Continuando...
Minha
filha, essas duas, e não pode ser adiado para a eternidade, vão ter que se
entender. A evolução não para. Nessa encarnação, Amélia conseguiu crescer e
Mirna vai ter que aprender o perdão para avançar também. A bondade tem que crescer
dentro do seu coração, mas um dia ela vai conseguir.
- Madre, depois a senhora tem que me
explicar tudo isso. A senhora fala a quase todo o momento sobre reencarnação,
mas é uma coisa muito difícil para eu entender. Nunca acreditei nisso. Como
acreditar se aqui sempre nos ensinaram que, ao morrermos, iremos para o céu e
ponto final? Isso, quando a gente anda
sempre no caminho do bem. Se a pessoa não é legal, faz o mal para as outras
pessoas, acaba nas chamas do inferno. Foi isso que sempre escutei.
A senhora falou alguma coisa de realizar. Realizar o quê?
A Madre antes de responder, de
imediato, essa última pergunta, disse:
- Minha filha, são tantas informações
que temos ao longo da vida que muitas não nos servem de nada. Podemos, sem
dúvida alguma, jogar no lixo. Nós temos que utilizar somente aquelas que vão
nos fazer uma pessoa melhor. Se você
seguir essa máxima que Jesus falou: “eu não desejo aos outros, o que não quero
para mim” – já é meio caminho andado. Esse tem ser um grande foco. Agora, a sua
preocupação maior no momento foi a palavra realizar? O realizar,a que eu me
referi, foi em relação ao trabalho que viemos fazendo até aqui. Temos que
completar o que já realizamos até esse momento. Só isso. Helô, vamos andar rápido. Em instantes vão
tirá-la daqui. Minha filha, olhe o antebraço de Amélia, do braço direito.
Prontamente ela atendeu. Arregaçou a
manga do hábito, que cobria todo o braço, e olhou-o de cima a baixo,
encontrando realmente, onde a Madre indicou-lhe, três picadas de agulha. Depois
foi para o outro braço, mas a Madre soprou-lhe que não precisava, mas que
olhasse a mão. Ela então observou que essa mão estava fechada. Não tinha visto
porque o hábito cobria-a toda. Tentou abrí-la, entretanto os dedos já estavam
enrijecidos. Ia desistir, mas a Madre mandou-a continuar. Forçou, forçou e
acabou conseguindo uma pequena abertura. Por ali conseguiu ver que tinha um
pedaço de papel amassado. Tentou mais um pouquinho e aí sim deu para tirá-lo.
Além de bem amassado, ainda tinha um pedaço rasgado. Abriu-o e conseguiu ler o
pouco que tinha escrito. Era uma letra muito tremida e com falhas na grafia.
Nesse pedaço dizia:
- “Helô, minha querida, quando você
ler este bilhete, vai descobrir tudo. Você é a mi...”
Esse era o único pedaço que restava
do bilhete. Quando ela ia perguntar alguma coisa à Madre, a irmã Celeste adentrou
a enfermaria e, nada cortês,mandou-a retirar-se, pois o médico acabara de
chegar para dar o atestado de óbito.
Antes de sair, Helô beijou a testa da
irmã Amélia. Depois caminhou em direção à porta que dava acesso ao corredor. Saiu
dali abraçada à tristeza e foi passo a passo segurando as lágrimas até onde
desse, mas caminhou pouco. Logona primeira pilastra encostou-see deixou que as
lágrimas transbordassem sem freio. Depois foi andando, mas sem prestar atenção
em nada e em ninguém. Olhava e nada via. A Madre Maria de Lourdes caminhava ao
seu lado, ajudando-a a carregar a sua dor, mas sabia que ela não podia ficar
assim por muito tempo. Tinha que trazê-la à razão. Depois de andar bastante
agarrada a Helô, ela disse:
- Minha filha, vamos para o pomar. Lá
ninguém vai lhe incomodar.
Ela
escutou e mudou os passos, indo em direção ao pomar. A Madre sabia que ali era
onde Helô se sentia melhor. Sentaram-se debaixo de uma amoreira, onde, desde
criancinha, ela se refugiava. Depois de acomodadas a Madre lhe falou:
- Helô, está perto de você descobrir
a verdade da sua vida. Esse tempo todo eu nunca pude falar, mas tem uma pessoa
que pode lhe dar esse presente, e essa pessoa é o delegado Rodolfo, ou você
mesma.
- Por que ele? E eu também posso?
- Você só vive cheia de porquês! O
seu repertório é vasto: porque disso, porque daquilo. Por quê? Por quê? Minha
filha,quandoeu não posso falar, eu não falo. Se eu estou aqui na sua companhia
é porque me foi permitido, mas existem limitações. Quando disse que você pode
resolver o mistério da sua vida, é porque você pode. Entretanto eu não posso me
intrometer. Se assim foi escrito, eu não posso apagar e mudar o texto. Você não
está com o pedacinho do bilhete? Então, pegue-o e analise-o.
A Madre de repente silencia, fecha os olhos e
se afasta um pouquinho de Helô. Ela já tinha visto isso acontecer mais de uma
vez. Então esperou até que resolvesse falar novamente e isso não demorou nem
dez segundos. Ela abriu os olhos e disse:
- Helô, o médico está chegando.
Quando ele entrar na sala da Madre Joana, você vai ficar bem próxima da porta
e, com uma orelha colada, escutar toda a conversa. Sei que sem ajuda você não
vai conseguir. Essas portas são muito espessas. Então vou melhorar a sua
audição. Vamos andando.
Elas saem do pomar e se dirigem ao
corredor que dá acesso ao escritório da Madre Joana. Estrategicamente, Helô
coloca-se atrás de um pilar. De onde estava, via todo o movimento, mas não era
vista por ninguém. Um arbusto decorativo plantado dentro de um vaso de cerâmica
ajudava-lhe a manter-se camuflada. Do esconderijo até a porta do escritório era
uma distância curta e, a qualquer sinalização da Madre Maria de Lourdes, ela,
em poucos passos, chegaria à porta rapidamente. Ficou ali de plantão por alguns
minutos, mas numa espera nervosa................Continua semana que vem!!