Continuando...
Nesse momento Dr. Fergusson já estava com os olhos arregalados, mas respeitando o pedido do amigo em não interrompê-lo, procurou se acomodar o melhor possível na cadeira, que naquele momento era muito pequena para caber seu corpo e, realmente, sua curiosidade, ansiedade e agora se instalando o medo. Mas medo de quê? Ainda não sabia, entretanto já tinha se apossado dele. Começou, como todo mundo, a sofrer antes de acontecer o fato, que talvez nem venha a acontecer. Mas a pessoa sofre só por imaginar sempre o pior.
Depois de jogar no colo do amigo essa terrível palavra, Dr. Walter, depois de um curto tempo, continuou a sua narrativa.
- Meu amigo. Aqui usamos nomes que não nos pertence. Fomos contratados para realizarmos algumas pesquisas, uma delas sobre a origem desse estranho paciente. Não só sobre a origem dele, mas sim o mais importante, descobrir que luz era aquela que isolou uma comunidade e protegeu-a da morte e da radiação. Essa, vamos chamar de arma, arma quando estiver nas nossas mãos, seremos a nação mais poderosa do planeta. Estaremos protegidos de qualquer ataque nuclear. Poderemos isolar o nosso país de qualquer ameaça estrangeira.
Quando o estranho paciente abriu os olhos, tinha a certeza que ele ficaria totalmente desperto. Mas me enganei. Estou achando que nesse estado atual dele, pode não acontecer nada que esperávamos. Isso me fez pensar muito e me manter acordado. Sem mais nem menos, numa madrugada dessas, um pensamento terrível apoderou-se de mim. Continue me escutando. – levantou a mão para Ferguson bloqueando uma possível interrupção. – Veio claramente na minha mente o nosso fim com a descoberta desse protetor contra qualquer ataque atômico externo. Lembra que eu falei de um novo medicamento? – agora ele esperou que o amigo respondesse.
- Walter, realmente eu escutei, mas não quis me inteirar do novo tratamento citado por você, naquele momento. Achei estranho a prescrição de um novo medicamento, sem ter sido comunicado previamente por você, mas preferi esperar para saber do que se tratava. Podia ser uma ordem da chefia somente a você, então me calei. Agora posso saber?
Antes de voltar ao seu relato, o Dr. Walter se levantou e foi até uma cafeteira e encheu sua caneca de um café que estava para lá de cozido. Encheu de adoçante e ofereceu para o amigo, que balançou a cabeça em sinal de recusa, fazendo uma cara de nojo. Depois voltou para o mesmo lugar, se acomodou o melhor possível e tomou o café todo, numa golada só. Tossiu discretamente e voltou para onde parara a conversa.
- Então, antes de continuar de onde tinha parado, vamos ao medo. Ou um pouquinho antes. Eu tenho um nome falso e você também. E acho que o nosso chefe, Dr. Frank, também não usa o nome de batismo. Já observou que os nossos pesquisadores são “estrangeiros”? Uma pinoia! Eu não sou estrangeiro, você é?
Ferguson ficou temporariamente mudo. Ele já desconfiava desses estrangeiros, já que ele também não era, só se passava por inglês. E o amigo, com traços de nordestinos, não o enganara nunca. Não tinha nada de norte americano.
- Walter, só não vou dizer meu nome de batismo e acho que você também não deve revelar o seu. Tem que continuar do jeito que está. Você não é estrangeiro e nem eu. E é bem provável que o Dr. Frank seja João ou José, ou outro nome qualquer. E...
- Ferguson, então você concorda comigo! – interrompeu o amigo, sem que desse chance dele concluir o seu pensamento. – O que eu faço nesses últimos dias é pensar e pensar. Nós não conhecemos o verdadeiro chefe de projeto. Talvez nem Frank saiba. Daí vem o meu medo. Pairou uma desconfiança dentro de mim, que está me corroendo. Você soube, por um acaso, o paradeiro dos dois médicos anteriores a nós? – Fergusson apenas balançou a cabeça negando. – E da enfermeira antes de Natasha? Também não, pelo visto... Como era o nome dela mesmo?
- Carla. – disse Ferguson, sem titubear.
- Obrigado. Você está com a memória boa, Ferguson. – o amigo apenas deu um sorriso amarelo. – O contrato com as enfermeiras são de cinco anos. Os médicos, são de doze anos. Fergusson, estamos com dez anos. Faltam dois anos para o encerramento do nosso contrato. Nós ainda conseguimos sair para visitar a família de quinze em quinze dias. Natasha não sai nem para ver o sol. Ela deve ter um ódio mortal de nós. Infelizmente não podemos conversar normalmente com ela, e isso me deixa triste.
- A mim também. E nem poder fazer nada por ela. – fez um aparte,
Fergusson.
- Mas você sabe que pelo contrato, não podemos fazer nada e nem ter amizade e nem intimidade, que eu até gostaria... Mas... agora não vem ao caso. Continuando. Eu suspeito que podemos, no final do contrato, sermos mortos.
...Continua Semana que vem!
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