Continuando...
Depois de um dia exaustivo, carregado de medo e morte, os soldados americanos, parecendo que tiveram apenas um dia exaustivo de trabalho, foram os primeiros a abraçar rapidamente o sono reparador. No lado oposto, apenas cochilando, estava Rachid. Mohammed, ainda aceso, a poucos centímetros afastado do amigo, olhava os três soldados, como se o dia tivesse transcorrido na maior normalidade, dormindo como crianças, e não conseguia entender aquele tipo de comportamento.
– Onde já se viu, depois de horas carregando a dúvida, se iam sobreviver ou não, e ninguém não tem nada para falar? Não entendo esses gringos não. Olha só! Já tem até gente roncando! – pensava Mohammed, escondidinho no seu lugar predileto.
De onde ele estava, mesmo não querendo, os seus olhos não se desgrudavam da escada. À noite o esperava no último degrau que o afastava do fundo daquele buraco. E era só levantar a tampa, que os sepultavam vivos, e deixar que o céu viesse até ele. Mohammed, nunca falou para ninguém, achava que o que ele sentia de felicidade, o céu também sentia. Sempre imaginava que vinha outros seres compartilhar com ele o infinito: ele olhava e tinha certeza que lá de “cima” alguém o olhava também. Queria subir, mesmo tendo um pé atrás com aquele lugar, mas tinha certeza que o sargento o vigiava, mesmo parecendo que dormia, e o impediria de realizar o melhor prazer da sua vida.
Mohammed fechou os olhos para tentar descansar um pouco, mas não conseguiu se desligar do que tinha acontecido durante aquele dia. Parecia que aquilo tudo estava acontecendo novamente, então abriu os olhos o máximo que pode para apagar aquelas imagens, que pareciam vivas dentro da sua cabeça. E para se certificar de que eles ficariam abertos mesmo, com dois dedos puxou as pálpebras para cima. Mas acabou ficando assim por pouco tempo, porque se sentiu ridículo. Um garoto que já tinha passado por situações dificílimas, não podia ficar impressionado com aquele episódio. Acabou até rindo de si mesmo.
O sargento, fingindo que dormia, não tirava os olhos de Mohammed, mas o sono quase o pegava. Para não cochilar, acabou ficando de pé. Andou pelo pequeno cômodo, passando os olhos sobre os dois soldados que ressonavam, parecendo que dormiam com os anjos. Nem parecia que tinham tido um dia de cão. Aproximou-se também do menino Rachid, verificando se também dormia, e depois parou ao lado de Mohammed. O menino, com a aproximação de Téo, fechou os olhos e fingiu que dormia. Téo sorriu e chutou de leve a sua perna, pois sabia que ele não estava dormindo, só esperando o momento certo, um cochilo seu, para fugir.
O menino abriu um dos olhos e ficou olhando o sargento. Arranjou um bocejo e se espreguiçou. A sua encenação foi tão fraca que não convenceu a Téo. Ele mesmo percebeu que foi um fracasso. Então abriu o outro olho e disse:
- O que foi sargento? Estou querendo dormir. – deu um ar de riso - O senhor também deveria fazer o mesmo. Está tão cansado quanto eu, não é mesmo?
- Claro que estou cansado! Muito cansado! Mas...Você é esperto, garoto! Só está esperando eu piscar, para fugir! Pode ficar certo que vou dormir sim, mas só depois que Peter cobrir o meu turno!
- Mas eu não vou fugir, sargento. Pode confiar em mim. Ainda mais que ainda não estou louco. Aqui nesse lado da cidade, sair à noite é estar cometendo suicídio. Em cada canto tem uma cobra para dar o bote. Para sairmos daqui, somente depois que o sol conseguir escalar as montanhas lá no fundo do horizonte.
...........Continua semana que vem!