terça-feira, 31 de maio de 2016

A Menina do Rochedo - Parte Final

Continua...
Que lugar lindo. Que vista! Nesse momento, nem parece que passei tanto sufoco. Estranho como a gente esquece rápido, os maus momentos. Não é bem esquecer. Esquecer, esquecer, não se consegue jamais.  Acho que quando o medo vai embora, temos a sensação que superamos tudo. O prazer que estou sentindo agora afastou todo momento ruim. Oh! Que maravilha! Oh! Que... Que droga é aquilo? Parece a lancha daqueles bandidos! Como a alegria dura pouco!
      - Omar! Omar!
      - O que foi!
      - Olha lá pra baixo! Vê se você reconhece aquela lancha!
      - Cara! Parece a lancha daqueles bandidos! Meu irmão sobe rápido! Vamos sair fora daqui! A gente está correndo o risco de cair na boca do lobo!
    - Deixa comigo. Fica tranquilo. Vamos continuar a descer, mas vamos pousar bem mais a frente.
   - É arriscado. Não facilita.
   - Omar. Omar. Já estamos passando sobre a cabeça deles. Com certeza não nos viram.
   - Como você tem certeza?
   - Se não já tinham atirado na gente. Vamos pousar depois daquele pontal. Pousamos tranquilamente e depois a gente some no mundo.
   - Se eles nos virem?  Virão com tudo em cima da gente!
    - São uns filhos da puta! Se eu tivesse uma bomba aqui, acabava com todos eles! Não ia deixar barato não!
    - Hei! Equilibra essa droga aí! Assim a gente vai cair! O que é que você está fazendo?
    - Não estou fazendo nada! Omar! Estamos frito!
    - Cara! Dá o seu jeito! Equilibra essa droga!
    - Ela não está me obedecendo mais! E eu não sei o que fazer! Estamos descendo muito rápido! Acho que vamos cair! Vamos cair! Meu Deus!
               Estou debaixo d’água. Estou morrendo. Estou morrendo.
     - Hei! Quem são vocês? Quem é você? Onde eu estou?
     - Quem eu sou? Olha bem pra mim! O que é que você acha?
     - Eu... Não consigo pensar direito. Estava debaixo d’água. Eu me lembro que estava caindo dentro mar.
     - Dentro do mar? Que história é essa?
     - Vocês não me resgataram do mar? Eu caí de asa delta.
     - Hei cara! Você ficou chapadão mesmo! Anita, a dose foi muito forte! Asa delta? Só faltava essa!
     - Quem são vocês?
     - Eu sou o seu irmãozinho querido. E mais velho.
     - Que brincadeira é essa? Irmão? Eu não tenho irmão!
     - Nosso pai nunca falou da gente? Aquele safado deve ter dito que era solteiro. Minha mãe morreu e nunca desconfiou das safadezas dele. Safado! Safado! Safado! Estava sempre viajando. Dizia que era para negócios. E ela acreditava. Sempre negócios. Como era burra, meu Deus!
     - Não estou sabendo de nada! Nem sei o que estou fazendo aqui! E que papo é esse de nosso pai!
     - Deixa de ser cara de pau! Você é muito engraçado! Não sabe o que veio fazer aqui?
     - Essa mulher aí... Estou me lembrando dela. Lá do bar, não é? Bebi um copo de cerveja com ela.
     - É minha mulher. Anita, ele é seu cunhado! Ou era! Vamos ver se ele é esperto?
     - Não estou entendendo o que vocês querem comigo.
     - Irmãozinho. Você vai entender já, já. A sua saúde, só vai depender de você mesmo. Anita me passa aqueles documentos. Isso. Irmãozinho é só assinar estes papéis e vai ficar tudo tranquilo! Você vai pegar o seu carrinho e voltar para o Rio de Janeiro!
     - Que papéis são esses?
     - Não interessa! Assina e pronto! Aí fica tudo resolvido!
     - Eu não assino nada sem ver o que estou assinando. Simplesmente não vou assinar.
