corpo e alma sem ser mero coadjuvante. Sentiu que estava encrencado. O delegado
olhava para ele, a quem já conhecia há mais de dez anos e que considerava como
amigo, e, depois de algum tempo de reflexão, perguntou:
- PC, por que o bilhete pra você?
O repórter, querendo achar alguma
resposta, olha para o delegado e ao invés de responder, pergunta:
- Doutor que presente é esse a que ele
se referiu? Será que são os
presuntos?
- Não sei. Mas de repente pode ser
sim. Sei lá!
- Delegado, não tinha mais nada além
do bilhete, não?
Dr. Carlos fica pensativo. Parecia
que tentava encontrar alguma coisa na cena do crime. Balança a cabeça
negativamente. Depois grita para o comissário:
- Ô Bira! Não tinha mais nada além do
bilhete, não? Eu não me lembro! Você que pegou o bilhete não viu mais nada?
Bira que estava na sala ao lado,
responde e vem ao encontro do Dr. Carlos, com um pequeno pacote na mão.
- Delegado! Antes de a gente voltar,
encontrei esse embrulhinho aqui! Estavam entre os dois corpos! Peguei, botei no
bolso e acabei me esquecendo de falar com o senhor!
- Bira, você não pode ficar mexendo nas
coisas que estão na cena do crime, cara!
- Eu ia mostrar ao Doutor! Mas caiu no
esquecimento! Mas juro que não abri! Está aqui intacto!
Continua semana que vem...
terça-feira, 3 de outubro de 2017
O Caso dos Olhos Azuis - Parte 3
Continuando...
No meio
daquele bate papo acalorado, um grito de mulher explode no recinto:
- Porra! Por que vocês não conversam
como gente!
Era Lucinha, a única repórter
feminina da redação, que saía da cozinha. Os dois, pegos de surpresa,
emudeceram. A doce Lucinha fê-los voltar à calma. Vendo os dois perplexos, deu
um sorriso meio sem jeito e repetiu a mesma pergunta, só que num tom que
combinava com a sua doçura:
- Desculpe gente. Mas vocês deveriam
conversar com calma, como gente. Não acham?
PC percebendo que o chefe deu uma
relaxada aproveitou e investiu no seu intento:
- Chefe nós vimos um lance incrível!
Deixa eu e Marcão pegar esse caso! O garoto é estagiário, mas é esperto! E tem
que aprender mais! Deixa a gente tentar! Se não der certo... Pelo menos é uma
tentativa! Pode dar certo, não pode? Vamos lá, Souza!
Souza não respondeu de imediato.
Olhava para PC fixamente. Fazia umas caretas enquanto pensava. A sala estava
abraçada ao silêncio. Os outros repórteres pararam o que estavam fazendo e
ficaram esperando pela resposta do chefe. Parecia que a tal resposta não ia
sair nunca daquela garganta. Quem o conhecia sabia que antes de qualquer
decisão, ele fazia uma porção de caretas. E era o que estava acontecendo. Mas
quando parasse de torcer a boca de um lado para o outro, vinha à resposta. E não deu outra: parou de fazer caras e
bocas. A resposta veio, mas quase num sussurro:
- Está bem.
PC, como os outros repórteres, não
entendeu o que Souza tinha falado. Então questiona:
- Chefe, o que você falou? Não
entendi.
Parecia que a resposta estava
meio à contra gosto. Não tinha muita certeza se estava fazendo a coisa certa,
deixando PC com o caso. Engoliu em seco e falou mais alto:
- Está bem PC! O caso é seu! Vocês
venceram! Mas tem uma coisa: não vai querer dar uma de policial, não! Está bem?
PC sai do fundo da sala, com um
sorriso nos lábios, se aproxima de Souza, põe a mão no seu ombro e fala:
- Chefe você não vai se arrepender.
Pode anotar aí: eu, PC, vou tirar a raposa da toca. Vamos tirar!
- Você é louco! E está levando o
Marcão para o caminho da insanidade! Sumam daqui!
Durante três dias a manchete foi
sobre o caso dos olhos azuis:
- “A polícia acredita que dentro de
vinte e quatro horas colocará a mão nos assassinos. As pistas estão cada vez
mais claras. É só uma questão de tempo”.
PC termina de fazer o texto e vai
até Souza e pergunta:
- Chefe, vê se a chamada está legal.
Souza nem olha para o texto. Antes
faz a sua cobrança:
- PC, hoje é o terceiro dia. E até agora nada aconteceu. A partir de
amanhã as coisas vão voltar ao normal. Vamos noticiar só verdades. Chega de
viajar na maionese. Vamos continuar falando do caso, mas somente sobre as
mortes. Meu irmão. Vou repetir uma coisa que eu já estou cansado de falar:
quero coisa concreta.
Mal Souza termina de falar, o
telefone toca. O continuo atende e grita:
- PC é pra você!
Ele dá um sorriso, mexe na sua
bolsa a tira colo e, enquanto caminha na direção do contínuo, pergunta:
- Topete. É mulher?
- Não, PC! É voz de barbado!
Ele dá um muxoxo e fala:
- Estou desprezado! As mulheres estão
me abandonando!
Pega o telefone da mão do contínuo
e atende:
- Pronto! Aqui é PC! O melhor repórter
de polícia! Quem fala?
Do outro lado uma voz cansada e
tenebrosa responde:
- Quem fala? Já deves saber que sou
eu. Com certeza já estavas esperando a minha ligação, certo? Vai um aviso:
estás metendo o bedelho, onde não és chamado. Estarei ao teu lado pronto a
tirar-lhes os olhos. É uma pena que eles sejam tão feios. E muitos olhos
saltarão das órbitas. Outros tantos estarão em festas: o verde estará no azul;
o preto estará no azul; o castanho estará no azul, mas o azul estará dançando
fora de órbita. Finalmente os olhos azuis serão entregues aos vermes. Todos os
presentes verão e ficarão sem entender.
PC completamente sem ação emudeceu
por completo. Com expressão mista de terror e surpresa, deixa o fone cair,
segurando-o apenas pelo fio.
Todos os colegas olham sem entender
o que está acontecendo. O chefe, vendo que o amigo estava parado sem ação,
interroga-o:
- PC o que houve?
Com o silêncio do amigo e a falta
de resposta, ele grita:
- Fala homem! O que houve? Você está
com cara de idiota, PC!
PC coça a cabeça e balbucia algumas
palavras:
- Olho azul. Órbita. Olho preto. Azul
no verde.
Souza ficou olhando para o amigo
sem nada entender. As palavras que dizia
eram desconexas. Para trazer o amigo a realidade, deu-lhe uma boa sacudidela. PC
olhou para Souza e disse:
- Viu chefe, deu certo! Foi o homem
que telefonou! É o assassino! Mas ele decidiu brincar com a gente. Só deixou
enigmas.
- O que foi que ele disse?
- Loucura. Tudo uma tremenda loucura.
- O que foi homem? Desembucha!
- Souza o cara é um psicopata. O que
ele disse é um quebra cabeça. Falou de olhos em órbitas. Em festas. Misturou
olhos verdes, pretos e castanhos. Disse que eles estão todos no azul. E que o
azul, se não me engano, será dos vermes. Uma loucura! O que será isso? Com quem
estamos lidando?
Continua semana que vem...
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