Continua...
Téo quase gargalhando, puxou o amigo e deu-lhe um abraço fraterno. Mohammed correspondeu ao abraço e sentiu que abraçava um irmão. Percebeu também que ali estava selada definitivamente uma amizade. O abraço não foi só de corpo, foi muito mais de alma.
Caminhavam abraçados para enfrentar o que aparecesse pela frente. Agora os dois tinham certeza que eram um só. E iam achar o amigo Rachid, estivesse ele onde estivesse. Téo sabia, mesmo que o amigo de Mohammed não o aceitasse como amigo, ele ia entender e mesmo assim o teria como amigo.
O túnel parecia que não tinha fim, mas continuavam caminhando, com os braços em cima do ombro um do outro, com leveza, parecendo que não estavam mais preocupados com isso, pois no fundo da alma tinham certeza que iriam escapar daquele lugar indecifrável. Sentiam-se fortes o suficiente para enfrentar qualquer coisa que atravessasse em suas frentes. Nenhuma barreira iria detê-los, agora que não eram mais divididos. Isso dava para ver claramente na expressão de cada um.
Alguma coisa, na direita, brilhou. Mais ou menos cinco metros à frente. Mohammed viu e parou, fazendo com que o amigo também estancasse. Téo como não tinha entendido o motivo da parada, indagou:
- O que houve Mohammed?
- O senhor não viu?
- Aquilo lá na frente brilhando.
- Não estou vendo, Mohammed.
- Agora parou. Vamos esperar um pouco. Eu não me engano, tem alguma coisa lá. Eu vi.
- Então vamos esperar. Não duvido que você tenha visto.
Ficaram em silêncio, com olhos fixos na direção onde Mohammed tinha visto alguma coisa brilhar. Enquanto esperavam decidiram sentar-se novamente. Téo olhava aquele túnel que parecia sem fim e pensava nos amigos que ficaram bem lá trás, mortos. Não conseguia entender como não tinha morrido junto com eles. Por que será que Deus o protegeu e não fez o mesmo com eles? Não entendia nada sobre essa proteção. Isso deixava-o muito encucado. Olhou para Mohammed e viu que não era só ele que tinha essas “costas quentes” com o criador.
Lembrou-se das intuições que os livrara de inúmeras situações de perigo. Quantas vezes conseguiu se salvar? Não se lembrava. Sabia que não podia duvidar nunca desses avisos. Era só segui-los e pedir a Deus para dar uma mãozinha. E até ali sempre se saiu bem. Essa incógnita ia acompanha-lo pelo resto da vida, porque não tinha, até aquele momento, a quem perguntar.
Mohammed observou que o amigo estava muito pensativo, parecia mergulhado em conjecturas. Ficou com vontade de perguntar, mas se conteve e voltou a olhar para onde tinha visto o ponto brilhante. Mal colocou os olhos nessa direção, o brilho voltou. Imediatamente sacudiu o braço do amigo e mandou-o olhar. Téo se assustou, mas saiu rápido dos seus pensamentos – quase um transe? - e viu realmente algo brilhando. Os dois levantaram-se ao mesmo tempo e caminharam em direção ao objeto (?). Sem perceber quase correram. Chegaram e ficaram surpresos com o que viram: era uma caixa quadrada presa na parede da tubulação. Eles não sabiam, mas era a mesma que Rachid tinha visto. Téo observou um botão do lado direito da caixa e, sem perceber, o seu dedo já estava apertando-o. Instantaneamente duas portinholas foram se abrindo e no seu interior apareceram garrafas de água mineral. Mohammed colocou a mão em uma delas, mas só que não conseguiu tirá-la. O sargento tentou também, mas também não conseguiu.
- Sargento, por que botaram essas garrafinhas de água aí, se não se consegue tirá-las?
- Não sei. Mas pode ter alguma coisa para destravá-las. Não colocaram aí à toa. Têm esses pacotes aqui, vou ver se eles saem.
No primeiro que ele meteu a mão, saiu facilmente. Olhou para Mohammed, sorriu e entregou-o. Depois foi tirar mais um. Ao pegar outro pacote, surgiu um ponto luminoso bem no fundo da caixa. Se virou e falou:
- Mohammed, olha só. Tem um ponto brilhando lá no fundo. Olha só.
- Mete o dedo para saber o que é, sargento. Está com medo?
- Que medo o quê! Vou encostar o dedo. Pode ser um botão igual a este aqui, que abriu as duas bandas.
- Então aperta-o. Pode ser que seja um armário maior.
- Que armário? Um armário grande, dentro de um pequeno? Está maluco, Mohammed?
- Não é isso, sargento! Eu pensei... Sei lá no que eu pensei! De repente abre uma porta e a gente sai para a rua!
- Esqueceu que estamos debaixo da terra? Só se for algum compartimento secreto.
- Isso! Uma sala secreta! Aperta logo, sargento!
O sargento foi esticando o braço, mas temeroso. Podia apertar o botão rapidamente, entretanto, suspeitando que pudesse ter uma surpresa desagradável, apenas encostou a ponta do dedo no ponto luminoso e foi ficando ali agarrado na dúvida. Olhou para o menino, que estava ansioso para saber o que tinha ali, e voltou a olhar para o fundo da caixa. E a dúvida persistia: apertar ou não o botão. De repente sentiu que alguma força empurrava o seu braço. Resistiu a essa força e tentou tirar o braço, mas nesse momento o menino empurrou-o, forçando-o a pressionar o botão. Aí, como um raio, alguma coisa passou a alguns centímetros do seu nariz. Com o susto, desabou no chão, levando consigo Mohammed. Quando conseguiram se levantar, o susto foi ainda maior: ali em pé na frente deles estava um homem barbado, com quase um metro e oitenta de altura, que se virou e saiu caminhando. Mohammed falou para Téo:
- Sargento, quem será esse homem? Mas o olhar me pareceu familiar! Olha só que coisa estranha!
Rachid ia andando dentro de uma bola, de uma película transparente. A cada metro que andava, ia diminuindo de tamanho e ficando mais novo. Foi assim até ficar com a fisionomia e o tamanho atual.
Os dois amigos olhavam o que estava acontecendo, mas não entendiam o que se passava bem na frente dos seus olhos. Parecia que tudo aquilo era pedaço de um sonho. Téo achou até que podia ter morrido e estava em outra dimensão.
- Mohammed! Você está vendo isso? Acho que morri. E você também. Devemos estar em outra dimensão. Aqui na Terra não acontece esse tipo de coisa. A pessoa vai dimi... Não! Isso não aconteceu!
- Sargento, eu também não estou entendendo nada! Mas eu estou vivinho da silva! Não sei o que aconteceu, mas... Sargento! Vamos atrás de Rachid! É Rachid! Ele é o único que pode nos explicar isso! Vamos lá?
- Claro! Vamos sim!
.........Continua Semana que vem!