     - Patrãozinho! Deixa que eu faço ele assinar rapidinho!
     - Não Camilo. Sabe que não gosto de violência. Meu irmãozinho vai assinar por livre e espontânea vontade. Não é irmãozinho?
     - Não estou entendendo o que você quer comigo. A minha cabeça está uma confusão só. Eu não estou bem. Estou me sentindo meio atordoado. Vocês devem fazer parte da gang que estava querendo me matar.
- Que gang é essa? Você não está bem mesmo. Como eu poderia matar você? Você é meu irmão. Querendo ou não, você é meu irmão. Não consigo tirar a vida de alguém que tenha o meu sangue. Isso deve ser um desvio do meu caráter. E é sorte sua. Sou um cara sentimental.
    - Então você não vai me matar?
    - Irmãozinho, é claro que não. É tudo bem simples. Basta você assinar os documentos e acaba tudo por aqui. Eu vou pra fazenda e você volta para o Rio de Janeiro. Certo?
    - Mas que documentos são esses?
    - Está difícil, hein! Você não sabe mesmo? Não? Então... Você não se lembra o que veio fazer aqui na  Bahia?
  - Não. Não me lembro.
  -Não se recorda de nada, de nada? Nem do nosso pai?
  - Nosso pai? Eu me lembro do meu pai. Nem sabia que tinha irmão.
  - Você está de sacanagem comigo. Não é? Anita, a dose foi forte. Eu te falei pra pegar leve. Foi por isso que ele custou tanto a acordar. Pelo jeito, o irmãozinho nem sabe que papai morreu.
  - O seu pai morreu?
  - O nosso pai. Já faz tempo e você nem veio para o funeral. Filho desnaturado, você é!
  - Eu não sou filho desnaturado! Meu pai morreu mesmo?
  - Porra cara! Eu já disse! Nosso pai morreu!
  - Mas eu nem soube. Quanto tempo faz?
  - Dois meses. Você não sabia, mas veio buscar a herança, né?
  - Herança? Que herança? Eu nunca liguei pra herança! Eu nunca soube que o meu pai tivesse alguma coisa. Vivíamos sempre apertados de grana. Estávamos sempre duros.
  - Isso é história sua. Vou acabar ficando emocionado. Camilo. Coloca-o sentado naquela cadeira. Limpa bem a mesa, pra não sujar os documentos.
 - Deixa comigo, coroné!
 - Camilo! Já te disse pra não me chamar de coroné! Isso é coisa do passado! Isso é pro pessoal antigo!
 - Tá certo, patrão!
 - Teozinho. Acaba logo com isso. 
 - Calma Anita. Deixa eu conversar mais um pouquinho com ele. Você deve estar se perguntando o porquê d’eu estar tão paciente, com ele, não é?  Acho que é o meu lado sentimental. É isso. Eu não sabia que tinha um irmão. Fico até emocionado.  Viu irmãozinho, como estou sendo paciente com você? Vamos lá, Hermes! Não é esse o seu nome?
- É. E pelo jeito você está cansado de saber. Ela também está querendo me matar?
- Anita? Não! Ela não mata nem mosca! Pode ficar tranquilo. Eu acabei me esquecendo de me apresentar. Eu tenho certeza que você nunca mais vai me esquecer. José Teobaldo, esse é o meu nome. Mas todo mundo me conhece como Teozinho. Mas vamos deixar de papo! Vamos agora pra parte mais importante: assinar a papelada... Eu sabia que tinha um irmãozinho generoso. Um irmãozinho com total desprendimento dos bens terrenos. Viu Anita! Ele está desistindo da sua herança, em prol do seu querido irmão!
- Teozinho! O carioca é gente boa! Alivia!
- Não estou te entendendo!  Eu soube que você levantou as asas pra ele!
- Que levantei as asas o quê! Eu quase matei o cara! Isso sim! Eu só fiz o que você mandou!
- Eu vi patrão. Ela trabalhou direitinho. Fez tudo como o sinhô disse.
- Eu sei Camilo. Ela é fiel. Mas também, se não for, eu corto o pescoço dela!
- Ih! Teozinho! Quando você fala essas coisas, eu fico toda arrepiada! Cruz credo!
