segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A História de Helô - Parte 13

Continuando...

         Ela esticou o braço com determinação e colocou a mão em cima da rosa, mas demorou um pouquinho a se decidir em girar a rosa. Acabou fazendo o procedimento dito pela voz: primeiro para a esquerda e depois girar tudo para a direita e esperar o barulhinho. E tudo deu certo: a porta começou a se abrir lentamente. Só que alguma coisa fez com que interrompesse o que tinha feito. Girou a rosa no sentido contrário, fazendo com que a porta parasse e voltasse até se fechar. Entretanto, antes que isso acontecesse, ela saiu numa correria só até sair da gruta. Do lado de fora parou para respirar. Estava ofegante e visivelmente nervosa. Mais uma vez a voz se fez ouvir:
          - Oh Helô! O que ouve minha filha? Parecia que você estava coberta de coragem! De repente recuou! Mas está tudo bem. Vamos deixar para outro dia as investigações. Agora volte para o pomar, pegue umas frutas e vá brincar com suas amigas. Depois voltamos a conversar. Segredo, Helô, segredo!
             Ela saiu rapidamente e foi ao encontro das amigas, que nem perceberam a sua chegada. Eram as três mais próximas, Sílvia, Bela e Alícia, que brincavam num balanço improvisado numa goiabeira. Helô, achando que pudessem fazer alguma pergunta, foi oferecendo algumas frutas que tinha pegado pelo caminho. Em seguida pediu para se balançar um pouco.  Foram ficando por ali até às quinze horas, quando a irmã Gertrudes veio chamá-las para a aula de canto.
          Quase quinze dias haviam-se passado desde a visita de Helô à gruta. Nesse período não houve qualquer fato relevante. Nem mesmo o padre Arcanjo e o misterioso senhor, o senador, tinham dado as caras. Quando isso acontecia, a madre entrava logo em contado com o senador, pois normalmente a despensa começava a esvaziar. Não era a primeira vez que isso acontecia, mas não era comum. Normalmente os dois eram pontuais. Coincidência ou não, chegavam sempre juntos.
          Numa manhã ensolarada, o senador e o padre ainda não tinham chegado, um pouco antes do início das aulas, Helô ouviu novamente a voz. Dessa vez teve a sensação, além de ouvir bem mais claro, de que alguém havia tocado nela. Parecia que uma pessoa de carne e osso falava na sua orelha. Nesse momento estava do lado de duas colegas. Deu um jeito, atrasando o seu passo, e afastou-se delas. Entrou rapidamente no jardim para que ninguém a visse falar sozinha. Mas mesmo assim, caso alguém percebesse, ela seguraria qualquer flor e fingiria que estava falando com ela. E assim fez. Pegou uma rosa e ficou acariciando-a enquanto a voz não voltava a se comunicar, porém isso não demorou muito. Não levou nem um minuto sequer para fazer-se ouvir novamente e desta vez bem mais clara.
           - Helô, já está passando da hora de você voltar à gruta. E hoje é um bom dia. Não vai haver aula de canto. Isso porque um bispo virá fazer uma vistoria no convento. Há muito tempo a igreja não mandava ninguém, mas hoje, com certeza, vem alguém. E depois que for feita a vistoria nos alojamentos vocês estarão liberadas. Não deixe de ir logo logo para o pomar. Depois eu volto a me comunicar com você. Fique com Deus minha menina.
          - Será que eu não vou correr de novo?
         - Não, Helô, hoje você não vai sentir medo. Não esqueça! Mas se isso for acontecer, eu não deixarei. Tenha fé, minha menina! Tudo vai correr bem!
         Helô saiu dali rapidamente para não entrar atrasada na sala de aula. Estava visivelmente preocupada. Por estar desatenta na aula de religião, acabou sendo chamada à atenção pela irmã Maria do Socorro, mas conseguiu justificar-se sem levantar suspeitas e conseguiu, com muito esforço, não dar motivo para outra repreensão até o final da aula.
....................Continua semana que vem!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A História de Helô - Parte 12

Continuando...

