terça-feira, 30 de abril de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 01

 

                                          


                                  UMA LUZ E NADA MAIS

                                          -  José Timotheo -

           Abri os olhos. Uma luz amarelada tomava conta do ambiente. Não atinei onde estava. Tudo se apresentava turvo. As imagens não estavam identificáveis. Pisquei várias vezes achando que a minha visão fosse melhorar, mas tudo continuou do mesmo jeito. Tentei levantar um braço, queria esfregar os olhos com os dedos, entretanto o movimento não aconteceu. Alguma coisa segurava o meu braço. Repeti o movimento com o outro braço e foi a mesma coisa. Lembrei-me das pernas e também fui fadado ao fracasso. A força que fiz foi em vão. A minha mente estava confusa. Os pensamentos não vinham claros. Apertei os olhos.

            Uma luz forte estava a alguns centímetros do meu rosto. Agora a luz era branca. O foco era gigante.  Não era o sol, com certeza. Era uma luminosidade fria. Pisquei os olhos várias vezes, mas aquilo não estava me incomodando. Percebi uma sombra se aproximando, até que um dos meus olhos ficou tapado. Depois o outro também mergulhou na escuridão. O que estava acontecendo? Não sei dizer.

            Ouvi algumas vozes. Uma voz feminina se sobressaiu entre algumas masculinas. Não vi ninguém, apenas um zum, zum, zum chegava até a mim. Tentei identificar quantos falavam. Naquele momento pareceu-me que três pessoas conversavam: dois homens e uma mulher. Mesmo não sabendo do que se tratava, não me senti tenso. Torci para que se aproximassem, mas foram se afastando, até eu ouvir a porta bater.

            Agora era o silêncio. Só me restava  fechar os olhos e voltar a dormi. Mas de repente uma imagem invadiu a minha cabeça: eu chegava ao portão da garagem da minha casa. Acho que era, porque tive a sensação que já estivera ali várias vezes. Depois disso, mais nada. O silêncio voltou e eu devo ter dormido, porque abri os olhos novamente, quando uma mão pousou no meu braço. A visão dessa vez não estava embaçada, enxerguei tudo claramente. E a pessoa que pousara a mão em mim, era uma jovem de uma beleza angelical. Pensei na hora: morri e cheguei no céu. Menos pior, porque nunca pensara que um dia conheceria o paraíso tão propalado pelas religiões. Eu tinha certeza que estava mais para o inferno do que para o céu, mas senti um alívio ao descobrir que não fora uma pessoa tão ruim assim. Quem seria essa santa? Nossa Senhora? Ela sorriu para mim. A dentição era de uma alvura, igual a roupa que vestia.

               Tentei levantar um dos braços, para me beliscar, mas continuei sem movimento. Queria me beliscar para saber se estava sonhando. Ela percebeu a minha tentativa e bateu levemente no meu braço. Depois falou, quase sussurrando: - Fique calmo. Depois os seus braços ficarão soltos. Você finalmente voltou. O primeiro sinal foi há dois dias.

             Quando pensei em falar alguma coisa, ela girou nos calcanhares e sumiu rapidamente. Tentei virar a cabeça, mas não consegui. Como os braços e pernas, a cabeça estava presa. Eu só conseguia ver o que estava no teto.  Preso do jeito que estava, mesmo assim me mantive calmo. Suspeitei que estivesse sob o efeito de tranquilizantes. Era bem provável. Quando ficaria calmo, amarrado dos pés à cabeça? Com certeza já estaria entrando em desespero. Berrando para Deus e o mundo.

            Arrisquei conversar comigo em voz alta. Qual não foi a minha surpresa: não saiu nenhum som. Tive a sensação que uma bola entupia a minha garganta. Aí fiquei um pouco tenso. Respirei profundamente algumas vezes até os batimentos cardíacos voltarem ao normal.

            Nesse momento via perfeitamente. O pouco que alcançava com o meu olhar, deduzi que se tratava de um quarto de hospital. UTI não era, porque não via equipamento nenhum desse setor. Não estava com máscara de oxigênio e nem tinha fios presos ao meu corpo, monitorando o meu coração. O que estava fazendo ali? Pensei. Depois tentei falar, mas saiu um som arranhado, ininteligível. Percebi que, mesmo não saindo um som claro, não precisava me desesperar, já que fora a segunda tentativa de falar. Da primeira para a segunda, foi um curto espaço de tempo. Será? Bateu uma dúvida. Não me recordo se dormi novamente. Mas não vou me preocupar com isso, o importante é que a esperança é mais forte do que a dúvida.

              Devia estar ali há algum tempo sem usar as minhas cordas vocais. Talvez alguns meses. Ou até um ano. Ia precisar de algum exercício para voltar a falar claramente. Não tenho certeza se isso realmente acontece, mas foi o pensamento que me veio à cabeça. Só o médico para dar o seu diagnóstico. Vou esperar... deve ter sido algum trauma, causado por   algum acidente. Mas que acidente foi esse que não me recordo? A única lembrança que tenho é a minha chegada ao portão de garagem da minha casa. Da minha casa? Não tenho certeza se aquela casa era minha. Quem estava dentro dela? 

...Continua Semana que Vem!

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