- Camilo, ela ficou com medo. Meu amor, depois a gente conversa. Vamos lá, irmãozinho. Sem mais papo. Está bem confortável?
- Quem fica confortável perto de um maluco?
- Cuidado com a língua! Assina logo isso aí!
- E se eu não assinar? Você não vai me matar, não é? Você disse que não tira a vida de quem tem o seu sangue!
- Se você não assinar? Claro que não vou te matar! Falei isso sim! Respirou aliviado, hein! De jeito nenhum vou te matar, mas... mas o Camilo faz o serviço. O seu sumiço vai ser excelente. Aí serei o único herdeiro. Fácil, fácil!
- Aí é que você se engana! Tem a minha mãe!
- A sua mãe? Camilo ele não sabe o que aconteceu.
- O que houve com a minha mãe?
- Coitada. Vazamento de gás. Isso... Não foi Camilo?
- Vocês mataram a minha mãe! Não acredito!
- Não! Não! Camilo ia até dar um susto nela, mas quando lá chegou, já tinha acontecido o acontecido! Foi acidente mesmo!
- Filhos da puta! Eu vou me vingar de vocês! Podem ter certeza disso! Eu vou atrás de vocês! Até no inferno eu vou!
- Irmãozinho, fica calmo. Eu sei que não sou santo. Isso eu não sou mesmo. Podia até dar um susto nela, mas tirar a vida dela não. Porque ela era a mãe do meu irmão. Mas o destino acabou conspirando ao meu favor. Acho que Deus se encarregou de fazer o serviço pra me beneficiar.
- Vocês não podiam fazer isso! Não acredito em acidente! Vocês mataram a minha mãe! Irmãozinho! Vou te perseguir para o resto da vida!
 - Agora você confirmou que é sangue do meu sangue! Gostei disso! Mas vou te dar um conselho: não perde o seu o tempo à toa! Você nunca vai chegar perto de mim! Meu pessoal vai cuidar de você! Hoje foi a primeira e última vez que você me viu. Sabe de uma coisa: eu podia dar ordem para acabarem com você. Mas agora eu vou topar esse desafio. Gostei da sua atitude. Irmãozinho. Se nós fossemos filhos da mesma mãe, íamos ser unha e carne. Vamos logo! Assina essa droga! Antes que eu mude de ideia!
- Não precisa apertar o meu pescoço, cara! Vou assinar essa droga! Não sou ambicioso mesmo!
- Agora você está mostrando também que é inteligente!
            Droga! Até que a menina podia chegar aqui!
- O que é que você está resmungando?
- Estou só assinando. Pronto! Faça bom proveito!
- E muito! Eu já era poderoso! Agora sou o mais poderoso daqui! Vamos pessoal! Deixa essa mala aí! Camilo, deixa a chave do carro. O tanque está cheio?
- Está sim, patrãozinho!
- Ótimo. Vamos embora. Até nunca mais, irmãozinho!
- Escuta só: vou me vingar de você. Me aguarde. Vou no seu calcanhar.
- Estou te esperando. Não demora muito, tá bom?
- Filho da mãe!
          Que droga! E a menina que não apareceu! Ela disse... Olha ela lá! Por que não veio pra me ajudar? Hei! Hei! Vem cá! Vem cá! Ela está chorando. Começou a falar alguma coisa, mas não consigo entender. Ih! Está sumindo! Virou fumaça!
- Irmãozinho! Eu vou acabar com você! Vou te procurar, até no inferno! Me aguarde! Me aguarde!

                                                                                    Fim                                 









2 comentários:

  1. Valeu ler cada parte, curti muito. Espero que já tenha outra estória para que eu possa acompanhar...kkkk

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    1. Agradeço por acompanhar o meu trabalho. É bom saber que tem sempre alguém gostando dos meus textos. Novas publicações virão em breve. Abraços.

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