Helô sem se dar conta do que estava acontecendo foi entrando na gruta. Quando já estava chegando à parte mais escura, sem perceber sacou de uma vela e uma caixa de fósforos. Depois de acendê-la é que percebeu que estava com uma vela na mão. Não conseguiu lembrar-se de como foi parar ali e muito menos com uma vela acesa. Só veio um lampejo da sua saída do alojamento, depois mais nada apareceu na sua mente. Fez menção de recuar, mas alguma coisa empurrou-a para a frente.
          A iluminação não estava das melhores, mas dava para ver onde pisava. Helô então continuou caminhando, mas cautelosamente. A cada passo foi sentindo um ligeiro declive, mas não parou. A voz quase que continuamente assoprava na sua orelha alguma palavra de ânimo. Para sua surpresa, no final do corredor, chegou num salão circular, uma área bem espaçosa. Observou, sem saber ainda o que era, várias placas enfileiradas por toda a parede. Notou que tinham algumas coisas escritas. Então se aproximou mais até ficar com uma visibilidade satisfatória. Quando leu o que estava escrito, teve um ímpeto de sair dali o mais rápido possível, mas a voz mais uma vez falou com ela:
          - Calma, Helô. Estou com você. Pode continuar. Nada vai acontecer com você.
          - Estou com medo. São placas com nomes de pessoas mortas? É! Eu sei que é! Uma eu reconheci! Era a irmã Arminda! Eu conheci!
          - Fica calma! É isso mesmo. São irmãs já falecidas, mas elas não farão mal nenhum a você. Não esqueça que estou sempre do seu lado. Continue. 
          - Eu não estou entendendo uma coisa: lá do lado do convento tem também umas placas escritas com os nomes das irmãs mortas.
          - Lá, Helô, só tem a placa. Eu também estou lá e aqui.
          - A senhora também?
          - Depois falamos sobre isso.
          Helô calou-se e vestiu-se novamente de coragem. Foi olhando as placas das gavetas mortuárias.  Algumas eram muito antigas. Em todas estavam gravados os nomes e as datas de nascimento e morte. Foram talhadas no mármore branco. Por estranho que possa parecer, já que a entrada da gruta não mostrava qualquer indício de movimento, o salão estava bem limpo e as placas brilhando. Helô notou, porém não fez nenhum comentário. Enquanto olhava uma por uma, notou que bem no meio do salão tinha um corredor. Com a orientação da voz ela entrou. No final encontrou uma porta fechada. De repente sentiu um arrepio estranho. O medo voltou e um ímpeto de recuar foi instantâneo, mas teve a sensação de que alguém a escorou, não permitindo o seu recuo. Isso deveria dar mais medo mas, pelo contrário, como por encanto sumiu e foi substituído por uma coragem nunca antes sentida por ela. Imediatamente  aproximou-se da porta, colocou a mão na maçaneta e girou-a, porém nada aconteceu. Ou não teve forças para girá-la ou estava emperrada. Tentou mais algumas vezes e nada aconteceu. Já estava cansada. Ficou algum tempo parada mirando a porta. Não sabia o que fazer. A voz então falou mais uma vez com ela:
          - Helô, não desista. Pegue a vela que você deixou no chão. Depois clareie as paredes. Vai observar que também estão cheias de gavetas mortuárias.  Olhe uma por uma mas não precisa olhar as que estão nas laterais, olhe apenas as que estão do lado direito e esquerdo da porta.
           A menina pegou a vela e aproximou-a da parede do lado direito da porta e foi olhando gaveta por gaveta. Depois fez a mesma coisa do lado esquerdo. A sua atenção foi direcionada para uma das gavetas. Era a única que tinha uma rosa em alto relevo, na cor vermelha, destacando-se no meio do nome, que ela não conseguiu entender. Parecia uma escrita em algum outro idioma.  As outras também tinham a rosa em alto relevo, só que na mesma cor do mármore. A sua curiosidade levou-a a passar a mão por cima. A voz então se fez ouvir novamente:
          - Você encontrou o segredo para abrir a porta. Agora faz o seguinte: gire-a para a direita, depois volte e gire-a para a esquerda. Vai fazer um pequeno estalo. Aí a porta vai começar a se abrir.
         Mesmo ouvindo claramente as instruções da voz, ficou com medo. Não teve certeza se devia fazer aquilo mesmo. Tentou resistir, mas a voz foi incisiva:
          - Helô, você não pode desistir. Vai em frente. Estou com você. Eu sei que você é uma criança ainda, mas é a mais preparada para descobrir o que está por detrás desta porta. Você não é só a mais preparada, mas a escolhida. Tentei até falar com algumas irmãs, entretanto fecharam os ouvidos para o chamamento. Você foi a e única que me ouviu. Não desista agora. Vamos em frente. Vou lhe dar toda a força que você precisa. Quando for preciso, vai estar debaixo da minha capa.
          Depois de ouvir tudo que a voz lhe disse, Helô respirou fundo. O medo ainda habitava o seu interior, mas a curiosidade de repente superou o medo. Olhou para o lado, como quisesse ver quem tinha lhe falado e disse:
         - Eu vou fazer isso! Eu não estou mais com medo! Já até me acostumei com a voz! Não sei se é imaginação minha, mas também não tenho medo!
         - Isso mesmo. Não precisa ter medo de nada. Vou protegê-la sempre. Qualquer hora você vai ver quem é a dona desta voz, mas tem que ser aos poucos. Ouvir já foi muito bom. Agora, vamos em frente. Não podemos demorar. Tudo tem que ser por etapa e não queremos que sintam a sua falta. Vamos lá. Pode girar.
..................Continua semana que vem!

domingo, 23 de dezembro de 2018

BOI FUJÃO JOSE TIMOTHEO





Mais uma música que gravei no CD Refiz Estradas está disponível no YouTube. Que tal conferir??

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Feliz Natal e um 2019 Esperançoso


FELIZ NATAL E UM 2019 ESPERANÇOSO

                       São os desejos de Martha Taruma e José Timotheo                                                                   
         Mais um ano que foi engolido pelo tempo. A sensação é que a Terra está apressada, com a sua rotação aumentando a passos largos. O tempo não caminha como antigamente, hoje temos a impressão que os doze meses, cabem dentro de seis. Parece loucura, mas essa é a sensação que está à flor da pele.
         Já estamos no final do ano. Num piscar de olhos e o mês de dezembro não consegue dar adeus para junho, que dista há apenas seis meses encoberto pela neblina da incerteza, e muito menos para janeiro, que já foi enterrado pelas cinzas do carnaval. Ele só consegue mesmo é acenar para esse janeiro que está ali a um passo. Assim mesmo se fecharmos os olhos por alguns segundos, poderemos ver janeiro sendo mastigado pelo futuro sem que ele mesmo perceba.
       Do jeito que tudo voa, vamos desejando um FELIZ NATAL e um grandioso ANO NOVO, (antes que ele entre num foguete e pouse em Marte) para todos os nossos amigos e pacientes leitores, que nos acompanham por todos esses anos.
       A nossa gratidão a todos. E que todos os corações pulsem num só: BRASIL.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A História de Helô - Parte 11

Continuando...

          Numa tarde, após a aula de canto, Helô chamou duas amigas, Sílvia e Bela, para irem até o pomar colher algumas frutas. O mês de dezembro se aproximava da metade. As frutas abundavam. Podia-se ver pés de acerola abarrotados de frutos, mas não era só essa fruta, tinha uma variedade bem grande de outras pelo pomar. Ali podia-se encontrar ameixas, figos, maçãs, pêssegos, goiabas e muitas outras frutas da estação. Algumas árvores tinham seus galhos curvando com o peso dos frutos. As três já tinham se empanturrado, comeram o suficiente para deixá-las satisfeitas. Sentaram-se debaixo de um pé de goiaba, esperando para fazer a digestão. Durante um bom tempo conversaram distraídas. Silvia propôs brincarem de pique-esconde. Tiraram zerinho ou um e quem perdeu foi Bela. Saíram as duas correndo entre os arvoredos à procura de um bom esconderijo. Como Helô sabia que as amigas tinham medo da mata depois do pomar, seguiu para lá. Tinha certeza que jamais seria descoberta. Ficou por trás de um capinzal olhando os movimentos de Bela, mas mal se escondeu na vegetação e aquela mesma voz ecoou no seu ouvido:
           - Helô! Volte à gruta, mas não tenha medo. Estarei com você. E não fale para ninguém. Vamos?
          Helô nem olhou para o lado. Não quis nem averiguar de onde vinha aquela voz. Saiu numa disparada tal que passou pelas amigas, indo parar somente na parede do prédio. Ofegante, ficou ali encostada até a chegada delas. A primeira a chegar foi Sílvia, assustada com o comportamento da amiga, perguntou:
         - Helô! O que foi que houve? Você está pálida!
           A menina ainda respirava com dificuldade. Nem conseguiu responder à amiga. Estava com os batimentos cardíacos alterados. Com a falta de resposta, Sílvia insistiu:
           - O que aconteceu, Helô? Você está pálida e tremendo! Foi algum bicho que te assustou?
          Com algum sacrifício, mas já com o coração mais sereno, disse:
          - Acho... Acho que foi.
          Bela, que vinha chegando, mirou a amiga, balançou a cabeça e falou com uma nesga de repreensão:
          - O que é isso, Helô? Olha só! Você ficou com medo do vento! Veja como as árvores balançam! Você está ficando medrosa?
           Helô custou a contestar Bela. Enquanto se acalmava, ia tentando arranjar uma resposta convincente e aproveitou a colocação da amiga para tentar se sair bem e deixar bem guardado o seu segredo. Finalmente conseguiu falar.
         - Puxa! Puxa vida! Assustei-me mesmo, mas isso não quer dizer que eu seja medrosa! De jeito nenhum! O mato fez barulho atrás de mim, como é que eu ia pensar que era o vento? Eu nem me lembrei! Pensei logo que pudesse ser um bicho! Agora eu vou pedir uma coisa para vocês duas: vocês tem que me prometer que não vão falar nada pra ninguém. Isso que aconteceu é uma coisa boba, mas se a madre ficar sabendo... na cabeça dela vira um monstro. Aí ela vai fazer uma porção de perguntas. Vai virar um interrogatório.
          As amigas concordaram com a explicação de Helô e fizeram um pacto,  comprometendo-se a manter o acontecido em segredo.
           Os dias foram passando sem acontecer um fator sequer relevante. A vida ali tinha o seu curso inalterado. Helô voltou a ser a menina de sempre e com isso os olhos da madre mudaram de foco. Também, tudo saía sempre do seu jeito, nem uma vírgula era colocada a mais e com isso Helô vivia com um estado de espírito pra lá de bom. O seu segredo tinha sido guardado a sete chaves. Momentaneamente tinha-se esquecido de voltar à gruta, mas a voz de vez em quando falava com ela. Isso foi bom para ir perdendo o medo das coisas do outro mundo. Já não ficava mais assustada como das primeiras vezes. Agora até ria, após o ocorrido. Mas um fato novo aconteceu na última vez que ouviu a voz. Enquanto ouvia, sentiu a presença de alguém. Não ficou assustada. Pelo contrário, sentiu-se muito bem e depois desse dia sentiu vontade de sorrir mais. Tanto isso ficou perceptível que a irmã Amélia percebeu e interrogou-a:
          - Helô, meu anjo! O que está acontecendo? Estou sentindo você transbordando de felicidade! Conta pra mãezinha, conta!
          A menina procurou alguma justificativa para sair pela tangente. Tinha receio de contar o que estava realmente acontecendo e Amélia achar que ela não estava bem das faculdades mentais. Tentou desconversar, enquanto imaginava alguma resposta convincente. De repente disse:
          - Sabe por quê? É porque a mãezinha agora fica mais tempo comigo. A madre não afastou mais a senhora de mim, por isso é que estou mais feliz.
          Dois dias depois dessa conversa, Helô voltou a ouvir a voz, que a mandou ir à gruta. Orientou-a para que fosse após o almoço. Seria um horário bom já que ia lá todos os dias, depois de escovar os dentes, para brincar no pomar. Estava tão ansiosa que almoçou rápido e saiu na frente das amigas. Nem percebeu a sua rapidez. Alguma coisa dizia na sua orelha para sair sem levantar suspeitas e se dirigir para o alojamento, como fazia todos os dias. E assim ela fez. Escovou os dentes e depois se encaminhou até a porta principal. Chegando lá, de repente estancou. Desistiu e voltou. Então procurou sair por uma porta que ficava nos fundos do alojamento e  dava para o corredor que a levaria até o pomar. Mas antes de sair, olhou para ver se o caminho estava livre  e, após constatar, saiu. Rapidamente atravessou o pomar e chegou à mata. Em pouco tempo já estava na porta da gruta. A princípio teve medo de entrar. Sentiu um calafrio percorrendo todo o seu corpo. Em seguida sentiu vontade de voltar, entretanto a voz sussurrou no seu ouvido:
          - Coragem, minha filha! Você é a escolhida. Coragem! Eu estou contigo.
.................Continua semana que vem!